quinta-feira, 23 de setembro de 2021

The End: Nino Vacarella (1933-2021)


Nino Vacarella, um dos melhores pilotos de endurance do seu tempo, morreu hoje aos 88 anos de idade, em Palermo, a sua cidade natal. Ao serviço da Ferrari, venceu as 24 Horas de Le Mans em 1964, ao lado do francês Jean Guichet, venceu as 12 Horas de Sebring em 1970, ao lado de Mário Andretti e Ignazio Giunti, e venceu a Targa Florio por três ocasiões: 1965, 1971 e 1975.

Nascido a 4 de março de 1933, começou a correr no inicio da idade adulta no Fiat 1100 do seu pai, enquanto tomava conta do estabelecimento de ensino da família, o Instituto Oriani, que tinha caído nas suas mãos e os da sua irmã, após a morte prematura do seu pai. Participa primeiro em rampas, mas depois de em 1958, ter corrido num Lancia Aurelia 2500, com sucesso, e no ano seguinte, num Maserati, também com sucesso, o Conde Volpi o convidou para correr na sua equipa, a Scuderia Serenissima, de Veneza. Correndo com Maseratis, começa a dar nas vistas nos grandes eventos de Endurance, especialmente a Targa Florio, o seu "quintal". Em 1960, ao lado do experiente Umberto Magioli, liderou a prova por duas voltas, antes do carro quebrar. Continuou a correr em 1961 ao lado de gente como Ludovico Scarfiotti, Giorgio Scarlatti e Carlo Maria Abate, começando a participar pela primeira vez nas 24 Horas de Le Mans e nas 12 Horas de Sebring, sem resultados relevantes, mas mostrando correr ao lado dos melhores pilotos de então.

E foi também em 1961 que teve a sua estreia na Formula 1, quanto correu no GP de Itália num De Tomaso-Alfa Romeo que a Scuderia Serenissima inscreveu, acabando por não terminar a prova. No ano seguinte, participou em três provas, não se qualificando no Mónaco e conseguindo um nono posto em Monza, num Lotus 24. 

No final de 1962, Vacarella é contratado para correr na Ferrari, ao lado dos britânicos Mike Parkes e John Surtees. A ideia é de correr quer na Formula 1, quer na Endurance, mas é nesta última que consegue os seus maiores feitos. É segundo em Sebring, ao lado de Willy Mairesse e Lorenzo Bandini, mas apenas em 1964 é que consegue o seu primeiro grande feito na Scuderia, ao triunfar nas 24 Horas de Le Mans, no Ferrari 250TR, ao lado do francês Jean Guichet. Voltaria a correr com ele cinco anos depois, num Matra M630, para ser quinto da geral.


Mas por fim, em 1965, triunfou na "sua" Targa Florio, ao lado de Bandini. Dois anos depois, em 1967, eles pareciam ir a caminho de novo triunfo, mas um despiste no seu Ferrari 330 os impediu de continuar devido aos estragos sofridos pelo carro. Já nessa altura, era um ídolo na sua terra natal e era frequente ler inscrições de "Viva Nino" nas paredes à volta do circuito de Madonie.

Em 1970, triunfou em Sebring, ao lado de Mário Andretti e Ignazio Giunti, numa prova onde a corrida foi decidida nos últimas instantes, depois de uma prova de trás para a frente por parte do italo-americano, que conseguiu bater o Porsche 908 dos americanos Pete Revson... e Steve McQueen. Contudo, no final do ano, saiu da Ferrari e rumou para a rival Alfa Romeo, que nesta altura, desenvilvia os T33. Foi terceiro em Sebring, em 1971, antes de nova vitória na "sua" Targa Florio, e em 1972, foi de novo terceiro em Sebring e quarto em Le Mans, ao lado de Andrea de Adamich.

Em 1975, aos 42 anos, Vacarella venceu pela terceira e última vez na Targa Florio, de novo a bordo de um Alfa Romeo T33, ao lado de Arturo Merzário, numa vitória popular numa altura em que correr ali com aqueles carros começava a ser demasiadamente perigoso nas estradas estreitas daquele canto da Sicilia. Pouco depois, pendurou o capacete e se dedicou ao ensino na escola familiar.


Sobre Vacarella, Enzo Ferrari escreveu na sua autobiografia:

"Calmo e sóbrio por fora, você podia sentir que dentro dele queimava o fogo e a paixão de sua terra natal. O percurso do Madonie destacou suas habilidades como piloto de estrada e foi preciso algo especial para ele não vencer ou pelo menos estar entre os líderes."

Até hoje, Vacarella e Guichet eram a dupla mais antiga ainda viva a triunfar nas 24 Horas de Le Mans, durando 57 anos depois de terem triunfado em La Sarthe. E de uma certa maneira, era já um dos últimos representantes de uma geração já distante, heróis dos nossos pais que arriscavam a vida todas as vezes que iam para a estrada, pela adrenalina da ocasião. Ars longa, vita brevis, Nino. 

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