Este artigo tem como base outro artigo escrito pelo forista NMAV, sobre o Maserati 250F, um dos maiores carros de Formula 1 dos anos 50. Parte do artigo fala sobre a maior vitória de um grande campeão, Juan Manuel Fangio, que faz hoje 50 anos: o Grande Prémio da Alemanha de 1957, a última vitória de Fangio e do seu Maserati 250F, ocorrido no dia 4 de Agosto daquele ano.
Estamos em Nurburgring, o famoso e temível circuito de 22 quilómetros, construído trinta anos antes. Ainda não se chamava de Inferno Verde (quem o baptizou foi o escocês Jackie Stewart, uma década depois), mas mesmo assim era temido por tudo e por todos. O argentino Juan Manuel Fangio tinha feito a “pole-position” nos treinos, superando os Ferrari 801 dos ingleses Mike Hawthorn (1929-1959) e Peter Collins (1931-1958). Contudo, Fangio debatia-se com um dilema: o seu Maserati 250F número um não tinha depósito suficiente para fazer toda a corrida sem reabastecer…
Como os Vanwall não conseguiam afinar os carros para o circuito germânico e afundavam-se na classificação, o verdadeiro perigo vinha dos Ferrari 801 que logo atrás de Fângio tinham o depósito atestadíssimo, que dava à justa para os 505 km da prova. Então… o argentino decidiu recorrer à matemática! Partia com combustível para apenas 12 voltas. Como teria o carro mais leve tentava desse modo construir uma vantagem, para que quando fosse às boxes, reabastecia e arrancava de novo sem perder o comando.
Na partida, o inglês Mike Hawthorn foi mais rápido, mas como tinha o carro mais pesado, à 3ª volta Fangio passava-o em Tiergarten e começava a afastar-se do Ferrari. Na volta 11, Fângio entra na box. Aparentemente a táctica estava a resultar e o Argentino tinha mais de 30 segundos de vantagem sobre Hawthorn. Pelo meio tinha tido tempo para bater o seu anterior record, ao volante do Lancia-Ferrari no ano aneterior, de 9 minutos, 41.6 segundos, para 9 minutos, 29.5 segundos…
Contudo… ao mudar uma das rodas, um dos mecânicos perde uma das porcas, perde-se imenso tempo à procura dela! Fângio, impotente, vê passar primeiro Hawthorn, e depois, Peter Collins. Oh não, tudo estragado! O Maserati número 1 sai com uma desvantagem de 45 segundos para ambos os Ferrari, e nas duas voltas seguintes nada acontece.
Fangio parece estar conformado, mas de repente as pessoas começam a ficar espantadas: os cronómetros param nos 9 minutos, 23.5 segundos! Duas voltas depois e a diferença tinha baixado para 33 seg, com um crono de 9minutos 17.4 segundos, e à décima-oitava volta, a distancia passa para apenas 13 segundos! E ainda faltam 4 voltas… “O que é que está a acontecer?”, murmurava toda a gente em Nurburgring!!
Ultima volta: Hawthorn passa na frente, seguido por Collins na segunda posição e apenas dois segundos depois… FANGIO!!!
Ao chegar à “Sudkurve”, Peter Collins, que está para dobrar dos dois Vanwall, tem o Maserati 250F mesmo na sua traseira. A multidão levanta-se a aplaudir no momento em que Fângio sai à frente de Collins! Contudo, o piloto inglês reage e regressa ao segundo posto. Nova travagem para a “Nordkurve”, e Fangio passa por dentro da berma e ultrapassa Collins no meio do roncar de motores, ovação da multidão, e pedras e areia pelo ar!
Collins, para além de perder o segundo lugar, leva com uma pedra numa lente dos óculos e é forçado a abrandar. O argentino, sem sinal de abrandar, voa no encalço de Hawthorn. Alcança-o em “Adenauerforst” e em “Breidscheid” passa-o! O público quase manda as redes abaixo, numa manifestação de histeria colectiva…
O Ferrari de Hawthorn acusa o cansaço, e ele baixa os braços, deixando Fangio seguir em direcção ao seu último triunfo da sua carreira, mas esta tinha sido, aos 46 anos, a maior corrida da sua vida! O Maserati 250F corta a meta ao fim de 22 voltas e três horas e meia de corrida. É levado em ombros até ao pódio e reencontra Hawthorn e Collins que festejam efusivamente com o argentino!
O agora penta-campeão do Mundo, depois de ter sido informado que havia batido o recorde da volta em 10 vezes, declarou: “Fiz coisas que nunca tinha feito. Nunca mais quero pilotar dessa maneira!” Após este triunfo, e até ao fim da época ainda consegue mais 2 segundos lugares, nos circuitos italianos de Pescara e Monza.
Já agora, falando no carro que Fangio conduziu: o Maserati numero 1 ainda hoje existe, em repouso merecido, no museu dedicado ao campeão argentino na sua terra natal, Balcarce, onde se pode observar a magnifica arquitectura deste belo carro. O Maserati 250 que foi construído e desenvolvido entre 1954 e 1958, tendo sido construídos 34 exemplares com a numeração de quadro entre 2501 e 2535. Muitos deles foram conduzidos por privados, entre eles o Conde Alfonso de Portago (que morreu nas Mille Miglia desse ano) Paco Godia e o “nosso” Nicha Cabral…
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