![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjw_vZVy175AZQ6S9nZlO9J7eUaGxtCNUNFSkKT4E9sbtmBG3AxDpE6JoCA0xb-S8XIAj_FDXlGjkJwqaiiJFNBDNrWlCG9FkOJhqOaSefa4cepIIFEyt7dhRVhHI5WaFpF2pBJSChbbl6Z/s400/800px-Brabham_Moss_BT19_Goodwood_Revival_2004.jpg)
Sempre me admirei o que passam nas mentes dos pilotos de outras eras que, passado o tempo de pilotos sem grandes ferimentos, iriam passar o resto das suas vidas. Vejo-os nas reuniões de automobilismo como Goodwood, a falar com os fãs da modalidade e jornalistas especializados, a contar estórias sobre o seu tempo e como sobreviveram aos acidentes e incidentes que tiraram a vida dos seus amigos e colegas. E de que como eram um "grupo de irmãos", que passavam juntos as alegrias e tristezas da competição, festejavam os ganhos e choravam as perdas, tudo com "fair play" e muito respeito.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjO9N24CFKXLhfC2evkeScefn2j-_8CDSiuUp6myWqjHlfFRLL7NfBgls0xFaFWUc8lbUZQ1MG-w4WNskv5Nn5lyU5F1AOe1071gwnhOjZSr5waEtUsm1JLj81yeMRX-ET1Vab64I0WhNa7/s400/Moss+09.jpg)
Dos primeiros tempos do automobilismo, os anos 50, só resta
Stirling Moss, Tony Brooks e pouco mais. Mesmo dessa era foram poucos os que viveram muito para lá desses anos.
Juan Manuel Fangio, Maurice Trintignant, Froilan Gonzalez, Tony Brooks,
Jack Brabham e Stirling Moss. Esta semana, quando soube do acidente doméstico de Moss, onde fracturou ambos os tornozelos e mais alguns ossos do pé depois de uma queda de três metros no fosso de um elevador, reflecti-me sobre estes "Elder Statesmen" do automobilismo, e cujos testemunhos estão quase a desaparecer.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguLvI-FpT_pudPKnO-aVxkP1ksazW6sF71g3bFQE2Q6r5ewU9oMwhiOB9sYKByAN6JIlJmU9WC4PLfJpWn6q0k8Ty4EeajbqVmYb3HG1SLpAuIOOIAAQMNLpou5XitvW5lNYwhmjqaXOcK/s400/Fangio+89.jpg)
Fangio morreu em 1995, com 84 anos cheios de vida e maravilhado por ter sobrevivido ao seu tempo. Mas nos últimos tempos da sua vida, debatia-se com uma grave crise renal que, quando no inicio de 1995, os argentinos celebravam o regresso do seu Grande Prémio, estavam preocupados por poderem ter de o cancelar, caso ele morresse nesse fim de semana... a corrida foi em Abril, Fangio morreu a 17 de Julho. Maurice Trintignant morreu em 2005, com 87 anos, e dos sobreviventes, Froilan Gonzalez vai a caminho dos 88 anos, e deve sofrer as maleitas da idade. Já Jack Brabham, cuja carreira se estendeu até 1970, tem 83 anos e há mais de três que tem de fazer diálise três vezes por semana, porque os seus rins já falham.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHcbr0IVkWaZ2mHiVSwbRShyNnyXf1ler6qw-7zPD4tUTlWv1fMcslQa7Uk4CQREPUQ3UI3C3HdLIi_ZG9p_rohV8u1M01A-AlBinZyoP70qQgNAmZxUodUWxV5Yqd3uWvj66OqaNuUqTq/s400/400px-DanGurney2008Rolex24HoursOfDaytona.jpg)
Se avançarmos uma década, temos como sobreviventes pilotos do calibre de
Brian Redman,
Jackie Stewart, Dan Gurney, Jean-Pierre Beltoise, Jacky Ickx ou
Mario Andretti. E todos andam pela casa dos 70 anos, excepto Ickx, que fez 65 anos. O americano Gurney, fundador da Eagle, fará 80 anos em Abril. Ou seja: mesmo aqui, já não existe muito mais tempo para os vermos no seio do nosso convivio. E todos estes são testemunhas de um tempo onde as relações eram mais chegadas, as oficinas eram mesmo oficinas, com peças espalhadas pelo chão, com um "pitlane" estreito e até espectadores pendurados no muro das boxes, a menos de um metro de um Lotus, Brabham, McLaren ou Cooper...
A Formula 1 como conhecemos, a da grande explosão da TV, só aparece nos anos 70, inicio dos anos 80. O primeiro autódromo dito "moderno" é o de Paul Ricard, inaugurado em 1971, a tempo do GP de França: moderno, com boxes espaçosas, pitlane verdadeiro. Muitos afirmaram que era impessoal. Mal sabiam que estavam a ter uma visão do futuro...
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4Hryh7CueU5Y-Wq57ke2IRLRW_KUBGvIqqypmKi9sRJ67ZqwctmVruU8n7bQajqN5idEjyRR4UkDvWIeMRsBbndRQhNinkmZz57u7vtUyxugUfhEbdhoiABXGW-un96Nqq-U90XNLUwUe/s400/516px-Bernie_Ecclestone.jpg)
Futuro esse que
Bernie Ecclestone agarrou com as duas mãos. É certo que a sua ideia o cobriu de dinheiro, mas matou a essência da Formula 1. Por um lado é bom: não morrem pilotos há 16 anos, apesar de um susto ocasional. Mas por outros, determinou o escalar dos custos, o afastamento e alienação das pessoas, os fãs do desporto, uma cada vez maior elitização e impessoalidade nas pessoas, nos circuitos. A Formula 1 deixou de ser oficina e passou a ser um hospital: esterilizado, liofilizado. E cada vez mais caro, sinal de que o lucro está acima de tudo, incluindo da competição pura e dura. Sim, porque de outra forma, as corridas que temos no Bahrein e em Abu Dhabi carecem de outra explicação...
Estes pilotos de uma era distante são provavelmente uma das últimas ligações existentes com um certo passado. Muito mais perigoso e mortal, mas certamente mais humano. E à medida que eles mostram a sua vulnerabilidade e mortalidade, mais consciencializamos que uma parte da nossa relação de amor com o automobilismo está prestes a desvanecer. Portanto, "
Carpe Diem", aproveitemos o convivio com estes campeões, antes que façam apenas parte dos livros de História.
Sem comentários:
Enviar um comentário