sábado, 18 de janeiro de 2014

Dakar 2014 - Etapa final (La Serena - Valparaiso)

O Dakar poderá terminar apenas amanhã, mas foi esta tarde que terminaram as etapas competitivas, neste caso entre La Serena e Valparaiso, no Chile. E no duelo entre os automóveis, o vencedor acabou por ser Nani Roma, que depois de Stephane Peterhansel ter quebrado ontem a disciplina e termos de chegada, decidiu hoje obedecer às ordens e deixar que o piloto espanhol fosse o vencedor deste Dakar, dez anos depois de ver vencido nas motos.

Esta chegada "ensaiada" chegou a merecer criticas por parte do organizador do Dakar, Ettienne Lavigne, mas no final, ambos os contendores falavam sem ressentimentos: “Foi uma corrida muito dura, muita tensão nestes últimos dias, mas aqui estamos a desfrutar da merecida vitória.” disse Nani Roma. 

Para um conformado - mas não um derrotado - Peterhansel, “o objetivo não era terminar segundo, mas estou contente pelo Nani. Ele merece! Foi um rali muito difícil, houve muita pressão, não foi fácil. Somos amigos há muito, não há qualquer problema entre nós. Agora vou descansar e pensar no que vou fazer no futuro”, disse.

Já nas motos, foi a vez de Marc Coma a comemorar a vitória no Dakar, com uma dobradinha com Jordi Villadoms, e a dedicá-la a Kurt Caselli, morto em novembro durante a Baja 1000. Para o espanhol, foi um triunfo que se baseou “em muito esforço, muito trabalho, muito sacrifício e o segredo da vitória foi sobretudo não cometer erros importantes”, revelou no final da chega a Valparaiso.

Villadoms foi segundo e o unico que ficou a menos de duas horas de Coma, Com Olivier Pain a ser o terceiro classificado, na frente de Cyril Després e Hélder Rodrigues, que com a queda de Joan Barreda Bort, tornou-se no melhor piloto da Honda na geral deste Dakar, e de uma certa maneira, foi o sobrevivente de uma armada portuguesa que prometia muito, mas que foi dizimada pela dureza das primeiras etapas, com as quedas de Bianchi Prata e Paulo Gonçalves, este último de forma dramática.

O Dakar de 2014 termina amanhã com a consagração em Santiago do Chile, e em 2015 há mais, na Argentina. 

Youtube Monte Carlo Rally: as dificuldades no Col de Turini

Como já disse no post anterior, as condições meteorológicas no Col de Turini eram dificeis. Tão dificeis que a organização decidiu que seria melhor cancelar a especial devido à demasiada acumulação de neve no local. E a melhor prova da dificuldade das condições é este video, onde se pode ver que mesmo na primeira passagem dos carros pela mítica classificativa, os carros lutavam para estar na estrada...

WRC 2014 - Rali de Monte Carlo (Final)

Sebastien Ogier foi o vencedor do Rali de Monte Carlo, conseguindo assim começar a defender o seu título de campeão mundial, ao volante do seu Volkswagen Polo R. O mais surpeendente no meio disso tudo é que Ogier teve como seu maior adversário... um Ford Fiesta privado. Mas neste caso, pertencia a um piloto bem conhecedor dos troços: o francês Bryan Bouffier, que aproveitou bem o facto de estar num WRC para chegar ao fim no segundo lugar, na frente dos Citroen e Ford oficiais. Kris Meeke, a bordo de um Citroen DS3 WRC, conseguiu aos 34 anos o seu primeiro pódio da sua carreira, conseguindo ser cauteloso e veloz quando bastasse, e conseguindo bater os Ford oficiais.

O último dia do Rali de Monte Carlo foi agitado, com o tempo a não colaborar muito devido à forte queda de neve, que alternava com a chuva gelada, especialmente quando estava nas altitudes mais baixas. Mas mesmo com estas mudanças do clima - e o Col de Turini cheio de neve, para gaudio dos fãs - o duelo pela liderança nas quatro classificativas finais, incluindo duas passagens pelo Col de Turini, estava entregue a dois franceses: Sebastien Ogier e Bryan Bouffier.

As coisas começaram com neve misturada com água, mas a grande novidade na primeira passagem pelo Turini foi um furo sofrido por Mads Ostberg quando faltavam cinco quilómetros para o final da prova. Mas ele somente perdeu meio minuto para Ogier e manteve o quarto lugar da geral no seu Citroen DS3 WRC. Em termos de classificativa, Ogier levou a melhor, 0,3 segundos mais veloz do que Jari-Matti Latvala e 0,9 segundos mais veloz que Bryan Bouffier. Mas nesta altura, os dois primeiros "navegavam isolados" do resto, já que Bouffier tinha uma vantagem de quase um minuto sobre o Citroen de Kris Meeke, o terceiro classificado.  

Mais tarde, na 13ª especial do rali, a de Sospel - Breil sur Roya, foi de azar para Bouffier, que apareceu no final da classificativa com uma jante traseira esquerda quebrada devido ao toque numa pedra. O francês explicou depois que saiu largo numa curva e foi surpreendido pela água na estrada naquele ponto, confessando que “agora o importante é concentrarmo-nos em mantermo-nos na estrada pois neste último troço isso não foi fácil devido há muita água presente no asfalto que, muitas vezes, é difícil ver”.

Contudo, o francês não perdeu muito tempo: apenas 9,2 segundos para Ogier. A diferença agora é de um minuto e um segundo, quando faltavam apenas duas classificativas para o final do rali. Por esta altura, já Mikko Hirvonen coneçava a ter problemas no alternador do seu Ford Fiesta WRC, acabando por desistir do rali.

Mas na classificativa a seguir... a neve, que já era muita, tornou-se enorme. Tão grande que os organizadores decidiram cancelar a especial, e passar para a última especial a de Sospel, onde Ogier confirmou a vitória, com um minuto e oito segundos sobre Bryan Bouffier. Kris Meeke conseguiu o lugar mais baixo do pódio, a um minuto e 54 segundos.

Atrás, esteve o companheiro de Meeke, Mads Ostberg, que apesar de ter ficado a mais de três minutos do vencedor, pelo resultado em conjunto, ajudou muito a Citroen no cômputo geral, ficando na frente de Jari-Matti Latvala, que nunca conseguiu recuperar do furo do dia anterior. Elfyn Evans foi o sexto classificado, na frente de Anders Mikkelsen, o sétimo e uma das grandes desilusões do rali.

Jaroslav Melchiarek foi o oitavo, num Ford Fiesta WRC, enquanto que o italiano Matteo Gamba (Peugeot 207 S2000) e o ucraniano Yuri Protassov (Ford Fiesta R5) fecharam o "top ten" do rali.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Dakar 2014 - Etapa 11 (El Salvador - La Serena)

A etapa de hoje do Dakar, entre El Salvador e La Serena, em paragens chilenas, causou mossa... e polémica entre os automóveis, pois parece que Stephane Peterhansel mandou as ordens de equipa para o ar e decidiu partir para o ataque, vencendo a etapa e retirando a liderança a Nani Roma, seu companheiro da Mini. Como dizem os brasileiros, "ele chutou o balde". Resultado final: a diferença entre os dois primeiros é de... 26 segundos, o que é milimétrico em termos de um "rally-raid" enorme como é o Dakar.

Veremos como vai ser amanhã, mas parece que o francês de 48 anos poderá ter mandado as ordens para o ar porque em 2015 vai para outro lado. Murmura-se a palavra "Peugeot" no "bivouac" do Dakar...

Na etapa, vencida por ele, conseguiu abrir uma vantagem de cinco munitos e 58 segundos para Roma, mas este último não foi o segundo classificado. Esse lugar foi para Nasser al Attiyah, que acabou a etapa a três minutos e 36 segundos atrás de Peterhansel. O quarto foi Giniel de Villiers, a menos de cinco minutos de Nani Roma.

A geral, com os dois primeiros, Nasser Al Attiyah acompanha-os no pódio, mas a mais de 54 minutos. Giniel de Villers é o quarto, a uma hora e 21 minutos da liderança.

Nas motos, o dia foi para Cyril Després, onde Joan Barreda Bort, segundo classificado à entrada desta etapa, sofreu um acidente e destruiu a sua moto. Acabou a etapa, mas o atraso foi de mais de duas horas sobre o vencedor, caindo para o sétimo posto da classificação geral. Apesar da vitória na etapa, Després trocou o motor, perdendo 15 minutos devido à penalização, mas isso não o impediu de subir de sexto para o quarto posto da geral, pois ultrapassou Hélder Rodrigues, que foi quarto na etapa.

Quanto a Marc Coma, conseguiu controlar Després e acabou dois minutos atrás dele, sendo o segundo na etapa. Olivier Pain completou o pódio.

Na geral, Coma têm um avanço de quase... duas horas sobre Jordi Villadoms, enquanto que Olivier Pain é o terceiro, a duas horas e dez segundos, quatro minutos na frente de Cyril Després e dez sobre Hélder Rodrigues.

Amanhã, a caravana do Dakar sai de La Serena e vai para Valparaiso, a última etapa cronometrada deste rali, antes da consagração em Santiago do Chile. 

Youtube Rally Crash (II): o acidente de Robert Kubica em Monte Carlo

Parece que Robert Kubica começa a ganhar uma reputação de "win or wall": ora vence um rali, ora acaba na valeta. No inicio do ano, venceu o Jannerrally, o primeiro rali do Europeu, e em Monte Carlo, andou bem nas primeiras especiais do rali, e ia no terceiro posto até se despistar esta tarde, no inicio da nona especial, quando bateu numa ponte, à entrada de uma curva.

Algo que Kubica já encara com normalidade: “Um despiste meu está no youtube em dois minutos!”, afirmou o piloto polaco à Autosport portuguesa, já não se importando muito com esse assunto. “Faz parte do jogo (ri-se). Sei bem que se me despisto em dois minutos as imagens estão no YouTube! Cometi erros mas compreendi sempre o que tinha feito de errado e na maior parte dos casos os erros aconteceram por falta de experiência”, continuou.

WRC 2014 - Rali de Monte Carlo (Dia 2)

O segundo dia do Rali de Monte Carlo está a ser como ontem: agitada e cheia de armadilhas. Mas depois da confusão do primeiro dia, a ordem parece que se está a instalar-se no pelotão, com Sebastien Ogier a recuperar até à liderança, aproveitando os pneus que têm em mãos e os erros dos seus adversários mais diretos, como aconteceu a Bryan Bouffier e a Robert Kubica, vitimas de saídas de estrada.

O dia começou com Ogier ao ataque, saltando dois postos logo na classificativa de abertura, a especial Vittrolles - Faye 1, de 49,03 quilómetros, passando os carros de Kris Meeke e de Robert Kubica e aproximando-se de Bryan Bouffier, que na altura já temia a aproximação de Ogier: “Tentei forçar mas perdi algum tempo no início quando não tinha ainda bem despertado. Não será fácil segurar o Ogier mas vamos continuar a lutar”, comentou.

Outro que subiu posições foi Jari-Matti Latvala, que depois dessa classificativa estava no sexto posto, em troca com Elfyn Evans. Contudo, queixava-se que do troço ‘simplesmente horrível e super escorregadio no asfalto vidrado”.

Mas foi à tarde que as coisas modificaram-se radicalmente. Robert Kubica despista-se na nona classificativa, a segunda passagem por Vittrolles - Faye, acabando com o seu Ford na valeta, sem ferimentos para ele e para o seu navegador, enquanto que Bryan Bouffier sofre um despiste no seu outro Ford e perde o comando a favor de Ogier, que iria acabar por vencer a classificativa e conseguir um avanço de onze segundos sobre o seu compatriota.

Outro que teve problemas foi Jari-Matti Latvala, que furou e perdeu mais de dois minutos na geral, caindo do sexto para o oitavo posto, ainda com confusão pelo meio, pois durante a classificativa, apanhou o Ford de Elfyn Evans, e apesar das ordens dadas nesse sentido por parte da M-Sport, o finlandês decidiu não passar, prejudicando também o piloto galês. Mas mesmo assim, Evans acabou a classificativa na quinta posição!

Com o passar da tarde, após a passagem por Sisteron, Ogier conseguiu aumentar a distância para 22,6 segundos sobre Bouffier, e este, agora, é o grande duelo do Monte Carlo: "Até aqui tudo bem, mas ainda há um caminho difícil pela frente”, disse Ogier. Já Bouffier estava mais na expectativa: “Vamos ver o que acontece, mas vou tentar continuar como até aqui”, comentou.

Atrás dos dois está Kris Meeke, que andou o dia inteiro a ser mais cauteloso possível, evitando as armadilhas. E a sua recompensa é o terceiro posto no final do segundo dia do rali: “Não pensava ser possível chegar aqui e estar nos lugares do pódio na minha participação oficial com a Citroën, pelo que não quero fazer nada tonto”, comentou.

Atrás de Meeke, e a mais de um minuto, está Mads Ostberg, que está a fazer um rali decente, enquanto que Elfyn Evans é o quinto num rali onde Jari-Matti Latvala e Mikko Hirvonen são pálidas sombras do que já foram no passado, embora o segundo piloto da Volkswagen pode-se queixar de que sofreu um pneu furado e está a recuperar tempo perdido. Anders Mikkelsen é oitavo, com o terceiro Volkswagen - também furou e a fechar o "top ten" estão o eslovaco Jaroslav Melchiarek e o italiano Mateo Gamba, com um Peugeot 207 S2000.

O rali de Monte Carlo prossegue amanhã, para serem disputadas as classificativas finais.

Youtube Rally Crash: os despistes de Ogier e Ostberg


Isto aconteceu no final da classificativa da manhã do Rali de Monte Carlo, quando a chuva e o piso escorregadio do final da etapa fez com que ambos os pilotos (primeiro Sebastien Ogier, depois Mads Ostberg) perdessem o controlo e fossem obrigados a ir para a relva para poder parar os carros. Caso contrário, as coisas poderiam ter sido bastante piores...

Esta vi no site Supermotores, do Ricardo Batista.

Sobre a acusação de suborno a Bernie Ecclestone

A noticia de que o Tribunal de Munique decidiu nesta quinta-feira processar Bernie Ecclestone por suborno a Gerhard Gribowsky era aguardada há muito tempo, diga-se de passagem. O julgamento do caso está previsto para começar no mês de abril, na cidade bávara, mas que não se esperava nisto tudo é que Ecclestone tivesse decidido suspender as funções no seu cargo de "patrão" da Formula 1, com efeito imediato. 

Até que o caso esteja concluído, o sr. Ecclestone vai deixar de ser director, com efeitos imediatos, renunciando aos seus deveres neste conselho de administração até que o caso seja resolvido. Este conselho acredita, no entanto, que é no melhor interesse do negócio e do desporto que o sr. Ecclestone deve continuar a gerir o negócio diariamente, mas com maior escrutínio e controlo por parte deste conselho”, pode ler-se num comunicado da Delta Topco, a “holding” que controla a Fórmula 1, emitido na tarde desta quinta-feira.

Quem segue este blog e a Formula 1 sabe do que isto se trata: no final de 2010, as finanças alemãs, que investigavam a falência do banco Bayern LB, descobriram na conta austriaca de Gerhard Gribowsky, um dos dirigentes do banco, cerca de 50 milhões de dólares (cerca de 35 milhões de euros) não declarados. Sem conseguir justificar de onde vieram, foi investigado e processado pela Procuradoria de Munique. O caso acabou em tribunal, onde em junho de 2012 foi condenado a oito anos de prisão por suborno e fuga aos impostos.

Ora, alguns anos antes, em 2002, a Bayern LB tinha ficado com os direitos da Formula 1, espólio resultante da falência do Grupo Kirch. Pouco tempo depois, em 2005, Bernie Ecclestone queria que esses direitos caissem nas mãos do fundo de investimento CVC, e convenceu Gribowsky a ceder a preço um pouco mais baixo do que a concorrência, em troca de um pagamento. Bernie recebeu uma bela comissão, à volta de 100 milhões de dólares (mais ou menos 70 milhões de euros) e deu metade a Gribowsky, como recompensa.

Quando tudo foi descoberto, Gribowsky denunciou Ecclestone, e este, quando foi a tribunal como testemunha do caso, declarou que tinha pago, mas justificou-se dizendo que tinha sido... chantageado, afirmando que Gribowsky ameaçara denunciar a ele e ao fundo familiar Bambino por sonegação de impostos na Grã-Bretanha. Ele afirmava que caso fosse adiante, teria de pagar em impostos corrigidos quase metade toda a sua fortuna, avaliada em quatro mil milhões de libras (pouco mais de 4,5 milhões de euros).

Crê-se que ele disse isso no sentido de chegar a um acordo e evitar que ele fosse processado pela justiça alemã, mas aparentemente, eles não foram nessa cantiga e vão processá-lo na mesma. O julgamento poderá estar acabado em três a quatro meses - na pior da hipóteses, a sentença poderá sair em setembro - mas não ficaria admirado se em junho já existisse "fumo branco".

E as hipóteses de condenação? Imensas. Se condenaram Gribowsky a uma pena pesada por suborno, nada impede de Ecclestone ser condenado a pena de prisão. O problema é outro: Bernie Ecclestone têm 83 anos. Mesmo que haja pena de prisão, a idade têm de ser levada em conta e ele poderá alegar razões de saúde para não passar um único dia numa cela alemã. Antes disso, ele sempre poderá recorrer de uma eventual sentença para instâncias superiores na justiça germânica. E ainda por cima, Bernie lida com outros casos na Grã-Bretanha cujos julgamentos ainda estão a decorrer.

Há imensa coisa em jogo, mas podemos dizer que o final da vida de Ecclestone vai ser passado a entrar de sair de tribunais. Até nisso, ele é diferente. E pode ser que a Formula 1 comece a pensar com mais seriedade em algo que evita pensar: na sua vida depois do "anãozinho tenebroso".

Explicando as razões de "Rush" não ir aos Oscares

Vinte e quatro horas depois dos nomeados para os prémios da Academia de Hollywood, vulgo Óscares, confesso que a ignorância que os membros da Academia tiveram acerca de "Rush", o filme de Ron Howard que retrata a temporada de 1976 da Formula 1, que têm Chris Hemsworth como James Hunt e Daniel Bruhl como Niki Lauda me surpreendeu um pouco. Não que achasse que fosse o melhor filme do ano - eu reconheço que há meia dúzia muito bons, desde "Capitão Phillips" a "O Lobo de Wall Street", passando por "12 Anos Escravo" ou "A Golpada Americana" - mas achei que a interpretação de Daniel Bruhl merecia pelo menos a nomeação.

Ron Howard e Peter Morgan são uma boa dupla e o filme é bem competente, apesar de não ser "cem por cento verdadeiro" (os puristas vão dizer que é um lixo, mas são uma minoria), mas eu vi e normalmente sou critico dos filmes que são baseados em histórias reais. Olhem "Argo", por exemplo: há muitos aspectos que foram inventados "para Hollywood ver" e ganhou o prémio para Melhor Filme. Portanto, dizer que foi por isso que não entrou na "shortlist" é uma falácia e um perfeito desconhecimento sobre como as coisas são feitas por lá.

Para mim não foi isso que ele foi esquecido nestes Oscares. A razão é a qualidade dos filmes deste ano, todos acima da média. E ainda por cima, a tendência atual são os filmes "baseados em fatos reais". Todos os filmes que referi anteriormente - ou outros como "Dallas Buyers Club" - são exatamente isso. Portanto, "Rush" é um pouco vitima dessa tendência. Num outro ano, provavelmente teria levado umas quatro ou cinco nomeações, e a melhor prova disso não é os Globos de Ouro: é os prémios BAFTA, que premeiam a cinematografia britânica. "Rush" têm quatro nomeações - som, edição, filme britânico e ator secundário. E já agora, em 2011, "Senna", o documentário sobre a vida e carreira do tricampeão brasileiro, levou três nomeações e ganhou dois prémios BAFTA. E o filme também foi esquecido nos Óscares, onde pelo menos deveria ter ido na categoria de Melhor Documentário.

Mas já agora, é um pouco redutor pensar que os americanos não gostam simplesmente de automobilismo. O filme foi um sucesso comercial, deu lucro mesmo na América, deixando cair por terra a ideia de que "de Formula 1 os americanos não entendem". Mas o que quero dizer é que na Academia de Hollywood, o pessoal não é fã de desporto, seja ele qual for. A não ser que seja como base para outra coisa, como "Munique" de Steven Spielberg. E para citar um exemplo recente para sustentar essa ideia, posso dizer que a animação "Turbo", que fala sobre um caracol que quer ganhar as 500 Milhas de Indianápolis, também não chegou aos nomeados para os prémios da Academia na categoria de Filme de Animação.

Portanto, em jeito de conclusão, para ver um filme de automobilismo (ou desporto), baseado em factos reais ou ser completamente fictício, a chegar à "shortlist" da Academia só se for algo muito bom, num ano em que a concorrência seja muito fraca. E tem de ser feito por algum realizador brilhante como... Martin Scorcese, por exemplo. Ou outro mais "queridinho" da Academia.

Dakar 2014 - Etapa 10 (Antofagasta - El Salvador)

Falta pouco para o final do Dakar, e hoje, na etapa que ligou as cidades chilenas de Antofagasta a El Salvador, 605 quilómetros de troços cronometrados ao todo. Mas o assunto do dia foi a decisão da Mini de conceder a vitória a Nani Roma, depois da aproximação de Stephane Peterhansel nos últimos dias ter reduzido a diferença de uma hora para menos de dois minutos.

Nas motos, as coisas são mais pacificas, com Marc Coma a confirmar cada vez mais a sua liderança, vencendo na etapa e a melhorar a sua liderança. Hoje obteve a sua terceira vitória em etapas, ficando a mais de dois minutos e 51 segundos de diferença sobre Cyril Després. Olivier Pain foi o terceiro, a seis minutos e 36 segundos e superando Joan Barreda Bort, que perdeu oito minutos e 33 segundos sobre Coma e acabou no quinto posto. Hélder Rodrigues foi sexto na etapa, a nove minutos e 23 segundos de Coma, e em termos de classificação geral, têm Cyril Després ao seu lado (três segundos apenas!) e prestes a tomar o quinto posto da geral.

Mas o piloto português justificou esta tirada cautelosa devido a uma racha no depósito da sua Honda: “Esta era uma etapa em que apostava em fazer um bom resultado e ganhar terreno aos meus adversários, mas ao km 100 o tanque do lado esquerdo rompeu-se. Tentei reparar primeiro na pista e depois no reabastecimento, mas acabei por ser forçado a gerir o meu andamento numa etapa de mais de 600 quilómetros. Foi um dia difícil, mas não vou baixar os braços e amanhã vou de novo partir com vontade de atacar”.

Assim sendo, na geral, Marc Coma têm um avanço de 53 minutos sobre Barreda Bort, enquanto que Jordi Villadoms é o terceiro, a duas horas e oito minutos. Olivier Pain é o quarto, mas está a apenas nove minutos de Hélder Rodrigues e Cyril Després, logo, o luger pode não estar assegurado.

Nos automóveis, a Mini decidiu, está decidido: será Nani Roma o vencedor do Dakar, apesar da recuperação épica de Stephane Peterhansel ter chegado perigosamente perto do piloto espanhol. Mas o "manager" da Mini, Sven Quandt, decidiu que não haveria mudanças na liderança até Santiago do Chile. Já se esperava isso desde que ontem à tarde chegou a noticia de que Peterhansel se tinha reunido com a direção e tinha saido de lá com cara de "poucos amigos". 

Assim, na etapa, o vencedor foi o argentino Orlando Terranova, com dez minutos de vantagem sobre Nani Roma. O argentino andou toda a etapa à luta com o Mini de Nasser Al Attiyah, mas na parte final, o qatari teve um furo e acabou a etapa a 21 minutos do argentino, mas com os aros das rodas a descoberto...

Giniel de Villiers foi o terceiro, a quatro minutos e 38 segundos do vencedor, enquanto que a cerca de um minuto e meio depois, apareceu Stephane Peterhansel. 

Na geral, está tudo decidido: Roma é o vencedor, Peterhansel é o segundo, enquanto que Nasser al Attiyah é o terceiro, a mais de 55 minutos da liderança, ameaçado agora por Orlando Terranova, que não está muito longe.

Amanhã, o Dakar sai de El Salvador para chegar a La Serena, no Chile, com 350 quilómetros cronometrados.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Youtube Rally Crash (II): A sorte de Sebastien Ogier...

Sabia-se que Monte Carlo iria ser complicado, especialmente devido às condições meteorológicas e a respectiva escolha de pneus. Sebastien Ogier deveria ir com outro tipo de pneus, que não se agarravam à estrada, pois ia devagar quando bateu no muro. No meio do azar, como podem ver, teve sorte, pois escapou sem um arranhão aparente...

Este video vi no Facebook do Paulo Homem.

WRC 2014 - Rali de Monte Carlo (Dia 1)

A manhã inaugural do Mundial de WRC de 2014, nos Alpes franceses, começou com neve e com os pilotos a fazerem escolhas criticas em termos de pneus, que fizeram baralhar a classificação geral. E também já causaram acidentes que colcoaram alguns dos principais candidatos fora de prova, especialmente Thierry Neuville, que logo na primeira especial, perdeu o controlo do seu Hyundai, bateu num poste e danificou o seu i20 WRC.

Foi muito simples, entrámos demasiado depressa numa direita, e perdemos a frente do carro. Entrámos em pião e batemos”, revelou o belga.

Um resultado que um desiludido Alain Penasse, diretor desportivo da Hyundai Motorsport, não contava ter tão cedo: “Ficou acordado que ele iria fazer um arranque calmo, pois sabíamos que as condições do troço eram difíceis. Se olharmos para os tempos intermédios, verificamos que o Thierry estava 4.5 segundos mais rápido que o Ogier, o que é muito. Penso que ele entrou demasiado forte, não levando em consideração as condições do piso naquele momento, que como se sabem no Monte Carlo são muito traiçoeiras", referiu.

Com as condições de tempo, o grande beneficiado foi... Robert Kubica! O piloto polaco, que no inicio do mês venceu um Jannerrally, na Austria, como preparação para o Monte Carlo, decidiu arriscar nas condições do asfalto e acabou como vencedor da especial de abertura, acompanhado pelo local Bryan Bouffier, que conhece muito bem as classificativas deste rali - venceu-o em 2011.

Kubica esteve na frente nas duas primeiras especiais, mas na terceira, Bouffier passou para a frente, enquanto que o polaco caia para o quarto posto, sendo superado por Sebastien Ogier (que tocou num muro e perdeu tempo) e Dani Sordo, no segundo Hyundai.

Pela tarde, Bouffier - que corre com um carro privado - conseguiu controlar os pilotos de fábrica, enquanto que Sordo ficava pelo caminho, quando num dos troços de ligação, a bateria do seu carro simplesmente se foi abaixo. Com isso, Kubica subiu ao segundo posto, atrás do Citroen de Kris Meeke, mas ao longo da tarde, ambos os pilotos andaram a trocar de posições, especialmente depois do polaco ter adoptado um ritmo cauteloso, porque chegou a andar em pisos de neve... com pneus "slicks"! No final, ambos estão separados por 0,7 segundos, mas estão a ficar longe de Bouffier, que já têm 38,7 segundos de avanço no final deste primeiro dia.

Sebastien Ogier andou em recuperação depois do seu toque no muro, ainda na primeira classificativa. O piloto da Volkswagen tentou fazer as melhores escolhas possiveis com os jogos de pneus que tinha à sua disposição, mas no final, perdeu já 47,3 segundos para o líder do rali.

Mads Ostberg é o quinto, mas já sofreu um pouco neste rali, quando sofreu um pião na classificativa inicial, devido à má escolha na "lotaria dos pneus". Apesar de tudo, manteve-se na estrada e agora é o quinto, mas está a um minuto e 20 segundos do líder e têm atrás de si o galês Elfyn Evans, que apesar da sua juventude, está a fazer um excelente rali com o Fiesta oficial.

Quem já está muito atrasado é Jari-Matti Latvala, o sétimo classificado e a mais de dois minutos e vinte segundos, na frente do seu compatriota Mikko Hirvonen. Mas o atraso de Latvala é explicado pela opção errada dos pneus na primeira classificativa e por uma toada bem mais cautelosa a partir dali. Pela tarde, acelerou o ritmo e venceu a quarta especial, estando agora em franca recuperação. A fechar o "top ten" estão o terceiro Volkswagen de Anders Mikkelsen e o Ford Fiesta S2000 do suiço Oilvier Burri.

Amanhã, o Monte Carlo tem mais um dia complicado com especiais longas e previsão de mais neve nos troços. 

Noticias: Ron Dennis volta a ser o chefe da McLaren

Ron Dennis regressa ao comando da McLaren. Depois de alguns anos a cuidar da divisão de estrada da marca, ajudando a colocar os modelos MP4-12C e o supercarro P1, a equipa de Woking anunciou esta tarde que ele está de volta como CEO, ou presidente executivo, em substituição de Martin Withmarsh. Numa comunicação de vinte minutos aos funcionários esta tarde, Dennis afirmou que "haverá mudanças", deixando também uma certeza: "voltaremos a vencer".

Contudo, no comunicado oficial, a mensagem é outra: “Os outros acionistas decidiram escolher-me no sentido de escrever um novo e empolgante capítulo na história da McLaren, começando por melhorar nossa performance dentro e fora da pista. Nas próximas semanas, pretendo empreender uma profunda e objetiva revisão de cada um dos nossos negócios, com a intenção de otimizar todos os aspectos das nossas operações, enquanto identificamos novas áreas de crescimento que capitalizam as nossas tecnologias, e, onde apropriado, investirmos nelas no futuro. Estou empolgado com a perspectiva de retornar à função de diretor-executivo do Grupo e trabalhar com meus muitos colegas e acionistas para atingirmos nosso objetivo – que é vencer em tudo o que fazemos”, declarou. 

O regresso de Ron Dennis aos comandos da empresa acontece numa altura em que a marca passa por um período de transição. Sem saber ainda quem vai ser o seu novo patrocinador, após a saída da Vodafone, a partir de 2015, a marca terá motores Honda Turbo. Mas na Formula 1, as coisas andam más, especialmente após uma péssima temporada na Formula 1 - a primeira sem pódios desde... 1980. Para além disso, outro dos sócios minoritários, Mansour Ojjeh, está em convalescença, depois de ter sido operado para um duplo transplante de pulmão, no final do ano passado.

Segundo afirma a Autosport britânica, a chegada de Dennis não significa a imediata substituição de Martin Withmarsh na equipa de Formula 1, pois tal decisão só acontecerá em meados de fevereiro. Caso seja também substituido na estrutura, provavelmente poderá significar que a marca poderá tentar contratar Ross Brawn, que saiu da Mercedes no final do ano passado e que está em licença sabática.

WEC: Filipe Albuquerque na equipa oficial da Audi

Filipe Albuquerque sai da DTM e vai para a Endurance, sempre ao serviço da Audi. Foi o que a marca alemã anunciou esta manhã em comunicado oficial. O piloto português vai substituir Allan McNish, que anunciou no final do ano passado a sua retirada da competição.

“Vou competir em Le Mans no Audi R18 e-tron quattro, o melhor carro na maior corrida do mundo. Vou conhecer várias tecnologias emocionantes e novas para mim, e com colegas experientes a minha familiarização será mais rápida", afirmou em comunicado oficial.

Mais tarde, na sua pagina de Facebook, confirmou: "Vou correr nas 24h de Le Mans. O meu projecto principal em 2014 vão ser as míticas 24h de Le Mans. Desta feita, vou deixar de correr no DTM para me concentrar a 100% nesta grande prova. É um sonho tornado realidade correr numa prova desta dimensão e logo com a Audi! Vou ter que aprender muito, mas com testes e a corrida de 6 horas de Spa espero poder estar em grande nível. Espero por vocês a 14 de Junho.", escreveu.

Para além disso, Albuquerque vai estar presente no programa de GT, que começa já no final deste mês com as 24 Horas de Daytona.

Aos 28 anos de idade - nascido em Coimbra a 13 de junho de 1985 - Filipe Albuquerque chegou agora a um lugar muito ambicionado, desde que integrou na estrutura da marca de Inglostadt, em 2009. Primeiro, a guiar carros na GT3 no campeonato italiano, onde foi vice-campeão em 2010, e depois no DTM, onde conseguiu em três temporadas, um pódio e 51 pontos. A sua participação no WEC, contudo, vai começar bem antes, nas Seis Horas de Spa-Francochamps, em maio.

Youtube Rally Crash: O acidente de Thierry Neuville em Monte Carlo

O primeiro dia do Rali de Monte Carlo está a terminar e foi... bem agitado. Trocas constantes de líder entre as quatro marcas, mas a Hyundai saiu a perder neste dia, primeiro com o acidente de Thierry Neuville, logo na primeira especial, e depois com o problema de bateria de Dani Sordo, colocando a marca coreana fora de combate logo no primeiro dia. E até que eles mostraram potencial para andar à frente...

Eis o video e as explicações do piloto belga sobre este acidente, claramente vitima dos seus excessos e das condições imprevisiveis do asfalto monegasco...

Nos 80 anos de "Nicha" Cabral (parte dois)

Hoje neste especial sobre os 80 anos de Mário de Araújo Cabral, o famoso "Nicha", falo sobre aquilo que foi a "segunda parte" da sua carreira. Que ele a vai desenvolver tanto perto, como longe de Lisboa e Porto, especialmente para um lugar onde se adorava automobilismo e onde o panorama era pujante: Angola. Apesar dos guerrilheiros quererem perturbar as atividades do país, na sua luta pela independência, ali vivia-se em sossego, sem perturbações, a a sociedade vivia uma era de prosperidade. E isso reprecutia-se no automobilismo. Para terem uma ideia, era em Angola que se viam carros como o Ford GT40, o Porsche 908 e o Alfa Romeo T33, por exemplo. 

"Nicha" já tinha competido em 1961 e 1962, mas a partir de 1969 começa a correr regularmente em paragens angolanas, contra pilotos como António Peixinho, e nesse periodo, a rivalidade foi intensa, atiçada principalmente pelos concesionários de automóveis. Peixinho era representado pela Alfa Romeo, e Nicha correu ao serviço da BMW, e os seus duelos faziam vibrar aquele país africano. A "corrida às armas" - leia-se, carros - tinha começado com Emilio Marta e o seu Ford GT40, mas depois apareceram Peixinho, com o Alfa Romeo GTA e Nicha, com o BMW 2002Ti. Quando Peixinho responde com um Alfa Romeo T33, Nicha têm "carta branca" para ir diretamente à Alemanha Federal, mais concretamente à Schnitzer, para ir buscar um BMW 2800 CS. Com ela, ganhou as Seis Horas de Nova Lisboa de 1971 (atual Huambo) com um jovem piloto alemão a seu lado. O seu nome era Hans-Joachim Stuck

A luta termina em 1973 quando a organização do Autodromo de Luanda (como o Estoril, também inaugurado em 1972, como o de Benguela) decide juntar Nicha e Peixinho num Lola T2292-BMW para correrem juntos, e a parceria é um sucesso. Mas entre eles, não havia inimizade, bem pelo contrário: as corridas só serviriam para aguçar a competição entre dois pilotos com estilos de condução diferentes. Se Nicha era piloto de pista, Peixinho era um senhor mais versátil, com passagens pelos ralis, por exemplo.

Quando não está em Angola, corre em Portugal com os Sport-Protótipos. Por exemplo, corre em Vila Real com o Porsche modelo 917 verde, pertencente a David Piper, e que disse anos depois que foi o carro que lhe deu mais prazer em guiar. Mas em 1972 volta a correr internacionalmente, na Ecurie Bonnier, com os Lolas-Cosworth T290 de 3 litros. Participa nas 24 Horas de Le Mans, ao lado de Jorge de Bragaton (um principe de origem georgiana) e o belga Hugues de Fierlandt, mas o carro acaba por desistir ainda antes de Nicha fazer a sua parte em La Sarthe. A equipa anda bem, mas a sua participação termina com a morte trágica de Jo Bonnier.

E algumas semanas depois, está em Nova Lisboa, ajudando a fazer aquela que é provavelmente a mais rica e mais internacional prova de sempre do automobilismo angolano, antes ou depois da independência. Com quatro Lolas de três litros presentes, dois Porsches 908 e um Ford GT40, pelo menos, e pilotos como Gerard Larrousse, Vic Elford e Jan Balder, em termos internacionais, e nacionais como Carlos Gaspar, que começa a fazer aquilo que viria a ser depois o Team BIP, provavelmente a maior aventura portuguesa no automobilismo internacional.

A prova parecia ser para Nicha, que faz parelha com Claude Switlick, mas na quarta hora, ele têm um problema na suspensão traseira-direita e tem de ser ele a fazer a reparação, pois a organização tinha decidido proibir a assistência mecânica. Teve de ser ele a fazer as reparações, e quando as fez, estava bastante atrasado na classificação, e "voou" para fazer a volta mais rápida e a acabar no quinto lugar da geral. Contudo, tinha ganho o dia e conquistado o público.

Fora das pistas, tinha fama de "bon vivant", quer um Portugal, quer no estrangeiro. Em fevereiro de 1971, ele e mais três amigos decidiram fazer uma partida do qual conseguiu enganar... o diretor de um jornal e com ele, meio país. Na altura, surgiu o rumor de que três representantes árabes estariam em Lisboa no sentido de haver uma espécie de flexibilização em termos de abastecimento petrolifero. Ainda não havia as crises petroliferas, mas já existia a OPEP, a Organização dos Países Produtores de Petróleo, e as suas movimentações enervavam o Ocidente.

Então, o jornal "O Século" soube que esses arabes iriam jantar no Tavares, o mais luxuoso restaurante de Lisboa, e eram chefiados por um "principe Ibn Seddak". O jornal mandou um repórter e eles falaram pouco, mas o suficiente para haver foto e uma pequena noticia. Contudo... os árabes eram falsos. Na realidade era Nicha Cabral e mais alguns dos seus amigos - Michel da Costa, um famoso cozinheiro, era um deles - e quando a "peruca" foi descoberta, a risada foi geral e o embaraço ficou-se pelo jornal... e no regime de então, que chegou a mobilizar um secretário de estado para falar com os tais "árabes". Quanto a eles, não lhes aconteceu de nada, mas tiveram uma história para contar aos netos.

Mas "Nicha" têm outra história, pouco conhecida e só mais recentemente veio à superficie. Na sua juventude, teve aventuras com mulheres... e homens. Especialmente com homens. Muito estranho, especialmente no Estado Novo que tinha fama de reprimir homossexuais, considerando-os como "desviantes" e chegando a condená-los à prisão e a serem hostilizados pela sociedade. Mas como "Nicha" fazia parte da elite, neste caso concreto, à elite do Porto, esses não eram incomodados.

"Nunca senti que fosse incomodado pela policia. Eu achava que era normal o que fazia... homossexualidade, bissexualidade, nunca achei que fosse um desvio, vivi sempre num meio não homossexual. Tinha um grande amigo, o actor Paulo Renato, um homem superiormente inteligente, que pensava como eu, e que eu saiba, não se sentia perseguido", contou, em 2009, numa entrevista ao jornal "Publico".  Mais recentemente, primeiro na sua autobriografia, e depois com outro livro, "Terceiro Sexo", de 2010, Nicha contou com mais abertura sobre as suas aventuras. E confessou que sentia elogiado quando era assediado por homens... heterossexuais.

Voltando à competição, em 1972-73, ele integra o rol de pilotos do Team BIP. Essa era a sigla de "Banco Internacional Português", uma instituição que tinha tido uma ascensão forte e veloz no mundo financeiro e era comandado por Jorge de Brito, que anos depois, nos anos 90, se tornou no presidente do Benfica. Mas para além disso, era um apaixonado pelo automobilismo, e a partir de 1971, compra um modelo Lola T290 de 3 litros para competir no campeonato nacional e no Mundial de Sport Protótipos.

Começando primeiro com Carlos Gaspar, a equipa em 1973 contava com Nicha, Gaspar, Carlos Santos e Jorge Pinhol, que no ano anterior tinha competido na Formula 3 britânica. Se Pinhol e Santos significavam juventude, Gaspar e Nicha eram as vozes da experiência. Quanto aos carros, eram os Lolas que pertenciam à Ecurie Bonnier. Aliás, eles tinham decidido comprar a equipa, após a morte do seu proprietário.

Contudo, a passagem de Nicha é de curta duração. Uma bronca depois da primeira corrida do ano, os 1000 km de Monza, com o "team manager" Georges Jost, que tinha vindo da Ecurie Bonnier, faz com que ele abandone a equipa. Mas depois alinhou em Vila Real ao lado de Vic Elford, num March-BMW, mas o carro era bem mais fraco do que os Lola. no final do ano, voltou aos monolugares, correndo num March para a prova do Estoril do Europeu de Formula 2.

Em 1974, Nicha têm 40 anos e começa a planear a carreira depois da pilotagem. Pensa sériamente na ideia da Formula 1, com o apoio do Banco BIP. Chega a pensar construir um chassis na Chevron, mas entretanto, a crise do petróleo e o 25 de abril, que coloca Portugal nas nações democráticas, acaba com os planos. E em outubro desse ano, o banco é intervencionado pelo Estado português. Nicha corre até 1975, e abandona a competição.

Na última pergunta na entrevista ao jornal i sobre a sua aventura na Formula 1, "Nicha" afirma que o dinheiro, o amadorismo da coisa e a sorte (ou o azar) o impediram de ter uma melhor carreira na categoria máxima do automobilismo: "No fundo, tive sorte e azar. Não levava aquilo a sério. A Fórmula 1 não era o circo de agora e não tinha um manager. Tinha uns amigos e tal. Mas gostei da aventura. Imperdível."

Feliz Aniversário, "Nicha"!    

Youtube Rally Video: Monte Carlo Shakedown

A poucas horas do inicio do Rali de Monte Carlo, e do Mundial WRC de 2014, eis as imagens do "shakedown" que aconteceu na tarde desta quarta-feira, onde Ford, Citroen, Hyundai e Volkswagen se defrontaram neste primeiro confronto. E o mais interessante é ver pelo menos duas coisas: está tudo equilibrado - apesar da novidade Hyundai - e ver que não há neve na superficie. 

Isso pode significar um rali seco, e pilotos como Robert Kubica, por exemplo, poderão brilhar. Ele fez o quinto temo do "shakedown" e foi o melhor dos Ford. A ver com atenção a partir desta quinta-feira. 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Os últimos rumores da Caterham

Ainda faltam oficialmente duas vagas para preencher, mas parece que uma delas já tem destinatário. E é um regresso que pode ser muito saudado pelos fãs, pois segundo a publicação italiana Autosprint, Kamui Kobayashi está a caminho de ser piloto da marca, após um ano de ausência da Formula 1.

Os detalhes não são muitos, mas aparentemente, o piloto de 27 anos terá assinado por uma temporada pela equipa de Tony Fernandes, que neste momento está indeciso entre escolher o sueco Marcus Ericsson e o holandês Giedo Van der Garde para o segundo lugar.

Kobayashi poderá ter algum dinheiro de lado para pagar o seu lugar, depois de no final de 2012 ter conseguido oito milhões de dólares vindos dos seus fãs no Japão, mas também poderá ter mais um extra vindo de patrocinadores nipónicos. Apesar de não ter conseguido um lugar na temporada passada - acabou por guiar numa Ferrari da AF Corse no Mundial de Endurance - decidiu este ano voltar a insistir no regresso à Formula 1, e aparentemente poderá ter conseguido.

Ontem, outro rumor ligado à Caterham afirmava que o holandês Robin Frijns poderia ser o terceiro piloto da marca, e poderia testar o carro nas sessões de pré-temporada. A informação veio do jornal local ‘Dagblad De Limburger’, mas ao site GPUpdate.com, Frijns afirmou que ainda está a negociar os seus planos imediatos. “Ainda estamos a trabalhar nos planos para 2014, a Fórmula 1 é uma possibilidade mas não se sabe mais nada”, comentou o holandês, campeão de 2012 da Formula Renault 3.5.

Uma coisa é certa: as coisas andam muito calmas na sede da Caterham, provavelmente a preparar a todos o vapor no CT04, o novo bólido da marca, com motor Renault, que deverá estar pronto para rodar nos primeiros testes da temporada, em Jerez.

Dakar 2014 - Etapa 10 (Iquique - Antofagasta)

A etapa de hoje do Dakar, corrida em território chileno, mais concretamente entre Iquique e Antofagasta, ficou marcada pelo abandono do local Jeremias Israel Esquerre, que segundo a Agência EFE, terá embatido num carro de espetadores ao km 114 da especial de hoje. O piloto sofreu vários traumatismos, mas sem muita gravidade.

No final, o melhor foi Joan Barreda Bort, que venceu a etapa com  oito minutos de avanço sobre Hélder Rodrigues, que continua a fazer a sua recuperação no Dakar. Com a queda de Esquerre, é agora o quinto da geral, e aproximou-se dos quatro primeiros. Cyril Després foi o terceiro, a nove minutos e 40 segundos de Barreda, enquanto que Olivier Pain terminou no quarto posto, a onze minutos e onze segundos, menos 15 segundos que Marc Coma, o quinto na etapa.

Foi uma etapa onde sabia que tinha de ir ao ataque, porque as diferenças para quem estava à minha frente e atrás de mim eram pequenas. Nas dunas estive bem, naveguei sem cometer erros e o percurso era bastante interessante. Já no segundo troço, o fesh fesh matou-nos. Mesmo assim consegui imprimir um bom andamento e na parte final o Joan juntou-se a mim. Estou satisfeito com a minha prestação e quero-me manter assim nos próximos dias”, salientou o piloto português à chegada a Antofagasta.

Na geral, Marc Coma têm um avanço de 44 minutos e dez segundos sobre Barreda Bort, enquanto que a diferença para Jordi Villadoms, o terceiro classificado, está em... duas horas e dois minutos. Mas Villadoms têm atrás de si o francês Olivier Pain (a 13 minutos de si) e Hélder Rodrigues, a 19 minutos de Pain.

Nos automóveis, a etapa também ficou marcada pelo acidente e consequente desistência de Carlos Sainz, quando capotou o seu buggy. Ambos sairam com ferimentos ligeiros (foi evacuado para o bivouac por precaução), mas para esta temporada, o rali ficou por ali. Segundo conta no seu Twitter pessoal, tinham saído do percurso porque precisavam de combustível, quando tiveram o acidente.

Na etapa, Stephane Peterhansel continuou com a sua recuperação, com hoje a conseguir recuperar quase dez minutos a Nani Roma (nove minutos e 55 segundos, para ser mais preciso), que foi vitima de um furo e perdeu tempo quando atravessava uma duna. Resultado final: a diferença entre os dois é de... dois minutos e 15 segundos. Muito pouco para um "rally-raid" como o Dakar.

Mas o vencedor da etapa foi outro: o qatari Nasser Al-Attiyah, que com o seu Mini, com uma vantagem de três minutos e 50 segundos sobre Stephane Peterhansel. Nani Roma foi o terceiro, seguindo pelo sul-africano Giniel de Villiers. Orlando Terranova foi o sétimo na etapa, depois de ter perdido meia hora numa duna, mas é o terceiro da geral.

Amanhã, o Dakar sai de Antofagasta e vai para El Salvador, num total de 605 quilómetros cronometrados.  

Batize o novo chassis da Ferrari

Para quem não sabe, a Ferrari vai lançar o seu carro a 24 de janeiro, quatro dias antes dos primeiros testes, em Jerez. Ou seja, se ninguém se antecipar, eles vão ser os primeiros a mostrar o seu novo carro para esta temporada. E na sua página oficial, pediu aos "tiffosi" para que escolham o nome que o novo carro deverá ter para esta temporada, com cinco hipóteses:

- F14 T
- F14 Maranello
- F14 Scuderia
- F166 Turbo
- F616

Os dois últimos fazem lembrar os números que davam aos seus bólidos nos anos 60, 70 e 80, como por exemplo, o modelo 312 (três litros, doze cilindros), e logo, o 166 remete para isso mesmo - 1,6 litros, seis cilindros. Quanto aos três primeiros nomes, remetem mais para a atualidade, quando os carros começaram a ser batizados com uma representação do ano.

Para votar e escolher o seu nome favorito, podem ir neste link para o site da Ferrari. E não se deixem iludir pelo que está debaixo dos panos. Segundo o F1Fanatic.co.uk, pode ser o bico de um... F2001. 

Nos 80 anos de "Nicha" Cabral (parte um)

Nesta quarta-feira, discretamente, comemoram-se os 80 anos daquele que foi o nosso primeiro piloto de Formula 1 português: Mário de Araujo Cabral, o popular "Nicha". Para os que conhecem mais ou menos o que ele foi, sabem que foi um "bon vivant", cuja biografia foi publicada há mais de dez anos (em 2001, para ser mais exato) e creio eu, está esgotada há já algum tempo. 

Filho do Conde de Vizela, que construiu uma casa modernista no centro da cidade do Porto (e que hoje em dia faz parte do Museu de Serralves), Mário Manuel Veloso de Araújo Cabral começou cedo a sua aventura automobilística, aos 21 anos, com um Triumph TR2 de 90 cavalos que foi dividida em duas partes: a primeira, com os monolugares de Formula 2 e Formula 1, e a segunda, com os carros de Endurance e de Turismos, naquela que viria a ser a sua segunda casa, que era a Angola colonial, e que tinha um panorama automobilistico pujante, mais pujante que a "Metrópole" à beira-mar plantado.

Mas "Nicha", antes do automobilismo, era sobretudo um apaixonado pelo desporto. Praticou ginástica como federado, chegando a sonhar com os Jogos Olimpicos, mas o automobilismo surgiu bem cedo e como os resultados foram bons, experimentando outros carros, como Alfa Romeo Giulietta Spider ou o Mercedes 300 SL. A sua oportunidade de pilotar um Formula 1 apareceu cedo, em 1959, no Circuito de Monsanto. Tinha 24 anos e surgiu a oportunidade de guiar um Cooper T51 de motor traseiro, que começava a ser "o carro da moda" e que iria ditar o fim dos motores à frente na categoria máxima do automobilismo. 

Apesar da tenra idade e da pouca experiência, "Nicha" aproveitou a oportunidade providenciada pela Scuderia Centro Sud, cumpriu e levou o carro até ao fim, no décimo (e último) posto, a seis voltas do Cooper vencedor de Stirling Moss. E o mais interessante é que ele conseguiu o lugar... após um teste de 30 minutos, como contou em março de 2012 numa entrevista ao jornal português i.

" (...) O Mimmo Dei [patrão da Centro Sud] disse ‘vamos lá ver como ele anda na Formula 1’. E andei com o carro, em Modena. Meia-hora.

- Só?

- Sim, sim. Porque o carro não se podia partir, etc e as coisas. O Mimmo Dei andava sempre aflito de dinheiro. Vim para Monsanto sem conhecer o carro."

Mais interessante ainda foi a corrida. Como foi dito algumas linhas acima, "Nicha" chegou ao fim no décimo posto, mas havia uma história bem engraçada, demonstrativa da ingenuidade das coisas na altura e do perfeito desconhecimento da Formula 1, e isso envolveu a ele com o Ferrari de Tony Brooks.

"- E como lhe correu o GP?

- Bem, francamente bem. Acabei em 10º lugar mas há uma história engraçada. Nas três últimas voltas, o Terry (sic) Brooks vem coladinho a mim. O meu carro já estava a falhar por todos os lados mas o dele falhava ainda mais. Ainda assim, fiz-lhe sinal para me passar porque julgava que ele estava à minha frente e ia dar-me uma volta de avanço. 

- Ahhhhhh 

- Pois, ninguém das boxes dizia nada, estavam lá sentadinhos a ver a corrida, e eu pensava que o Ferrari do Brooks ia dobrar-me. Qual não é o meu espanto quando percebo no final da corrida que caí de 9º para 10º, através do Terry (sic) Brooks. Veio ter comigo a dizer-me ‘Mario, you’re fantastic, thank you’ e eu feito parvo a olhar para ele como quem diz ‘mas tu queres ver’. Ficámos sempre amigos a partir daí [risos]."

- Nessa corrida, houve um famoso acidente entre o Phil Hill e o Graham Hill.

- E outro com o Jack Brabham. Comigo!

- Nãããããooooo.

- Foi assim: ele estava a discutir o primeiro lugar com o Moss. Íamos na auto-estrada a entrar em Monsanto, eu olhei por um dos retrovisores e vi o nariz do carro dele a aproximar-se. Pensei ‘olha, vai ultrapassar-me nesta recta’ e cheguei-me à direita para ele ter espaço à esquerda. O que é que ele pensou? O contrário! Quando ele percebeu que eu já não ia para a esquerda, era tarde de mais. Sem espaço para entrar por fora naquela curva, foi de frente e bateu no vértice do triângulo.

- E depois?

- Ele ficou ali e eu continuei.

- Nas boxes, terminada a corrida, veio falar comigo. Estava furioso, a protestar. ‘Why don’t you break sooner?’ perguntou-me ele. ‘A culpa foi tua, eu não saí da minha trajectória. E mais, dei-te o espaço para avançares à vontade. Ninguém tem culpa que tu penses mal’. Sabe uma coisa? ... Ele nunca mais se esqueceu de mim. Anos depois, escreveu as suas memórias: ‘Não acabei o GP Portugal-59 por causa de um ‘very dangerous local boy’ [risos].

No ano seguinte, a Formula 1 estava de novo no Porto, o seu "quintal favorito", e "Nicha" voltou à carga com o mesmo carro, da Scuderia Centro Sud. Andou bem nessa corrida - chegou a rondar os pontos - mas um acidente na volta 38 esmagou-lhe as esperanças de um bom resultado.

Apesar dos rasgos promissores, a carreira teve de parar por uns tempos para cumprir o serviço militar obrigatório. Ficou lá dois anos e pelo meio foi a Angola, local onde se apaixonou e onde viria depois viver boa parte da sua vida. Somente voltou ao automobilismo em 1963, e claro, voltou a tentar a Formula 1, na equipa que o acolheu, a Scuderia Centro Sud, que corria com um Cooper T60, já um pouco mais desfasado da concorrência. O regresso foi no desafiador Nurburgring Nordschleife, e a sua corrida terminou na sexta volta, com a caixa de velocidades danificada.

"Pois... Caixa. Naquele tempo, nunca estavam afinadas. Ninguém se preocupava por aí além com isso. Sabe, o carro não tinha grande manutenção. Tirar os motores e abri-los, ninguém o fazia com frequência. Limpavam o motor e está bom.", disse Nicha, na entrevista.

Na corrida seguinte, em Monza, acabou por não largar. "(...) em Monza, percebi que o motor estava com problemas. Avisei as pessoas de direito, ‘atenção que é preciso ver isto’, mas ninguém fez caso. É claro, o carro nos treinos começou logo a aquecer por ali fora e fizemos o penúltimo tempo, mas não participámos na corrida. Demos o lugar ao [Giancarlo] Baghetti e os italianos deliraram. Tenho para aí uma reportagem intitulada ‘La cavaleria de Cabral mete Baghetti in pista.” 

Em 1964, aceitou o desafio da Derrington-Francis, que nas cinzas da fracassada aventura da ATS (Automobili Turismo e Sport) de Carlo Chiti, Alf Francis (mecânico que ganhara nome com Stirling Moss) e Vic Derrington decidiram pegar no motor ATS e fazer melhor onde outros tinham fracassado. Detalhe interessante: calçaram pneus Goodyear, naquela que iria ser a primeira vez que a marca americana faria a sua primeira aparição na Formula 1.

"Olhe, fui o primeiro piloto da Formula 1 a correr com Goodyear. Isto é muito engraçado. A Goodyear não estava preparada para isso mas o Alf Francis, mecânico do Stirling Moss e grande amigo meu, sugeriu a um big boss da Goodyear usar os pneus num GP. Testámos em Monza e corremos com eles. E realmente resultou. Os pneus funcionavam, davam mais suavidade que os Dunlop, pelo menos em relação ao meu carro. A Goodyear entrou então na Formula 1. O início de uma bela aventura!"

Estrearam-se em Monza, e conseguiu o 19º tempo em 21 carros inscritos. Ao longo da corrida, esteve sempre na frente do veteranissimo Maurice Trintignant e do jovem americano Peter Revson, até que a ignição do seu carro falhar na 25ª volta.

Derrington-Francis esperavam que este ensaio fosse o primeiro de muitos, e quiseram "Nicha" para a temporada seguinte. Mas certo dia, pediram a opinião de Dan Gurney sobre o conjunto. Ele acedeu, mas o teste correu mal. Teve um acidente e o chassis ficou irrecuperável, e a aventura ficou-se por ali.   

Por essa altura, "Nicha" queria o sonho da Formula 1, mas andava também na Formula 2, a bordo de chassis como os da Brabham. Não tanto sustentado pela sua fortuna, mas mais pelas representações portuguesas de algumas marcas como a BMW. Conseguiu alguns bons resultados, batalhando diretamente contra Jim Clark, por exemplo. Mas a meio de 1965, em Rouen, quando tinha um Brabham BT16 inscrito pela Sorocaima, por muito pouco não acabava por ali. O acidente foi bem grave, e atirou-o para a cama de um hospital. Foram seis meses de calvário e dois anos de afastamento das pistas.

"(...) Não morri por milagre. Despistei-me, dei duas voltas e fui parar à mata. O carro embateu numa árvore, partiu-se em dois e eu aterrei numa zona de silvas, que me ampararam o golpe. Saí todo picado, com 17/18 fracturas. Estive seis meses num hospital em Rouen, onde uma enfermeira salvou-me da morte com embolia pulmonar. Ela estava sempre ao meu lado e tinha a injecção pronta. Salvou-me a vida às duas e quatro da manhã."

Quando volta a competir, em 1967, têm já 33 anos e muitos duvidam da sua capacidade de competir. Como é óbvio, os monolugares estavam colocados de parte, e ele correu num Porsche Carrera 6 numa das corridas mais importantes de então: o Circuito de Montes Claros, numa versão do Circuito de Monsanto, que o viu estrear oito anos antes na Formula 1. Os circuitos permanentes ainda eram uma ilusão em Portugal - Estoril só apareceria em 1972 - mas "Nicha" aproveitou a oportunidade para testar a ele mesmo as suas capacidades de condução. Venceu... e convenceu.

Amanhã, conto mais coisas sobre a rica vida e carreira de "Nicha" Cabral.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Dakar 2014 - Etapa 9 (Calama - Iquique)

A nona etapa do Rali Dakar, já em terras chilenas, ligou as localidades de Calama e Iquique, no total de 422 quilómetros cronometrados, ficou marcado por mais uma vitória de Marc Coma nas motos - e a subida de Hélder Rodrigues na classificação geral - e pelo triunfo de Stephane Peterhansel, ampliando o seu recorde de vitórias, e para os problemas de Carlos Sainz.

Começa-se pelas motos, onde Marc Coma foi o grande vencedor, aumentando a vantagem sobre a concorrência, nomeadamente para Joan Barreda Bort, em um minuto e 41 segundos. Já Cyril Després terminou no terceiro posto, a cinco minutos e 28 segundos de Coma. Juan Pedrero Garcia foi o quarto nesta etapa, enquanto que Hélder Rodrigues foi o sétimo na geral, a onze minutos e 44 segundos, e subiu para o sexto posto da geral. O mais interessante foi o nono colocado, que acabou nas mãos... de uma mulher. A espanhola Lala Sanz, a bordo de uma Honda, terminou a 14 minutos e 34 segundos do vencedor.

Na classificação geral, Coma continua na frente, a 40 minutos e 19 segundos de Barreda Bort, e a uma horta e 38 minutos de Jordi Villadoms. Hélder Rodrigues é agora o sexto, a duas horas e 24 segundos de Coma, mas o quarto classificado (ocupado por Jeremias Israel Esquerre) está a meros... 17 minutos do piloto português.

Nos automóveis, Stephane Peterhansel está em recuperação. Venceu hoje - alargando o seu recorde de vitórias no Dakar para 64 - e a diferença para Nani Roma caiu para meros doze minutos, o que faz com que o piloto espanhol tenha de voltar ao ataque para "estancar a sangria" e segurar a liderança até Santiago do Chile. Roma foi apenas terceiro, já que o segundo classificado foi o qatari Nasser Al-Attiyah. Orlando Terranova foi o quarto, no dia em que Carlos Sainz teve uma avaria no seu buggy, acabando apenas no 26º posto na etapa e caindo bastante na classificação geral.

Na geral, Roma lidera, com Peterhansel a aproximar-se velozmente. Orlando Terranova é o terceiro, a 55 minutos do piloto espanhol, cinco minutos na frente de Nasser al Attiyah, que ascendeu ao quarto posto da geral. Giniel de Villiers é o quinto e o primeiro "não-Mini" na classificação.

O Rally Dakar continua amanhã, com as motos e automóveis a enfrentarem uma longa especial de 631 km entre Iquique e Antofagasta, em terras chilenas.

Os pensamentos da Volkswagen na véspera de Monte Carlo

A poucos dias do começo do Mundial de Ralis, em Monte Carlo, Sebastien Ogier vai começar a defender o Mundial ganho no ano passado ao volante do seu Polo R WRC, contra uma concorrência cada vez mais numerosa, agora que em 2014 teremos uma nova marca nas classificativas, a coreana Hyundai. Apesar de Sebastien Löeb estar agora a competir noutras paragens, e Thierry Neuville estar mais ocupado em fiabilizar uma nova máquina, Ogier "espera para ver" o que vai ser este novo campeonato:

O nosso principal objetivo é defender o título. Nunca é fácil ser campeão, mas defender um título com sucesso é ainda mais difícil. Estou seguro que as outras equipas nos terão sobre pressão. Contudo, estou confiante para esta nova época após o sucesso de 2013.", começou por dizer. 

Quando ao carro que têm, assegura que houve evolução, mas com um novo concorrente na estrada, reconhece que a competição vai ser mais feroz e não convêm baixar a guarda: 

"Fizemos algumas melhorias ao Polo R WRC, é agora mais fiável por exemplo. Um novo construtor vai entrar este ano, a Hyundai, o que torna a competição ainda mais feroz. É isto que espero em Monte Carlo. Estou igualmente satisfeito por ‘Monte’ começar este ano na cidade onde vivo, Gap. É um incentivo extra para eu ser o mais rápido no fim do rali”, concluiu.

Jost Capito, o diretor da equipa alemã, sabe que nesta segunda temporada no WRC, há que continuar a trabalhar e não descansar sobre os louros, especialmente quando têm pela frente um rali dificil e imprevisivel como Monte Carlo, e uma concorrência cada vez mais numerosa e tendencialmente forte. “Ganhámos tudo mas isso não significa que seremos arrogantes ou complacentes esta época – particularmente no icónico ‘Monte’. A nossa abordagem será com grande respeito , concentração máxima e comprometimento absoluto”, disse na cerimónia de apresentação da equipa, em Monte Carlo.

O rali de Monte Carlo sai esta quinta-feira para a estrada.