segunda-feira, 1 de novembro de 2021

A imagem do dia


O Williams FW26, de 2004, tinha provavelmente o nariz mais invulgar que já vi em quase trinta anos de narizes levantados - 2012 não conta, aquilo foi um zoológico... - mas o seu aspecto até deu alguma estranha beleza na coisa. Uns chamavam-lhe de "tigre de dentes de sabre", outros de "morsa", muitos diziam que seria o melhor opositor da Ferrari naquela temporada. 

A ideia daquele tipo de nariz tinha vindo da uma das raras mulheres projetistas no meio: a italiana Antonia Terzi. Em conjunto com Patrick Head e Gavin Fischer, o designer-chefe, e a ideia era fazer com que o carro tivesse ritmo de corrida desde o seu inicio, tentando aquela vantagem aerodinâmica que muitos procuram e poucos alcançam. O pacote era revolucionário e todos em Grove pareciam que tinham "encontrado a pólvora". E os testes iniciais provavam isso.

Contudo, num ano em que as caixas automáticas e o "launch control" estavam abolidas, a Williams viu-se aflita para reagir a essas contrariedades, e logo de inicio, não conseguiu mais que dois pódios, um segundo lugar na Malásia e um terceiro em San Marino, ambos com Juan Pablo Montoya ao volante. E para piorar as coisas, o F2004 da Ferrari era, realmente uma máquina imbatível, perfeita até. Sem bater a Ferrari e andando a par da BAR, o FW26 não foi o carro que pensavam que seria. E a meio do ano, substituíram aquela frente alargada por uma mais convencional, que fez melhorar os resultados e dar a Montoya a sua única vitória do ano, em Interlagos.

E para piorar as coisas, Ralf Schumacher teve uma acidente feio em Indianápolis que o obrigou a ficar tres meses no estaleiro, dando a chance de correr a Marc Gené e António Pizzonia

O FW26 foi a coroa de glória - e também de infamia - para a engenheira italiana que tinha chegado à Williams em 2002, depois de ter trabalhado na Ferrari ao lado de Rory Bryne, ajudando nos carros que deram os primeiros títulos à Ferrari, em 2000 e 2001. Recrutada pela Williams para ser a chefe do departamento de aerodinâmica, depois do fracasso do FW26, saiu da equipa no final desse ano, acabando de uma certa forma a sua passagem pela Formula 1. Só voltaria aos automóveis dez anos depois, em 2014, quando foi trabalhar para a Bentley para ser a sua chefe de aerodinâmica. 

Nascida em Mirandola, em abril de 1971, e com um mestrado em Engenharia de materiais pela Universidade de Modena, Terzi morreu ontem num acidente de viação no Reino Unido. Tinha 50 anos.

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