sábado, 13 de fevereiro de 2010

Extra-Campeonato: Alegrias e tristezas de Vancouver


Ontem fiquei até ás 5 da manhã para cumprir um hábito que tenho desde 1984: ver todas as cerimónias de abertura dos Jogos Olimpicos. E Vancouver não foi excepção, apesar de não acompanhar muito a vertente invernosa da competição.

Foi uma cerimónia simpes, com o devido destaque à história e gentes daquela zona. Desde os nativos (ou Primeiras Tribos) até à actualidade, tudo esteve lá. E no final, um complexo sistema colocou os quatro últimos portadores da chama olimpica no centro do palco, para acender a tocha (já agora, o sistema não funcionou na sua totalidade. Apenas três foram levantadas) E os quatro que levaram a chama para o centro eram lendas desportivas do Canadá: Wayne Gretzky (hóquei no gelo), Steve Nash (basquetebol), Nancy Greene (esqui - Melhor Atleta do Século XX e actualmente senadora) e Catriona Le May Doan (patinagem de velocidade).


Antes disso, oito personalidades canadianas levaram a bandeira olimpica para ser erguida no mastro, depois de no inicio da cerimóna, outros oito elementos da Policia Montada do Canadá terem levado a "Maple Leaf" para o seu devido lugar. E as oito que levaram a bandeira olimpica não eram umas quaisquer: o actor Donald Sutherland, a astronauta Julie Payette, outra lenda do hóquei no gelo, Bobby Orr, Betty Fox, a mãe de Terry Fox, o rapaz que em 1980 tentou atravessar o Canadá com uma perna artificial para chamar a atenção para a pesquisa do cancro, Romeo Dallaire, o comandante das Forças de Paz das Nações Unidas no Ruanda, aquando os massacres de 1994, e por fim, o nosso conhecido Jacques Villeneuve.

Para os elementos que estiveram no meio dela, esta cerimónia foi a realização de um trabalho bem feito, depois de receios quanto à qualidade da neve, num mês anormalmente quente por aquelas paragens. Centenas de camiões colocaram neve em alguns pontos de Whistler, local onde se realizarão boa parte dos eventos exteriores como, esqui alpino, nordico, saltos de esqui, biatlo, bobsleigh, skeleton e luge, entre outros.

Mas poucas horas antes da cerimónia de abertura, a tragédia: o georgiano Nodar Kumartashvili, de 21 anos, morreu na tarde de ontem, quando se treinava na pista de velocidade de Whistler. Perdeu o controlo do seu trenó individual e embateu forte contra um poste, recebendo um forte impacto com a nuca. A pista tem 1374 metros e ganhou fama de ser a mais veloz e a mais técnica do mundo, com uma média de 145 km/hora, e os competidores sofrem forças de 5G's, equivalentes aos de um piloto de Formula 1. E este não tinha sido o primeiro acidente nesta pista, pois outro tinha acontecido na quinta-feira com a romena Violeta Stramaturaru, deixando-a inconsciente.

O Comitê Olimpico decidiu abrir um inquérito para apurar as causas do incidente, enquanto que alguns atletas temem pela excessiva rapidez da pista: "Na primeira vez que estive em pista, pensei que alguém iria morrer aqui", afirmara o lugusta americano Tony Benshoof, em declarações captadas pelo jornal espanhol El Pais.

Quanto à equipa olimpica georgiana, após a noticia do acidente mortal do seu atleta, considerou sériamente a hipótese de abandonar Vancouver, mas ficou. Desfilaram com cachecóis negros, e o Comité Olimpico Internacional decretou um minuto de silêncio em memória do atleta, e as bandeiras ficaram a meia haste. E foi com essa sombra que os Jogos da XXI Olimpiada começaram em Vancouver, e terminarão no dia 28 deste mês.

1 comentário:

Fernando Kesnault disse...

Também assisti ao acidente. Agora o que fico pasmo é que numa pista rápida como esta e num local de saída de curva não se tenha uma "tela" no local ou mesmo um "acolchoado" nos pilares do local para absorver possível batida. A organização pecou neste aspecto e muuito. Deveria-se abrir inquerito e apurar a responsabilidade pela falta de um dispositivo de segurança no local. É incrível. Apesar de todos os aspectos de beleza do evento, seja nas próprias cidades-sedes e preocupação com os turistas e o carinho para com, esta falha é imperdoável.