domingo, 22 de setembro de 2024

A imagem do dia


A volta mais rápida de Daniel Ricciardo no GP de Singapura poderá ser um motivo de aplausos - é a 17ª da sua carreira - mas na realidade, o piloto australiano acabou na 18ª e última posição, embora na mesma volta do vencedor, e claro, ajudou Max Verstappen ao tirar um ponto a Lando Norris e claro, com os 52 pontos que agora há de diferença entre ambos, Max tem tudo controlado, dependerá de ele mesmo para ganhar o título. 

Noutras alturas, seria um motivo para ver as coisas pelo lado positivo, mas quando ele falou para a imprensa, o seu estado de espírito era outro:

"São muitas as emoções. Estou ciente que as coisas acabam aqui. Também, estou exausto depois desta corrida. Há um fluxo de emoções neste momento. O cockpit é um lugar... que me familiarizei ao longo dos anos, e... só quero dizer que aproveitei o momento."

Tudo - a emoção na sua voz, a linguagem corporal - indicava o seguinte: Ricciardo poderá estar a fazer ali a sua última corrida na temporada. Amanhã, provavelmente - ou nos próximos dias - a Red Bull anunciará que o piloto australiano será substituído pelo neozelandês Liam Lawson, para correr nas últimas seis corridas da temporada, depois de outra meia temporada em 2023, quando Ricciardo se lesionou na mão, nos treinos do GP dos Países Baixos, em Zandvoort. Um final que muitos acham ser melancólico, para o potencial que mostrou há uma década.  

Ricciardo ainda espera ser uma espécie de "suplente de luxo" para poder guiar em 2026, por exemplo, ou mais cedo, se a Red Bull se livrar de Sérgio Pérez - algo que se falou muito na primavera. Mas se for assim, ser uma espécie de "suplente de luxo", é algo que Ricciardo não merece, para alguém que a certa altura foi considerado como alguém que, legitimamente, poderia se candidatar ao título. E as 14 temporadas que já tem nas costas - com passagens por Hispania, Toro Rosso, Red Bull, Renault, McLaren e de novo, Racing Bulls - merece muito mais que este "pedinchar".

Há quem afirme que este regresso não deveria ter acontecido, mas se a chance existe, e está fixada nela, porquê iria deixar de lado e não tentar outros lados? Mas creio que correr entre a elite do automobilismo faz isto aos pilotos que passam por lá. E ainda por cima, Ricciardo é um dos "nice guys" da Formula 1, no qual todos torcemos pelo melhor possível.

E esta tarde, muitos de nós não deixam de ter alguma tristeza por vê-lo partir dali.  E este "driver of the day" votado pelo público é mais uma homenagem dos fãs que um aplauso pela corrida que fez esta noite. 

Formula 1 2024 - Ronda 18, Singapura (Corrida)


Singapura, uma das mais importantes cidades-estado da Ásia e do mundo, recebe a Formula 1 há mais de década e meia, e desde então se tornou num lugar onde a competição faz questão de lá ir. Apesar de, à medida que passam os anos, se tornar menos uma corrida decisiva, mas sim, a porta de entrada da Formula 1 na Ásia - se contarmos com Baku sendo uma corrida na Europa - com o aproximar do final da temporada, é saber se a Red Bull conseguirá controlar os estragos perante uma McLaren em alta nas últimas corridas.

E numa temporada onde todos pareciam ver Max Verstappen a ir embora, rumo a mais um título, agora parece estar aflito.  

Num lugar muito húmido, onde resistir era palavra de ordem, e com quase todos a largar com médios, é saber quando é que trocarão para duros, no sentido de fazer não uma troca, mas sim duas, provavelmente. E se isso, em termos de estratégia, será vantajoso ou não. claro, outra grande pergunta na mente dos fãs: será que Lando Norris largará da pole-position e manterá a primeira posição no final da primeira volta? 


Boas noticias: na partida, Norris aguentou bem os ataques de Max e manteve a liderança. Alguma corrida, as coisas tinham de dar certo para o piloto da McLaren. Oscar Piastri, ao contrário, perdeu um lugar para Nico Hulkenberg, mas pouco depois, ainda na primeira volta, recuperou-o.  

Com o passar das voltas, existia a expectativa de Max andar a par de Norris, mas o piloto da Ferrari não errou, conseguindo impor um ritmo bem superior a ele. Já se sabia que isso poderia acontecer, mas num circuito citadino, onde as armadilhas existem, o britânico da McLaren estava a ser perfeito, o que era bom para os rapazes de Woking. E a estratégia poderá ser ainda mais favorável para Norris, se fosse para uma só paragem.   

Na volta 14, as primeiras paragens, com Alex Albon, da Williams, a trocar para os duros, para ver se aguenta o mais que pode. Daniel Ricciardo tinha ido uma volta antes. Por esta altura, Norris já tinha mais de 10 segundos de vantagem sobre Max, com Lewis Hamilton em terceiro, já com sete segundos de desvantagem sobre Max. Por esta altura, Albon ia para as boxes, para terminar prematuramente a sua corrida. A primeira retirada da prova. Em contraste, o seu companheiro era já nono. 

A seguir veio Carlos Sainz Jr, tentando antecipar o pelotão à sua frente, nesta altura, com Hamilton a ir na volta 18, colocando duros. Contudo, os pilotos que trocaram de pneus, ao longo das voltas, começaram a pensar que, se calhar foram à boxes cedo demais. Na volta 25, Norris já tinha 18 segundos sobre Max, que por sua vez, já tinha 12,3 sobre George Russell, que tinha Piastri colado na sua traseira.  


Alonso parou na volta 26, para colocar duros, e se calhar parecia que estes duros, que vão até quase a meio - não faltava muito para o meio da corrida - e parecia que iriam para uma só paragem. Neste momento, o grande interesse da corrida era o duelo entre Russell e Piastri. E era interessante, porque era um lugar no pódio que estava em jogo. 

Nas voltas 28 e 29, Russell e Pérez foram às boxes, trocar para duros, muito provavelmente, a altura que tinham combinado com os engenheiros. Max foi na volta 30, numa altura em que Norris tinha... 32 segundos de vantagem sobre Piastri. O neerlandês saia logo atrás de Charles Leclerc, no quarto posto, antes de o passar. Norris foi às boxes na volta 32, queixando-se de algum dano na asa frontal, mas depois dos mecânicos verem, deram luz verde para regressar, mantendo a liderança. Nesta altura, Norris tinha 21 segundos de vantagem sobre Max, em terceiro. Piastri era segundo, a pouco mais de três segundos, mas nesta altura, ainda não tinha ido às boxes. 

Na volta 37, Leclerc foi às boxes, e nesta altura, o único piloto da frente de Piastri, que é segundo, e tinha mais de 10 segundos sobre Max. Piastri veio na volta seguinte, para meter... duros, com ele a regressar à pista na quinta posição. Agora, Norris já tinha 23 segundos e meio sobre Max, com Russell e Lewis a seguir, este último já assediado por Piastri. Atrás na sétima posição, Leclerc atacava Fernando Alonso para ser sexto, o que conseguiu na volta 41. Pouco depois, o australiano da McLaren passou o britânico da Mercedes, sendo quarto, e a perseguir Russell, noutro Mercedes.

Durou algumas voltas para que Piastri chegou à traseira de Russell, e na volta 45, conseguiu passar o piloto da Mercedes, para ser terceiro. Cedo se foi embora, indo atrás de Max, para ver se tinha tempo e ritmo para o apanhar e tentar uma dobradinha para a equipa de Woking, o grande objetivo nesta corrida. Mas isso por pouco poderia não ter acontecido, porque na mesma altura em que isso acontecia, Norris apanhava um susto, quando roçou o carro no muro. Felizmente, ele pode prosseguir, mas mostrava que naquele sitio e com uma corrida que poderia ser exaustiva, ficar permanentemente concentrado não é para qualquer um. 

Na volta 50, outro incidente: Kevin Magnussen, no seu Haas, tocou no muro e rasgou o pneu. Lentamente foi às boxes, mas iria perder muito tempo e posições.

Na parte final, Norris não estava preocupado. Bastava ficar concentrado e não tocar no muro, mas os 30 segundos de vantagem mostrava que o piloto da McLaren tinha tudo controlado, e com os 25 pontos que iria conquistar poderá diminuir a diferença na luta pelo campeonato. Atrás, Leclerc pressionava Russell para ficar com o quarto lugar... mas não conseguiu.


Na bandeira de xadrez, Norris ganhou com autoridade, na frente de Max e Piastri, que o acompanharão no pódio. Atrás, na última posição, veio uma surpresa algo desagradável, quando Daniel Ricciardo - na sua última corrida na Formula 1, provavelmente - conseguiu a volta mais rápida, tirando um ponto a Lando Norris. Agora com 52 pontos de diferença entre os dois, a seis corridas do final, parecia que Max continuaria a ser o favorito ao título mundial... por agora.