O meu entrevistado de hoje não é um qualquer: este é um peso-pesado, cujas opiniões, histórias e “estórias”, contam grandemente para engrandecer a nossa blogosfera automobilistica. Considero-o um dos três grandes, a par do Ivan Capelli e do Flávio Gomes. Portanto, o meu convidado de hoje, ao qual tenho a honra de o apresentar, é Luiz Alberto Pandini, do blog PandiniGP(http://www.pandinigp.blogspot.com/).
Começou a gostar de corridas aos dez anos de idade, e tornou-se jornalista profissional aos 20, começando como repórter de automobilismo. Primeiro nos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde e depois como editor da revista Grid. Após isso, trabalhou noutras publicações de automóveis até abrir em 1997 sua própria editora, a LetraDelta, pela qual edita jornais e revistas para empresas de diversos segmentos. Desde 2000, um de seus clientes é a Stuttgart Sportcar, o importador oficial da marca Porsche no Brasil.
Pandini (na foto de cima é o homem com o capacete na mão) não é o único blogueiro da família: sua mulher, Alessandra Alves (que conheceu durante a cobertura de uma corrida de Supercross em Curitiba − ele como repórter do “Jornal da Tarde”, ela pela “Folha de S. Paulo”), escreve sobre diversos assuntos (inclusive, é claro, corridas) no seu blog (http://www.alessandraalves.blogspot.com/). E o filho do casal, Gabriel, de 8 anos (provavelmente o mais novo blogueiro em lingua portuguesa), igualmente apaixonado por corridas, regista as suas impressões no http://www.sacodebatatas.blogspot.com/.
Pandini (na foto de cima é o homem com o capacete na mão) não é o único blogueiro da família: sua mulher, Alessandra Alves (que conheceu durante a cobertura de uma corrida de Supercross em Curitiba − ele como repórter do “Jornal da Tarde”, ela pela “Folha de S. Paulo”), escreve sobre diversos assuntos (inclusive, é claro, corridas) no seu blog (http://www.alessandraalves.blogspot.com/). E o filho do casal, Gabriel, de 8 anos (provavelmente o mais novo blogueiro em lingua portuguesa), igualmente apaixonado por corridas, regista as suas impressões no http://www.sacodebatatas.blogspot.com/.
Ao longo de sua carreira, Luiz Alberto Pandini cobriu GP's de Fórmula 1 em vários países, duas 500 Milhas de Indianapolis, o Grande Prémio do Brasil em MotoGP de 1992, realizado em Interlagos, e inúmeras corridas em diversas categorias. Contudo, confessa que ainda tem um sonho para realizar: as 24 Horas de Le Mans. “Nunca estive lá. Ainda vou colocar essa prova no meu currículo”, assegura. E eu também espero...
1 – Olá, é um prazer ter-te aqui, neste humilde blog, a responder às minhas perguntas. Queres explicar, em poucas linhas, como surgiu a ideia do teu blogue?
O prazer é meu, Speeder! Eu registrei o blog muito antes de colocar o primeiro post e anunciá-lo aos amigos. Ficou meses parado, simplesmente porque eu não tinha idéia do que fazer com ele e, também, por uma certa preguiça de aprender a manipulá-lo... Também me faltava o hábito de ler blogs. Os primeiros que comecei a freqüentar foram os do Pedro Alexandre Sanches (um dos melhores jornalistas brasileiros na área cultural), da Alessandra Alves e do Flavio Gomes. Cada um me deu uma inspiração e, em poucas semanas como leitor deles, resolvi finalmente “dar vida” ao PandiniGP. No do Pedro, além dos ótimos textos, me encantou a interação que ele tem com um público de alto nível. O do Flavio me deu a idéia de colocar na rede muitas coisas legais que eu tinha guardadas e que eu teria poucas possibilidades de dividir com o público de outra forma. E o incentivo da Alessandra foi, digamos assim, “familiar”. Ela registrou o blog dela depois do meu, mas colocou em funcionamento antes e vi muito de perto como a coisa funcionava. No dia 2 de fevereiro de 2006, publiquei os primeiros posts do PandiniGP. Já nesse dia, estava no ar o cabeçalho que até hoje explica a razão de ser do blog: “Automobilismo, motociclismo, música, política, cinema, história... Este é um espaço para compartilhar idéias, opiniões, imagens, sonhos e loucuras. Divirta-se!”
2 – O nome que ele tem, foi planejado ou saiu, pura e simplesmente, da tua cabeça?
Saiu da minha cabeça há muitos anos: meu e-mail do Yahoo é “pandinigp” desde 2000. Tentei usar só “pandini”, mas alguém já havia registrado. Acrescentei o “GP” unicamente por ser a sigla de “Grand Prix”. Batizar o blog de “PandiniGP” foi absolutamente natural.
3 – Antes de começares este blog, já tinhas tido alguma participação em outros blogues ou sites?
Sim. Em 2001, eu e E. Correa criamos o GPtotal, um site devotado principalmente a opinião e história do automobilismo. Acertei uma parceria com o site Grande Prêmio, do Flavio Gomes, e com isso a audiência do GPtotal aumentou bastante. Durante uns quatro anos, participei ativamente do dia-a-dia do site editando as mensagens, escrevendo colunas e especiais, selecionando fotos, respondendo aos leitores. Mas chegou um ponto em que ele exigia uma dedicação que eu não queria nem tinha mais condições de dar. Diminuí minha participação até cessá-la de vez. Hoje fico só com o PandiniGP, que eu faço como e quando quero...
4 – Em que dia é que começaste, e quantas visitas é que já teve até agora?
Os primeiros posts, como escrevi acima, foram ao ar no dia 2 de fevereiro de 2006. E a resposta à segunda parte da pergunta vai parecer esquisita: não tenho idéia! Desde o começo, decidi simplesmente não pensar em número de visitantes, anunciantes, atualização diária, nada disso. Essas preocupações eram recorrentes no GPtotal e, em certo momento, elas acabaram com meu prazer de escrever no site. Eu não quis que acontecesse a mesma coisa com o PandiniGP. Não ganho nem um centavo com o blog, mas me divirto bastante com ele.
5 – De todos os posts que já escreveste, lembras-te de algum que te orgulhe… ou não?
É difícil responder. Já escrevi mais de 600 posts. Gosto muito das “Moscas Blancas”, que acabaram se tornando a atração principal do blog, e da seção “Vamos falar de mulheres (com todo o respeito)”, que criei como contraponto para o excesso de graxa, fumaça e testosterona. Outros posts que me agradaram foram alguns que escrevi sobre música e política. Desses, um que acho legal é o do Ranieri Mazzilli, o “presidente Modess”, que publiquei em maio de 2007. Também fiquei satisfeito com os poucos que escrevi com memórias da minha infância e adolescência. Tenho agora uma nova seção que promete muito: “Momento F1 Nostalgia”, uma contribuição valiosa do nosso amigo em comum, Rianov Albinov.
6 – Em que é que tu, escrevendo sobre Formula 1, consegues ser diferente dos outros blogs?
Nunca parei para pensar nisso... Acho que o fato de ter vivência longa no automobilismo e cobrir alguns GPs (onze, mais precisamente, além de outros quatro aos quais compareci profissionalmente por causa do Porsche Cup Brasil) me deu (ainda dá) oportunidades que outros donos de blogues não tiveram. Procuro dividir essas vivências e meu material de arquivo com os leitores. O PandiniGP tem um viés jornalístico, até por força da minha profissão, mas antes de tudo é pessoal e exprime minha opinião, mesmo que para isso eu tenha que “remar contra a maré”. Talvez sejam esses os maiores atrativos do PandiniGP... Sinceramente, precisaria elaborar melhor a resposta.
7 – Daqueles blogues que conheces sobre automobilismo, qual(is) dele(s) é que tu nunca dispensas uma visita diária?
A resposta completa a essa pergunta está no meu blogroll! Falando sério: por pura falta de tempo, não há nenhum blogue que eu leia diariamente. Minha “ronda” pelo blogroll dura dois ou três dias, ao longo dos quais vou atualizando minha leitura de cada blogue.
8 – Falamos agora de Formula 1. Ainda te lembras da primeira corrida que assististe?
Tive várias “primeiras”... Eu sempre gostei de carros, mas despertei para o automobilismo esportivo vendo o acidente que matou Ronnie Peterson na largada do GP da Itália de 1978. Dessa corrida, só vi o acidente, porque depois fomos para a praia. O primeiro GP completo que vi na TV foi o da Argentina de 1979. Duas semanas depois, no dia 3 de Fevereiro, pisei em Interlagos pela primeira vez na vida para assistir aos treinos de sábado do GP do Brasil, e no dia seguinte fui ver a corrida. Foi a única dobradinha da Ligier na Fórmula 1, com Jacques Laffite em primeiro e Patrick Depailler em segundo. Eu estava na arquibancada da subida dos boxes e até hoje tenho na memória a lembrança de cada piloto passando na minha frente. Isso inclui Hector Rebaque e Arturo Merzario, que não se classificaram para a largada.
9 – E qual foi aquela que mais te marcou?
Esta também é uma resposta difícil. Foram muitas... Das que vi pela TV, gostei muito dos GPs de Long Beach, Bélgica, França e Holanda de 1979; Argentina, Brasil, Espanha e Holanda de 1980; África do Sul, San Marino, Mônaco, Espanha, Alemanha, Canadá e Las Vegas 1981; Brasil 1982... Olha, a lista é muito longa. A resposta fica mais fácil se considerar apenas aquelas às quais compareci ao vivo e em missão profissional: Brasil 1991, meu primeiro como jornalista, e Europa 1993, em Donington, minha primeira cobertura de F1 fora do Brasil. Esta, ainda por cima, foi uma corrida histórica, muito emocionante, por causa dos desempenhos de Senna e Barrichello.
10 – Fittipaldi, Piquet e Senna. Qual dos três é aquele que mais agrada, e porquê?
Piquet. Era ele quem estava despontando quando “descobri” o automobilismo. Piquet já fez muitas malcriações e falou bobagens, mas quem o conheceu de perto sabe que é um cara “do bem”. Ele não tem medo de dizer o que pensa, mesmo correndo risco de errar, e essa é uma qualidade que admiro em qualquer pessoa. Meus contatos profissionais com ele foram poucos mas proveitosos, sempre foi atencioso comigo. Tenho um profundo respeito pelo Emerson, mas infelizmente não acompanhei o auge da sua carreira na F1. Entre 1979 e 1980, torci muito para ele vencer uma corrida pela equipe Fittipaldi. Foi uma pena que não tenha acontecido.
11 – E achas que algum dia, Felipe Massa vai fazer parte deste trio de campeões?
Durante muito tempo, achei que não. Hoje, acho que ele tem condições de fazer. Se vai acontecer, não sei...
12 – Comparando-o aos três pilotos acima referidos, Massa é mais parecido com quem, e porquê?
Nenhum dos três. Massa tem o jeito dele, tanto guiando quanto fora da pista. Em 2008, houve duas ocasiões em que sua atitude me surpreendeu agradavelmente: depois do GP da Alemanha, quando saudou efusivamente o segundo lugar do Nelsinho, e depois do GP do Brasil, em que ele deixou de ser campeão da maneira que todos nós vimos. O incentivo dele ao Nelsinho lembrou muito a atitude do Emerson por ocasião da vitória do José Carlos Pace em 1975 e da primeira do Piquet em 1980.
13 – Achas que o título de 2008 foi bem entregue?
Sem dúvida! Hamilton é um excelente piloto e merecia o título tanto quanto Massa. Infelizmente, só um podia ser campeão.
14 – Tirando os brasileiros, qual é para ti o piloto mais marcante da história da Formula 1, e por quê?
Objetivamente, eu teria que responder Fangio e Schumacher, os dois maiores campeões da modalidade. Mas Gilles Villeneuve me marcou demais. Depois de Piquet, era o piloto que eu mais gostava. Torcia muito por ele, adorava vê-lo correndo, e chorei quando soube da gravidade do acidente que o matou. Em 1982, a TV brasileira ainda não transmitia o treino de sábado: era preciso esperar o programa de esportes, na hora do almoço, ou o telejornal da noite para saber quem largaria na pole e os resultados dos brasileiros. Fiquei sabendo do acidente no final da manhã, depois de voltar da praia, e até aquele momento Gilles estava “clinicamente morto”, uma expressão que eu nunca havia ouvido. Só no final da tarde a TV deu um boletim extraordinário e mostrou o acidente, junto com a notícia de que ele havia morrido. Foi meu pior dia como amante de corridas. Até hoje me emociono quando lembro disso.
15 – Para além de Formula 1, que outras modalidades de automobilismo que tu mais gostas de ver?
Durante muito tempo, eu tentei acompanhar absolutamente tudo o que aparecia na minha frente, desde a F1 até o motocross, dos campeonatos mais importantes aos mais obscuros. Consegui até o final de 1995, quando a revista Grid fechou e eu passei a trabalhar em outras áreas do jornalismo. Hoje, mantenho atenção maior sobre a F1, a MotoGP, o Mundial de Rali e algumas corridas de endurance – além, é claro, do Porsche GT3 Cup Challenge Brasil, para o qual trabalho profissionalmente. Na medida do possível, procuro me manter informado sobre todas as categorias, pelo menos saber quem venceu as corridas e quem lidera os campeonatos.
16 – E achas que vale a pena falar sobre elas no teu blogue?
Sim! Meu blog não é apenas sobre F1. Além disso, alguns blogueiros, entre os quais orgulhosamente me incluo, estão resgatando a história do automobilismo interno brasileiro. Tem muita coisa bacana para ser contada além da F1.
17 – E miniaturas de carrinhos, tens algum?
Tenho várias, mas não sou um colecionador de miniaturas. Em termos de coleções sobre automobilismo, meu foco está em livros e revistas. Juntando tudo, deve dar uns 5.000 volumes, sem contar o material sobre outros assuntos. Ocupa um espaço enorme, dá uma trabalheira para manter arrumado, mas são indispensáveis para meu trabalho. E são úteis para o blog também...
18 – Passando para a actualidade: de repente, a Honda anuncia a sua retirada da Formula 1. Como sentiste isso?
Foi muito conveniente, não é? Repare que, de todas as fábricas que anunciaram retirada de categorias de automobilismo e motociclismo nas últimas semanas, apenas uma (Audi) vinha sendo competitiva. Todas as outras (Honda, Subaru, Kawasaki...) estavam por baixo e aproveitaram o pretexto da crise para bater em retirada. Para a F1, foi um baque que considero merecido. Em sua eterna arrogância, equipes e dirigentes restringiram tanto o acesso à categoria que, ao contrário do que acontecia antes, passaram-se anos sem que houvesse novas equipes se preparando para entrar na F1. Quem sabe sejam menos elitistas e presunçosos daqui para a frente, embora eu não tenha grandes esperanças...
19 – Se Nick Fry e Ross Brawn encontrarem comprador nos próximos tempos, achas que Jenson Button, e especialmente Rubens Barrichello, conseguem manter os seus lugares?
Button teria mais possibilidades que Barrichello. O brasileiro fez em 2008 uma temporada bem melhor que a de Button, mas a comparação das três temporadas que eles fizeram juntos é amplamente favorável ao inglês. Acho Barrichello um excelente piloto, de grande importância para qualquer equipe que queira um bom acertador de carros, rápido e que erra muito pouco. Mas ele foi claramente batido nos dois primeiros anos na Honda, o que certamente não ajudou em sua imagem perante as demais equipes. De qualquer maneira, é preciso ver quais serão os interesses do grupo que ficar com o espólio da Honda, se é que isso vai realmente acontecer.
20 - Max Mosley anunciou agora que fez um acordo com a Cosworth para fornecer motores ás equipas, a dez milhões de euros por ano. A FOTA (Formula One Teams Association) concordou em reduzir os custos. Achas que é este o caminho, uma Formula 1 com custos controlados?
Eu não acredito em “automobilismo com custos controlados”. Nenhuma categoria no mundo consegue isso. Mesmo nas monomarcas, os custos não diminuem, só aumentam, e quem tiver mais dinheiro e souber usá-lo sempre vai ter mais possibilidades de conseguir sucesso. Se os dirigentes cortam os custos de uma área, o dinheiro que uma equipe tiver à disposição certamente será utilizado em outra frente. De 2002 para cá, a FIA baixou várias medidas “para conter custos” e eles só aumentaram. Além disso, com todo o respeito, sr. Mosley et caterva já mostraram não ter qualquer noção do que fazem quando mexem nos regulamentos. Basta ver que em 1998 os pneus slick foram banidos “para proporcionar mais ultrapassagens”. Agora, os slicks estão voltando com o mesmo objetivo... A coerência desse pessoal é zero.
21 - O que achou dos novos carros de 2009?
O mesmo que quase todo mundo: muito feios! Principalmente por causa da desproporção entre as asas dianteira e traseira. Por outro lado, ficaram mais “limpos”, sem tantos apêndices aerodinâmicos. Talvez seja uma questão de costume e logo os acharemos bonitos. Quem acha que as corridas vão ficar “mais emocionantes” corre o risco de se decepcionar. A F1 nunca foi uma categoria onde as ultrapassagens são freqüentes. Quem quer isso deve procurar outras categorias.
22 - “Correr é importante para as pessoas que o fazem bem, porque… é vida. Tudo que fazes antes ou depois, é somente uma longa espera.” Esta frase é dita pelo actor americano Steve McQueen, no filme “Le Mans”. Concordas com o seu significado? Sentes isso na tua pele, quando vês uma corrida, como espectador?
Praticamente tudo o que fiz na minha vida tem alguma referência de corrida. Em alguns casos, isso me faz lembrar precisamente a data em que determinado fato pessoal aconteceu, mesmo os mais longínquos. Além disso, várias das revistas e livros que tenho em casa me trazem à lembrança, com exatidão, tudo o que fiz no dia da compra. E conheci minha mulher durante uma cobertura de corrida. Preciso dizer mais?
A resposta pode dar a impressão de que sou o típico “rato de autódromo”, mas nunca fui. Com raríssimas exceções, só vou a uma pista se estiver trabalhando. Do contrário, prefiro aproveitar o final de semana fazendo outras coisas.
23 – E o sistema de medalhas, proposto pelo Bernie Ecclestone? Achas uma boa ideia ou apenas o mais recente pensamento de um homem já senil?
Tenho um amigo que define perfeitamente o comportamento do Bernie nos últimos anos: “Quanto mais velho, mais bobo”. De todas as declarações que o Bernie deu nos últimos anos, quase nada de útil se aproveita. O pior é que essa das medalhas periga virar realidade! Como você já deve ter percebido, acho esta mais uma das idéias perfeitamente idiotas perpetradas por Bernie, Mosley ou ambos em conjunto...
24 – Já agora, tens alguma experiência automobilística, como karting? Se sim, ficaste a compreender melhor a razão pelo qual eles pegam num carro e andam às voltas num circuito?
Nunca corri em provas oficiais, mas fiz testes com alguns carros de corrida para escrever matérias: Fórmula 3, Fórmula Chevrolet (nome da Fórmula Opel no Brasil), Fiat Uno, Chevrolet Omega da Stock Car brasileira – tudo isso entre 1994 e 1995, quando fui editor da revista Grid. Hoje, disputo um campeonato de karts de aluguel com motores de 13 hp, organizado por e para jornalistas de automobilismo e pomposamente chamado de “Mundial da FIAk – Federação Internacional dos Andadores de Kart”. É uma brincadeira entre amigos, sadia e suficiente para eu satisfazer meus desejos reprimidos de ser piloto! E, antes que você me pergunte sobre resultados, informo que não sou um piloto brilhante... Nesse campeonato, que disputo há uns quatro anos, ganhei apenas uma corrida, e de um modo tão inusitado que foi tema do “La Mosca Blanca” número 102, que foi ao ar em agosto de 2008.
Respondendo à segunda parte da sua pergunta: o ritual de vestir macacão e capacete, de entrar no kart, e as sensações de pilotar, de controlar uma máquina, de descobrir como andar mais rápido, da competição em si... Tudo isso é apaixonante. Nunca participei do desenvolvimento ou do trabalho de acerto de um carro de corridas, nem tenho conhecimento para isso, mas essa parte do automobilismo também deve ser muito envolvente. E quem escreve isto é um “piloto” mequetrefe que corre apenas entre amigos. Imagine o que eu teria a relatar se tivesse algum dia corrido em um campeonato oficial!
25 - Tens algum período da história da Formula 1 que gostarias de ter assistido ao vivo?
Todos! Desde os Grand Prix da década de 30 até a F1 dos anos 70, que conheço apenas pela leitura de revistas e livros e por alguns vídeos. Sou fascinado pela história do automobilismo. Meu período preferido da F1 vai até meados da década de 1980, embora as fases posteriores também tenham aspectos interessantes.
26 - Já alguma vez viste a briga entre o René Arnoux e o Gilles Villeneuve, no GP de França de 1979? Para ti, aquelas voltas finais significam o quê?
Vi várias vezes. Assisti essa briga pela TV na época, no momento em que acontecia! Fiquei vidrado, chapado, passei dias falando daquilo... Mostrou que mesmo uma corrida monótona pode se transformar, de uma hora para outra, em emocionante e histórica. Muita gente manda o vídeo daquelas três voltas (as últimas da corrida) com observações do tipo “Assim era a F1 nos anos 70”. Quase ninguém lembra que as 77 voltas anteriores foram, quase todas, muito chatas... Nisso, a F1 não mudou. É uma característica dela e eu prefiro assim, apesar de muita gente discordar. Emoções “garantidas” como as da Nascar não me atraem.
27 – Jeremy Clarkson, o mítico apresentador do programa de TV britânico “Top Gear”, disse que Gilles Villeneuve foi “o melhor piloto que alguma vez sentou o rabo num carro de Formula 1”. Concordas ou nem por isso?
O mais audacioso e rápido, certamente. “Melhor”, não. Por mais que eu adorasse a pilotagem de Gilles, não podemos esquecer que o objetivo de qualquer piloto (e de sua equipe) é vencer corridas e, por meio delas, o campeonato. Nesse aspecto, Fangio e Schumacher são os reis incontestáveis, embora bem menos espetaculares que Gilles.
28 - Costumas jogar em algum simulador de corridas, como o “Gran Turismo”, o “Formula 1”, ou jogos “online”, como o BATRacer ou o “Grand Prix Legends”?
Parei de jogar há muitos anos. Experimentei o “Grand Prix Legends”, mas só no teclado e aí fica quase impossível jogá-lo. Antes disso, eu jogava muito o “World Circuit F1”, da MicroProse, principalmente a segunda versão. E antes ainda, na minha adolescência, havia em Santos e São Paulo os “fliperamas”, lojas nas quais compravam-se fichas para jogar nas máquinas de pinball e nos simuladores existentes para corridas, batalhas espaciais e outros temas. Vistos hoje, parecem máquinas rudimentares, mas eram sensacionais para a época. Freqüentei bastante esses lugares. Não era exatamente um ambiente sadio: fumava-se muito nesses lugares, havia elementos de índole claramente duvidosa, tinha alguma coisa de submundo naquilo... E, como vários outros rapazes, precisava me controlar para não gastar todo meu dinheiro ali. Era muito fácil ficar tão viciado quanto um jogador de cassino...
29 – Eu sei que começaste há algum tempo, mas… que é que tu alcançaste, em termos de prémios, convites, referências, desde que iniciaste o teu percurso na Blogosfera? Ou nem ligas muito a isso?
Ganhei muitos amigos – alguns eu conheci ao vivo, outras só virtualmente, como é o seu caso. O blog me permite escrever livremente, sem tutela nem prazos. Tudo o que eu queria com ele era me divertir e exprimir meus pensamentos, minhas idéias, até minhas neuras em alguns casos... Saber que tantas outras pessoas gostam de um blog tão pessoal é muito bacana, uma sensação muito boa. Nunca inscrevi o PandiniGP nos prêmios, concursos e eleições de blogs, nem pretendo fazê-lo. Meu “barato” não é esse.
30 – E se fosses o Max Mosley, o que preferias ter na Formula 1? Uma grelha só de montadoras ou de “garagistas”?
O ideal seria uma mistura dos dois, como acontecia no começo da década de 1980, por exemplo. Mas, se eu tivesse que optar entre montadoras ou garagistas, ficaria com os garagistas. Eles têm automobilismo na alma, vivem-no como profissão e por paixão. As grandes fábricas encaram automobilismo apenas como uma ação promocional que pode ser interrompida a qualquer momento por um motivo qualquer.
31 - Que impressão é que ficas do novo Autódromo de Portimão?
Eu gostaria de conhecê-lo pessoalmente, porque todos os relatos, fotos e depoimentos mostram que deve ser sensacional! No começo deste ano, encontrei-me rapidamente com Francisco Santos, jornalista português que morou muito tempo no Brasil e estava passando férias aqui. Ele definiu a pista de Portimão da seguinte maneira: “É um lugar com traçado de pista antiga e estrutura de autódromo novo”. Tomara que isso seja o começo de uma tendência e acabe com os “traçados tilkeanos”.
32 – Vamos falar do futuro próximo: Bruno Senna, Lucas di Grassi, Nelson Piquet Jr. Um já está lá, os outros dois querem lá chegar. Achas que algum dos três tem estofo de campeão? Se sim, qual?
É muito ruim escrever isto, mas neste momento não tenho argumentos para colocar qualquer um deles como “futuro campeão de F1”. Os três são muito bons pilotos, já provaram que podem perfeitamente competir na F1 e fazer bonito, mas não têm um histórico que permita chamá-los de “excepcionais”. Por motivos diversos, acho quase impossível surgir no Brasil outra safra de gênios como Emerson, Piquet e Senna. Se o País mantiver presença entre os vencedores, como aconteceu nos últimos anos com Barrichello e depois com Massa, os brasileiros já terão motivos para ficar satisfeitos.
31 – Tens algum plano para o blogue, no futuro próximo? Novas secções, meteres-te num podcast ou videocast?
Não, nada disso. Para minhas pretensões e possibilidades atuais, o blog está perfeito. Gostaria de escrever mais sobre outros assuntos além de automobilismo e ter mais constância com o “Vamos falar de mulheres...” e outras seções, mas falta tempo. O que pretendo para o futuro é organizar os arquivos, permitindo uma busca rápida por seção ou por assunto. Mas asseguro que isso ainda vai demorar. Então, o que posso garantir é que nos próximos meses o PandiniGP continuará igualzinho ao que é hoje. Espero que esse seja exatamente o desejo da maior parte dos leitores...
O prazer é meu, Speeder! Eu registrei o blog muito antes de colocar o primeiro post e anunciá-lo aos amigos. Ficou meses parado, simplesmente porque eu não tinha idéia do que fazer com ele e, também, por uma certa preguiça de aprender a manipulá-lo... Também me faltava o hábito de ler blogs. Os primeiros que comecei a freqüentar foram os do Pedro Alexandre Sanches (um dos melhores jornalistas brasileiros na área cultural), da Alessandra Alves e do Flavio Gomes. Cada um me deu uma inspiração e, em poucas semanas como leitor deles, resolvi finalmente “dar vida” ao PandiniGP. No do Pedro, além dos ótimos textos, me encantou a interação que ele tem com um público de alto nível. O do Flavio me deu a idéia de colocar na rede muitas coisas legais que eu tinha guardadas e que eu teria poucas possibilidades de dividir com o público de outra forma. E o incentivo da Alessandra foi, digamos assim, “familiar”. Ela registrou o blog dela depois do meu, mas colocou em funcionamento antes e vi muito de perto como a coisa funcionava. No dia 2 de fevereiro de 2006, publiquei os primeiros posts do PandiniGP. Já nesse dia, estava no ar o cabeçalho que até hoje explica a razão de ser do blog: “Automobilismo, motociclismo, música, política, cinema, história... Este é um espaço para compartilhar idéias, opiniões, imagens, sonhos e loucuras. Divirta-se!”
2 – O nome que ele tem, foi planejado ou saiu, pura e simplesmente, da tua cabeça?
Saiu da minha cabeça há muitos anos: meu e-mail do Yahoo é “pandinigp” desde 2000. Tentei usar só “pandini”, mas alguém já havia registrado. Acrescentei o “GP” unicamente por ser a sigla de “Grand Prix”. Batizar o blog de “PandiniGP” foi absolutamente natural.
3 – Antes de começares este blog, já tinhas tido alguma participação em outros blogues ou sites?
Sim. Em 2001, eu e E. Correa criamos o GPtotal, um site devotado principalmente a opinião e história do automobilismo. Acertei uma parceria com o site Grande Prêmio, do Flavio Gomes, e com isso a audiência do GPtotal aumentou bastante. Durante uns quatro anos, participei ativamente do dia-a-dia do site editando as mensagens, escrevendo colunas e especiais, selecionando fotos, respondendo aos leitores. Mas chegou um ponto em que ele exigia uma dedicação que eu não queria nem tinha mais condições de dar. Diminuí minha participação até cessá-la de vez. Hoje fico só com o PandiniGP, que eu faço como e quando quero...
4 – Em que dia é que começaste, e quantas visitas é que já teve até agora?
Os primeiros posts, como escrevi acima, foram ao ar no dia 2 de fevereiro de 2006. E a resposta à segunda parte da pergunta vai parecer esquisita: não tenho idéia! Desde o começo, decidi simplesmente não pensar em número de visitantes, anunciantes, atualização diária, nada disso. Essas preocupações eram recorrentes no GPtotal e, em certo momento, elas acabaram com meu prazer de escrever no site. Eu não quis que acontecesse a mesma coisa com o PandiniGP. Não ganho nem um centavo com o blog, mas me divirto bastante com ele.
5 – De todos os posts que já escreveste, lembras-te de algum que te orgulhe… ou não?
É difícil responder. Já escrevi mais de 600 posts. Gosto muito das “Moscas Blancas”, que acabaram se tornando a atração principal do blog, e da seção “Vamos falar de mulheres (com todo o respeito)”, que criei como contraponto para o excesso de graxa, fumaça e testosterona. Outros posts que me agradaram foram alguns que escrevi sobre música e política. Desses, um que acho legal é o do Ranieri Mazzilli, o “presidente Modess”, que publiquei em maio de 2007. Também fiquei satisfeito com os poucos que escrevi com memórias da minha infância e adolescência. Tenho agora uma nova seção que promete muito: “Momento F1 Nostalgia”, uma contribuição valiosa do nosso amigo em comum, Rianov Albinov.
6 – Em que é que tu, escrevendo sobre Formula 1, consegues ser diferente dos outros blogs?
Nunca parei para pensar nisso... Acho que o fato de ter vivência longa no automobilismo e cobrir alguns GPs (onze, mais precisamente, além de outros quatro aos quais compareci profissionalmente por causa do Porsche Cup Brasil) me deu (ainda dá) oportunidades que outros donos de blogues não tiveram. Procuro dividir essas vivências e meu material de arquivo com os leitores. O PandiniGP tem um viés jornalístico, até por força da minha profissão, mas antes de tudo é pessoal e exprime minha opinião, mesmo que para isso eu tenha que “remar contra a maré”. Talvez sejam esses os maiores atrativos do PandiniGP... Sinceramente, precisaria elaborar melhor a resposta.
7 – Daqueles blogues que conheces sobre automobilismo, qual(is) dele(s) é que tu nunca dispensas uma visita diária?
A resposta completa a essa pergunta está no meu blogroll! Falando sério: por pura falta de tempo, não há nenhum blogue que eu leia diariamente. Minha “ronda” pelo blogroll dura dois ou três dias, ao longo dos quais vou atualizando minha leitura de cada blogue.
8 – Falamos agora de Formula 1. Ainda te lembras da primeira corrida que assististe?
Tive várias “primeiras”... Eu sempre gostei de carros, mas despertei para o automobilismo esportivo vendo o acidente que matou Ronnie Peterson na largada do GP da Itália de 1978. Dessa corrida, só vi o acidente, porque depois fomos para a praia. O primeiro GP completo que vi na TV foi o da Argentina de 1979. Duas semanas depois, no dia 3 de Fevereiro, pisei em Interlagos pela primeira vez na vida para assistir aos treinos de sábado do GP do Brasil, e no dia seguinte fui ver a corrida. Foi a única dobradinha da Ligier na Fórmula 1, com Jacques Laffite em primeiro e Patrick Depailler em segundo. Eu estava na arquibancada da subida dos boxes e até hoje tenho na memória a lembrança de cada piloto passando na minha frente. Isso inclui Hector Rebaque e Arturo Merzario, que não se classificaram para a largada.
9 – E qual foi aquela que mais te marcou?
Esta também é uma resposta difícil. Foram muitas... Das que vi pela TV, gostei muito dos GPs de Long Beach, Bélgica, França e Holanda de 1979; Argentina, Brasil, Espanha e Holanda de 1980; África do Sul, San Marino, Mônaco, Espanha, Alemanha, Canadá e Las Vegas 1981; Brasil 1982... Olha, a lista é muito longa. A resposta fica mais fácil se considerar apenas aquelas às quais compareci ao vivo e em missão profissional: Brasil 1991, meu primeiro como jornalista, e Europa 1993, em Donington, minha primeira cobertura de F1 fora do Brasil. Esta, ainda por cima, foi uma corrida histórica, muito emocionante, por causa dos desempenhos de Senna e Barrichello.
10 – Fittipaldi, Piquet e Senna. Qual dos três é aquele que mais agrada, e porquê?
Piquet. Era ele quem estava despontando quando “descobri” o automobilismo. Piquet já fez muitas malcriações e falou bobagens, mas quem o conheceu de perto sabe que é um cara “do bem”. Ele não tem medo de dizer o que pensa, mesmo correndo risco de errar, e essa é uma qualidade que admiro em qualquer pessoa. Meus contatos profissionais com ele foram poucos mas proveitosos, sempre foi atencioso comigo. Tenho um profundo respeito pelo Emerson, mas infelizmente não acompanhei o auge da sua carreira na F1. Entre 1979 e 1980, torci muito para ele vencer uma corrida pela equipe Fittipaldi. Foi uma pena que não tenha acontecido.
11 – E achas que algum dia, Felipe Massa vai fazer parte deste trio de campeões?
Durante muito tempo, achei que não. Hoje, acho que ele tem condições de fazer. Se vai acontecer, não sei...
12 – Comparando-o aos três pilotos acima referidos, Massa é mais parecido com quem, e porquê?
Nenhum dos três. Massa tem o jeito dele, tanto guiando quanto fora da pista. Em 2008, houve duas ocasiões em que sua atitude me surpreendeu agradavelmente: depois do GP da Alemanha, quando saudou efusivamente o segundo lugar do Nelsinho, e depois do GP do Brasil, em que ele deixou de ser campeão da maneira que todos nós vimos. O incentivo dele ao Nelsinho lembrou muito a atitude do Emerson por ocasião da vitória do José Carlos Pace em 1975 e da primeira do Piquet em 1980.
13 – Achas que o título de 2008 foi bem entregue?
Sem dúvida! Hamilton é um excelente piloto e merecia o título tanto quanto Massa. Infelizmente, só um podia ser campeão.
14 – Tirando os brasileiros, qual é para ti o piloto mais marcante da história da Formula 1, e por quê?
Objetivamente, eu teria que responder Fangio e Schumacher, os dois maiores campeões da modalidade. Mas Gilles Villeneuve me marcou demais. Depois de Piquet, era o piloto que eu mais gostava. Torcia muito por ele, adorava vê-lo correndo, e chorei quando soube da gravidade do acidente que o matou. Em 1982, a TV brasileira ainda não transmitia o treino de sábado: era preciso esperar o programa de esportes, na hora do almoço, ou o telejornal da noite para saber quem largaria na pole e os resultados dos brasileiros. Fiquei sabendo do acidente no final da manhã, depois de voltar da praia, e até aquele momento Gilles estava “clinicamente morto”, uma expressão que eu nunca havia ouvido. Só no final da tarde a TV deu um boletim extraordinário e mostrou o acidente, junto com a notícia de que ele havia morrido. Foi meu pior dia como amante de corridas. Até hoje me emociono quando lembro disso.
15 – Para além de Formula 1, que outras modalidades de automobilismo que tu mais gostas de ver?
Durante muito tempo, eu tentei acompanhar absolutamente tudo o que aparecia na minha frente, desde a F1 até o motocross, dos campeonatos mais importantes aos mais obscuros. Consegui até o final de 1995, quando a revista Grid fechou e eu passei a trabalhar em outras áreas do jornalismo. Hoje, mantenho atenção maior sobre a F1, a MotoGP, o Mundial de Rali e algumas corridas de endurance – além, é claro, do Porsche GT3 Cup Challenge Brasil, para o qual trabalho profissionalmente. Na medida do possível, procuro me manter informado sobre todas as categorias, pelo menos saber quem venceu as corridas e quem lidera os campeonatos.
16 – E achas que vale a pena falar sobre elas no teu blogue?
Sim! Meu blog não é apenas sobre F1. Além disso, alguns blogueiros, entre os quais orgulhosamente me incluo, estão resgatando a história do automobilismo interno brasileiro. Tem muita coisa bacana para ser contada além da F1.
17 – E miniaturas de carrinhos, tens algum?
Tenho várias, mas não sou um colecionador de miniaturas. Em termos de coleções sobre automobilismo, meu foco está em livros e revistas. Juntando tudo, deve dar uns 5.000 volumes, sem contar o material sobre outros assuntos. Ocupa um espaço enorme, dá uma trabalheira para manter arrumado, mas são indispensáveis para meu trabalho. E são úteis para o blog também...
18 – Passando para a actualidade: de repente, a Honda anuncia a sua retirada da Formula 1. Como sentiste isso?
Foi muito conveniente, não é? Repare que, de todas as fábricas que anunciaram retirada de categorias de automobilismo e motociclismo nas últimas semanas, apenas uma (Audi) vinha sendo competitiva. Todas as outras (Honda, Subaru, Kawasaki...) estavam por baixo e aproveitaram o pretexto da crise para bater em retirada. Para a F1, foi um baque que considero merecido. Em sua eterna arrogância, equipes e dirigentes restringiram tanto o acesso à categoria que, ao contrário do que acontecia antes, passaram-se anos sem que houvesse novas equipes se preparando para entrar na F1. Quem sabe sejam menos elitistas e presunçosos daqui para a frente, embora eu não tenha grandes esperanças...
19 – Se Nick Fry e Ross Brawn encontrarem comprador nos próximos tempos, achas que Jenson Button, e especialmente Rubens Barrichello, conseguem manter os seus lugares?
Button teria mais possibilidades que Barrichello. O brasileiro fez em 2008 uma temporada bem melhor que a de Button, mas a comparação das três temporadas que eles fizeram juntos é amplamente favorável ao inglês. Acho Barrichello um excelente piloto, de grande importância para qualquer equipe que queira um bom acertador de carros, rápido e que erra muito pouco. Mas ele foi claramente batido nos dois primeiros anos na Honda, o que certamente não ajudou em sua imagem perante as demais equipes. De qualquer maneira, é preciso ver quais serão os interesses do grupo que ficar com o espólio da Honda, se é que isso vai realmente acontecer.
20 - Max Mosley anunciou agora que fez um acordo com a Cosworth para fornecer motores ás equipas, a dez milhões de euros por ano. A FOTA (Formula One Teams Association) concordou em reduzir os custos. Achas que é este o caminho, uma Formula 1 com custos controlados?
Eu não acredito em “automobilismo com custos controlados”. Nenhuma categoria no mundo consegue isso. Mesmo nas monomarcas, os custos não diminuem, só aumentam, e quem tiver mais dinheiro e souber usá-lo sempre vai ter mais possibilidades de conseguir sucesso. Se os dirigentes cortam os custos de uma área, o dinheiro que uma equipe tiver à disposição certamente será utilizado em outra frente. De 2002 para cá, a FIA baixou várias medidas “para conter custos” e eles só aumentaram. Além disso, com todo o respeito, sr. Mosley et caterva já mostraram não ter qualquer noção do que fazem quando mexem nos regulamentos. Basta ver que em 1998 os pneus slick foram banidos “para proporcionar mais ultrapassagens”. Agora, os slicks estão voltando com o mesmo objetivo... A coerência desse pessoal é zero.
21 - O que achou dos novos carros de 2009?
O mesmo que quase todo mundo: muito feios! Principalmente por causa da desproporção entre as asas dianteira e traseira. Por outro lado, ficaram mais “limpos”, sem tantos apêndices aerodinâmicos. Talvez seja uma questão de costume e logo os acharemos bonitos. Quem acha que as corridas vão ficar “mais emocionantes” corre o risco de se decepcionar. A F1 nunca foi uma categoria onde as ultrapassagens são freqüentes. Quem quer isso deve procurar outras categorias.
22 - “Correr é importante para as pessoas que o fazem bem, porque… é vida. Tudo que fazes antes ou depois, é somente uma longa espera.” Esta frase é dita pelo actor americano Steve McQueen, no filme “Le Mans”. Concordas com o seu significado? Sentes isso na tua pele, quando vês uma corrida, como espectador?
Praticamente tudo o que fiz na minha vida tem alguma referência de corrida. Em alguns casos, isso me faz lembrar precisamente a data em que determinado fato pessoal aconteceu, mesmo os mais longínquos. Além disso, várias das revistas e livros que tenho em casa me trazem à lembrança, com exatidão, tudo o que fiz no dia da compra. E conheci minha mulher durante uma cobertura de corrida. Preciso dizer mais?
A resposta pode dar a impressão de que sou o típico “rato de autódromo”, mas nunca fui. Com raríssimas exceções, só vou a uma pista se estiver trabalhando. Do contrário, prefiro aproveitar o final de semana fazendo outras coisas.
23 – E o sistema de medalhas, proposto pelo Bernie Ecclestone? Achas uma boa ideia ou apenas o mais recente pensamento de um homem já senil?
Tenho um amigo que define perfeitamente o comportamento do Bernie nos últimos anos: “Quanto mais velho, mais bobo”. De todas as declarações que o Bernie deu nos últimos anos, quase nada de útil se aproveita. O pior é que essa das medalhas periga virar realidade! Como você já deve ter percebido, acho esta mais uma das idéias perfeitamente idiotas perpetradas por Bernie, Mosley ou ambos em conjunto...
24 – Já agora, tens alguma experiência automobilística, como karting? Se sim, ficaste a compreender melhor a razão pelo qual eles pegam num carro e andam às voltas num circuito?
Nunca corri em provas oficiais, mas fiz testes com alguns carros de corrida para escrever matérias: Fórmula 3, Fórmula Chevrolet (nome da Fórmula Opel no Brasil), Fiat Uno, Chevrolet Omega da Stock Car brasileira – tudo isso entre 1994 e 1995, quando fui editor da revista Grid. Hoje, disputo um campeonato de karts de aluguel com motores de 13 hp, organizado por e para jornalistas de automobilismo e pomposamente chamado de “Mundial da FIAk – Federação Internacional dos Andadores de Kart”. É uma brincadeira entre amigos, sadia e suficiente para eu satisfazer meus desejos reprimidos de ser piloto! E, antes que você me pergunte sobre resultados, informo que não sou um piloto brilhante... Nesse campeonato, que disputo há uns quatro anos, ganhei apenas uma corrida, e de um modo tão inusitado que foi tema do “La Mosca Blanca” número 102, que foi ao ar em agosto de 2008.
Respondendo à segunda parte da sua pergunta: o ritual de vestir macacão e capacete, de entrar no kart, e as sensações de pilotar, de controlar uma máquina, de descobrir como andar mais rápido, da competição em si... Tudo isso é apaixonante. Nunca participei do desenvolvimento ou do trabalho de acerto de um carro de corridas, nem tenho conhecimento para isso, mas essa parte do automobilismo também deve ser muito envolvente. E quem escreve isto é um “piloto” mequetrefe que corre apenas entre amigos. Imagine o que eu teria a relatar se tivesse algum dia corrido em um campeonato oficial!
25 - Tens algum período da história da Formula 1 que gostarias de ter assistido ao vivo?
Todos! Desde os Grand Prix da década de 30 até a F1 dos anos 70, que conheço apenas pela leitura de revistas e livros e por alguns vídeos. Sou fascinado pela história do automobilismo. Meu período preferido da F1 vai até meados da década de 1980, embora as fases posteriores também tenham aspectos interessantes.
26 - Já alguma vez viste a briga entre o René Arnoux e o Gilles Villeneuve, no GP de França de 1979? Para ti, aquelas voltas finais significam o quê?
Vi várias vezes. Assisti essa briga pela TV na época, no momento em que acontecia! Fiquei vidrado, chapado, passei dias falando daquilo... Mostrou que mesmo uma corrida monótona pode se transformar, de uma hora para outra, em emocionante e histórica. Muita gente manda o vídeo daquelas três voltas (as últimas da corrida) com observações do tipo “Assim era a F1 nos anos 70”. Quase ninguém lembra que as 77 voltas anteriores foram, quase todas, muito chatas... Nisso, a F1 não mudou. É uma característica dela e eu prefiro assim, apesar de muita gente discordar. Emoções “garantidas” como as da Nascar não me atraem.
27 – Jeremy Clarkson, o mítico apresentador do programa de TV britânico “Top Gear”, disse que Gilles Villeneuve foi “o melhor piloto que alguma vez sentou o rabo num carro de Formula 1”. Concordas ou nem por isso?
O mais audacioso e rápido, certamente. “Melhor”, não. Por mais que eu adorasse a pilotagem de Gilles, não podemos esquecer que o objetivo de qualquer piloto (e de sua equipe) é vencer corridas e, por meio delas, o campeonato. Nesse aspecto, Fangio e Schumacher são os reis incontestáveis, embora bem menos espetaculares que Gilles.
28 - Costumas jogar em algum simulador de corridas, como o “Gran Turismo”, o “Formula 1”, ou jogos “online”, como o BATRacer ou o “Grand Prix Legends”?
Parei de jogar há muitos anos. Experimentei o “Grand Prix Legends”, mas só no teclado e aí fica quase impossível jogá-lo. Antes disso, eu jogava muito o “World Circuit F1”, da MicroProse, principalmente a segunda versão. E antes ainda, na minha adolescência, havia em Santos e São Paulo os “fliperamas”, lojas nas quais compravam-se fichas para jogar nas máquinas de pinball e nos simuladores existentes para corridas, batalhas espaciais e outros temas. Vistos hoje, parecem máquinas rudimentares, mas eram sensacionais para a época. Freqüentei bastante esses lugares. Não era exatamente um ambiente sadio: fumava-se muito nesses lugares, havia elementos de índole claramente duvidosa, tinha alguma coisa de submundo naquilo... E, como vários outros rapazes, precisava me controlar para não gastar todo meu dinheiro ali. Era muito fácil ficar tão viciado quanto um jogador de cassino...
29 – Eu sei que começaste há algum tempo, mas… que é que tu alcançaste, em termos de prémios, convites, referências, desde que iniciaste o teu percurso na Blogosfera? Ou nem ligas muito a isso?
Ganhei muitos amigos – alguns eu conheci ao vivo, outras só virtualmente, como é o seu caso. O blog me permite escrever livremente, sem tutela nem prazos. Tudo o que eu queria com ele era me divertir e exprimir meus pensamentos, minhas idéias, até minhas neuras em alguns casos... Saber que tantas outras pessoas gostam de um blog tão pessoal é muito bacana, uma sensação muito boa. Nunca inscrevi o PandiniGP nos prêmios, concursos e eleições de blogs, nem pretendo fazê-lo. Meu “barato” não é esse.
30 – E se fosses o Max Mosley, o que preferias ter na Formula 1? Uma grelha só de montadoras ou de “garagistas”?
O ideal seria uma mistura dos dois, como acontecia no começo da década de 1980, por exemplo. Mas, se eu tivesse que optar entre montadoras ou garagistas, ficaria com os garagistas. Eles têm automobilismo na alma, vivem-no como profissão e por paixão. As grandes fábricas encaram automobilismo apenas como uma ação promocional que pode ser interrompida a qualquer momento por um motivo qualquer.
31 - Que impressão é que ficas do novo Autódromo de Portimão?
Eu gostaria de conhecê-lo pessoalmente, porque todos os relatos, fotos e depoimentos mostram que deve ser sensacional! No começo deste ano, encontrei-me rapidamente com Francisco Santos, jornalista português que morou muito tempo no Brasil e estava passando férias aqui. Ele definiu a pista de Portimão da seguinte maneira: “É um lugar com traçado de pista antiga e estrutura de autódromo novo”. Tomara que isso seja o começo de uma tendência e acabe com os “traçados tilkeanos”.
32 – Vamos falar do futuro próximo: Bruno Senna, Lucas di Grassi, Nelson Piquet Jr. Um já está lá, os outros dois querem lá chegar. Achas que algum dos três tem estofo de campeão? Se sim, qual?
É muito ruim escrever isto, mas neste momento não tenho argumentos para colocar qualquer um deles como “futuro campeão de F1”. Os três são muito bons pilotos, já provaram que podem perfeitamente competir na F1 e fazer bonito, mas não têm um histórico que permita chamá-los de “excepcionais”. Por motivos diversos, acho quase impossível surgir no Brasil outra safra de gênios como Emerson, Piquet e Senna. Se o País mantiver presença entre os vencedores, como aconteceu nos últimos anos com Barrichello e depois com Massa, os brasileiros já terão motivos para ficar satisfeitos.
31 – Tens algum plano para o blogue, no futuro próximo? Novas secções, meteres-te num podcast ou videocast?
Não, nada disso. Para minhas pretensões e possibilidades atuais, o blog está perfeito. Gostaria de escrever mais sobre outros assuntos além de automobilismo e ter mais constância com o “Vamos falar de mulheres...” e outras seções, mas falta tempo. O que pretendo para o futuro é organizar os arquivos, permitindo uma busca rápida por seção ou por assunto. Mas asseguro que isso ainda vai demorar. Então, o que posso garantir é que nos próximos meses o PandiniGP continuará igualzinho ao que é hoje. Espero que esse seja exatamente o desejo da maior parte dos leitores...
Já agora, se quiserem ver as entrevistas anteriores, carreguem nos respectivos links:
19 de Novembro 2008 - Priscilla Bar (Blog Guard Rail)
22 de Novembro 2008 - Marcos Antônio Filho (GP Series)
26 de Novembro 2008 - Vick, Ludy, Tati e Lu (Octeto Racing Team)
29 de Novembro 2008 - Hugo Becker (Motor Home)
3 de Dezembro 2008 - Fabio Andrade (De Olho na Formula 1)
6 de Dezembro 2008 - Rianov Albinov (F1 Nostalgia)
10 de Dezembro 2008 - Jorge Pezzolo (jpezzolo.com)
13 de Dezembro 2008 - Ron Groo (Blog do Groo)
17 de Dezembro 2008 - João Carlos Viana (jcspeedway)
20 de Dezembro 2008 - Felipão (Blogspot Brasil)
3 de Janeiro de 2009 - José António (4 Rodinhas)
7 de Janeiro de 2009 - Germano Caldeira (Blog 4x4)
10 de Janeiro de 2009 - Felipe Maciel (Blog F-1)
14 de Janeiro de 2009 - Daniel Médici (Cadernos do Automobilismo)
17 de Janeiro de 2009 - Thiago Raposo (Café com Formula 1)
21 de Janeiro de 2009 - Orroe (N U R B U R G R I N G)
24 de Janeiro de 2009 - Sávio Machado (SAVIOMACHADO)
28 de Janeiro de 2009 - Javi G. (Zone F1)
31 de Janeiro de 2009 - Gabriel Lima (Speed N'Thrash)
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28 de Janeiro de 2009 - Javi G. (Zone F1)
31 de Janeiro de 2009 - Gabriel Lima (Speed N'Thrash)
4 de Fevereiro de 2009 - Bruno Mantovani (Mantovani.zip.net)
7 de Fevereiro de 2009 - Marcel Marchesi (Marchesi Design)
7 de Fevereiro de 2009 - Marcel Marchesi (Marchesi Design)
11 de Fevereiro de 2009 - A Blogosfera Questiona Speeder (Continental Circus)
Ótima!
ResponderEliminarSem desmerecer ninguem, mas essa foi a melhor entrevista aqui Speeder!
O homem aí é fera mesmo.
E vamos lá, sempre que me sobra um tempinho, mando algumas coisinhas pro Pandini.
Abraços
Rianov
Speeder, obrigadíssimo pela deferência inicial! Fico contente pela consideração que você tem pelo meu trabalho. Pode ter certeza de que a recíproca é verdadeira.
ResponderEliminarUm grande abraço! (LAP)
Incrível essa entrevista com o Pandini... Parabéns aos dois...
ResponderEliminarCultivo em segredo (às vezes nem tanto) uma série de discordâncias com as opiniões do Pandini, e, apesar disso, demos exatamente a mesma resposta para a pergunta número 25!
ResponderEliminarEssas discordâncias, porém, jamais me fizeram duvidar do talento dele como repórter. Mais do que isso, invejo e muito o conhecimento dele em relação ao automobilismo (e pode apostar que também invejo a maior parte de eus 5 mil volumes e livros e revistas... hehe).
Muito Bom!
ResponderEliminarGostei muito da entrevista Speeder.
Quem sabe, sabe.
Cecilia (a véia)