O anuncio de Mark Webber como piloto da Porsche em 2014 era esperado, dada a quantidade de especulações nesse sentido, devido às várias fontes que falavam sobre isso, especialmente após o famoso episódio do "Multi21" no GP da Malásia. Com a idade que ele têm e o facto de a Red Bull ser uma coutada de Sebastian Vettel - especialmente quando demonstrou que não era capaz de bater o piloto alemão, no final de 2010 - o facto de ter abraçado com os dois braços o projeto da Porsche em 2014 é o reconhecimento de que na Formula 1, o seu tempo tinha terminado, e que um lugar dentro das grandes equipas já não existia mais.
Claro que alguns dirão que Webber na Ferrari, ao lado de Fernando Alonso, seria o ideal, mas duvido que o australiano queira ser escudeiro do espanhol depois de ser escudeiro do alemão durante anos a fio. Logo, uma nova aventura, numa equipa de fábrica, numa nova competição, com possibilidades reais de vencer algo importante como as 24 Horas de Le Mans é bem melhor do que encher a conta bancária só para ser segundo classificado numa corrida de Formula 1. Pelo menos nesta Formula 1 atual.
Agora com um lugar vago, todos adoram especular sobre o seu substituto. E todos desejam que este seja ocupado por Kimi Raikkonen. É certo que o finlandês de 33 anos é apoiado pela marca desde os tempos da Sauber, e eles o apoiaram quando fez duas temporadas no WRC, mas nem sempre dois mais dois são quatro. Por varias razões: primeiro, Kimi detesta politica, daí ele ser tão adorado entre os fãs da Formula 1. E uma das razões do seu regresso à competição, na Lotus, é que ele tem a liberdade de fazer o que quiser em termos de relações públicas ou em relação as intrigas politicas. Foi por isso que saiu "antes do tempo" da Ferrari, em 2009 e não se importou de ficar "desempregado" em 2010, com a Scuderia a pagar 17 milhões de euros só para não entrar num Formula 1.
A segunda grande razão pelo qual não acredito no ingresso de Kimi na Red Bull tem a ver com a hierarquia. Na turma de Milton Keynes, quem manda é Sebastian Vettel. É o menino querido da turma, todos o adoram e recentemente, renovou o seu contrato até 2015. Vettel e Kimi podem ser amigos, mas uma igualdade entre os dois será temporária. Temporária porque Vettel quer mandar, e ter um piloto que o morda os seus calcanhares o incomoda. E Kimi voltou à Formula 1 para vencer, porque senão, volta para casa - ou para os ralis - e vai fazer a sua vida. Já provou mais do que uma vez que no momento em que não precisa da Formula 1 para nada, sabe onde está a porta da saída.
Sendo assim, passemos para as alternativas. Jean-Eric Vergne e Daniel Ricciardo são os pilotos da Toro Rosso, a antiga Minardi, que Dietrich Mateschitz comprou no final de 2006 para que servisse como "equipa B" para os pilotos que a marca apoiava. Até agora, o unico que deu sucesso foi Sebastian Vettel, mas apenas porque... venceu uma corrida. Tirando isso, todos os outros pilotos nunca conseguiram mais do que um sétimo posto em corrida. Isto... até ao GP do Canadá de 2013, onde Jean-Eric Vergne conseguiu um sexto lugar.
O piloto francês de 23 anos está a mostrar ser um piloto ligeiramente melhor e mais consistente do que o seu companheiro, o australiano Daniel Ricciardo. E o fato de estar a conseguir isso poderá significar que terá hipótese de saltar para a equipa principal em 2014. E Helmut Marko já disse que está atento às performances de Vergne. Mas temos Ricciardo, que quer também mostrar ao mundo que é piloto a ter em conta, e numa equipa onde normalmente os pilotos têm duas temporadas para mostrar o que vale, antes de serem sumariamente despedidos, como já aconteceu com Sebastien Buemi e Jaime Alguersuari, no final de 2011, este é um momento ideal para mostrar a utilidade da equipa na Formula 1.
Logo, Vergne ou Ricciardo seriam os pilotos ideais para o lugar. Mas existe um terceiro tipo de hipótese: um tiro no escuro. E esse tiro no escuro tem um nome. Chama-se António Félix da Costa. É português, tem 21 anos e no ano passado, surpreendeu muita gente pelos seus feitos na World Series by Renault (WSR) e na GP3.
Na segunda metade de 2012, Félix da Costa venceu cinco corridas na WSR e mais duas na GP3, bem como mais alguns pódios e o GP de Macau, sítio onde pilotos como Ayrton Senna e Michael Schumacher já inscreveram o seu nome na lista de vencedores. Todos ficaram espantados com as suas performances e acharam que ele seria o candidato ideal para a Formula 1 em 2014. Até dizem que tem o mesmo estofo de campeão que Sebastian Vettel. Mas esta temporada, as coisas não andam perfeitas para ele, pois só venceu uma corrida e é terceiro no campeonato, atrás do belga Stoffel Vandoorne e do dinamarquês Kevin Magnussen.
Contudo, estes são os mesmos resultados que tinha Vettel em 2007, quando corria na WSR e foi chamado para correr na Toro Rosso, no lugar do americano Scott Speed. É tudo muito relativo, sem dúvida, e pode ser algo temporário, por causa do desgaste dos pneus ou as afinações do carro. E a confiança da equipa nele continua intacta, pois ele foi chamado para correr no teste de jovens pilotos em Silverstone, ao lado do filho de Carlos Sainz, que vai acontecer daqui a alguns dias.
A hipótese de um "tiro no escuro" não é totalmente descabida. A McLaren fez isso com Lewis Hamilton, no final de 2006, e deu certo. E no passado, Enzo Ferrari também apostou em perfeitos desconhecidos ara guiar as suas máquinas. Dois desses desconhecidos chamavam-se, respectivamente, Niki Lauda (1974) e Gilles Villeneuve (1977)...
Em jeito de conclusão, a Red Bull tem muitas cartas em cima da mesa. Elas representam várias coisas, que vão desde decisões de marketing até à "raison d'etre" de algo como a Toro Rosso. Francamente, a minha opinião pessoal seria um "shootout" entre os pilotos da Toro Rosso, os novatos e o suiço Sebastien Buemi, o terceiro piloto da marca. Nesse último caso, seria uma boa recompensa para um piloto cuja carreira foi integralmente paga pelos energéticos...
Veremos. Estes próximos meses serão interessantes para serem seguidos na Red Bull.