No nosso dia-a-dia, vivemos o presente. A nossa mente tem 24 horas de duração, e amanhã esqueceremos o que aconteceu ontem. E aos poucos, apagamos o passado da nossa memória, e as nossas mentalidades, à medida que as gerações se renovam, modificam-se. Por um lado, é bom. Sangue novo, novas mentes, novas ideias, fazem avançar o mundo. Quem gostaria de viver na Idade Média, por exemplo? Mas também tem um lado mau. Esquecer o passado e as suas dificuldades tendem a dar aos mais novos uma ideia de facilitismo. E associado à arrogância juvenil, tratar os mais velhos como "lixo" demonstra uma falta de memória.
Digo tudo isto depois de ler as declarações de Peter Sauber após o GP da Coreia. O fundador da Sauber, agora com 65 anos e a gozar a reforma, depois de assegurar o seu futuro após a saída de cena da BMW, no final de 2009, criticou as atitudes dos mecânicos da McLaren e da Ferrari quando viram o motor da Red Bull de Sebastien Vettel explodir na recta da meta. "Foram cenas que não me agradaram nada! É muito anti desportivo festejar acidentes dos adversários.", referiu.
Podem-se justificar as atitudes dos mecânicos como as tipicas reacções de alguém "no calor da corrida", mas concordo com o Peter Sauber. Comemorar as desgraças dos outros como se fosse um simples resultado de futebol demonstra esquecimento do que foi o passado do automobilismo. Pessoalmente, não gosto muito de ver, por exemplo, os comentários do António Lobato e outros quando vê os adversários do Fernando Alonso na gravilha. Ou o Galvão Bueno, não é? Para além de ser parcial, demonstra que as pessoas que estão à frente dos canais de TV só querem "entertainers" em vez de jornalistas a comentar Grandes Prémios, numa tendência para "brutalizar" aqueles que vêm as corridas a cada Domingo. Nesse aspecto, como não desejo ficar bronco, prefiro ver a BBC.
Mas este presente, onde se esquece do que foi o passado, ou se preferirem, esta "falta de respeito" demonstra que precisamos de apenas quinze ou vinte anos para vermos uma realidade totalmente diferente. Não falo só das equipas "nanicas", dos artesãos que construíam carros que eram oito segundos mais lentos que o "poleman", nem falo do facto de não haver mortes há desasseis anos. Falo da história de que o automobilismo é um desporto perigoso, potencialmente mortal. Logo, não pode ser considerado como se fosse o futebol ou basquetebol. As centenas de acidentes mortais que aconteceram ao longo da história impõem um certo respeito que as pessoas que trabalham lá dentro deveriam ter. Iriam comemorar se um piloto partisse o pescoço? Não acredito...
Em suma, esta atitude é um sinal dos tempos que correm, ou se preferirem, é uma consequência perversa da segurança nos carros e nos pilotos: como já não morre ninguém, podemos ver a Formula 1 como se fosse um jogo de futebol. Só esperemos que o passado não regresse às nossas visões e às nossas TV's de forma brusca, como costuma fazer, sem qualquer tipo de aviso.
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