sexta-feira, 27 de setembro de 2024

A imagem do dia



Esta semana soube-se a morte do britânico Rupert Keegan, aos 69 anos de idade, depois de uma longa batalha contra um cancro. Um piloto que, naquela altura, tinha o aspeto, a rapidez e a fama de James Hunt, no final, em termos de resultados e expectativa... ficaram bem aquém. Contudo, Keegan teve uma existência bem interessante, a começar... pelo seu pai, Mike Keegan.

Começando a sua vida laboral como um humilde trabalhador na Vickers, a fábrica de aviões que fabricou Lancasters e Wellingtons na II Guerra Mundial, Mike Keegan passou a ser engenheiro de voo durante os "raids" da Royal Air Force fez contra a Alemanha nazi. No final da guerra, comprou aviões com 90 por cento de desconto e fundou uma companhia aérea dedicada à carga que, na Ponte Aérea para Berlim, em 1948-49, enriqueceu com os abastecimentos à cidade cercada pelo Exército Vermelho. Com esse dinheiro, adquire a British Air Ferries e enriquece ainda mais com o transporte de carga do Reino Unido para a Europa continental. 

Mike era excêntrico à sua maneira, e decidiu ajudar os seus filhos, especialmente Mike, o mais novo. Primeiro, comprou um Escort México, mas depois, vai para a Formula Ford, onde era tão veloz quando propenso a acidentes. Nos anos seguintes, na Formula 3, consegue ganhar corridas e ter acidentes de igual forma, mas em 1976, lutou contra o italiano Bruno Giacomelli pelo título numa das competições da Formula 3 britânica, a BP Champioship. Tudo acabou em Thurxton, com Keegan na frente do italiano na classificação, e no momento da partida dessa corrida... ambos bateram e desistiram, dando o título para ele. No outro campeonato, o da Shellsport - sim, a Formula 3 britânica tinha mais de um campeonato, e os pilotos podiam participar nela! - Giacomelli acabou por ganhar. Uma divisão justa...

Quando chegou à Formula 1, no famoso Hesketh 308E, com o patrocínio da Rizla e da Penthouse, ele conseguiu resultados respeitáveis, mas também ganhou a fama de folião, especialmente quando as modelos, pouco vestidas, posavam ao lado de Keegan nas pistas, antes das corridas. Na realidade... era o contrário. "Toda aquela "hype" da Penthouse era boa para a imagem de playboy, mas a realidade era exagerada, iamos cedo para a cama nos fins de semana das corridas", contou Keegan, anos depois.

A sua primeira corrida foi a Race of Champions, em Brands Hatch. Ele chegou a andar bem, sendo quarto a certa altura, e até a passar o Shadow de Jackie Oliver por fora na temida Paddock Hill Bend, mas no final, acabou na oitava posição. Depois, na temporada, um sétimo lugar no GP da Áustria foi o seu melhor resultado, e iria ser o melhor da sua carreira. 

No ano seguinte, segue para a Surtees, que tinha na altura o famigerado patrocínio da Durex, a marca de preservativos que fez com que a BBC boicotasse os Grandes Prémios, para reverter quando viram que James Hunt iria ser o campeão do mundo. Ele ficaria por uma temporada e meia, mas a equipa estava em decadência, e ele nunca chegou a pontuar. Falhou até a qualificação em seis corridas. 

Em 1979, Keegan foi para a Aurora Series, a competição britânica que tinha chassis de Formula 1 com pelo menos um ano de existência. Correndo um Arrows A1 da C.W. Clowes Racing, falhou as três primeiras corridas, mas depois, acabaria por ganhar cinco corridas até chegar à prova final, em Silverstone, contra o Wolf WR6 do irlandês Dave Kennedy, guiado no ano anterior por Jody Scheckter e inscrito pela Theodore.

Antes da corrida, Kennedy tinha 63 pontos, contra os 58 de Keegan, e ele sabia que tinha de ganhar para ser campeão... desde que o irlandês ficasse fora do pódio. A pista estava húmida por causa da chuva que tinha caído minutos antes, e na partida, Kennedy largara muito bem, destacando-se do pelotão, com Keegan atrás dele, que era acossado pelo americano Gordon Smiley, num Surtees. Ele passou Keegan para ser segundo, o que piorou ainda mais as coisas para ele. 

Mas Keegan atacou, e no final da primeira volta, na parte molhada, passou Kennedy e ficou em segundo, tentando até passar Smiley para ficar com a liderança e afastar-se mais do irlandês. Contudo, na décima volta, Kennedy passou Smiley e foi para segundo, e partindo para o ataque, tentando chegar a ele e atacar a liderança da corrida e confirmar o campeonato. O confronto aconteceu na volta 13, quando Keegan apanhou retardatários e o piloto do Wolf atacou, perto da chicane Woodcote. Como aquela parte ainda estava molhada e eles tinham slicks, ambos tocaram-se e despistaram-se. Kennedy acabou nas redes de proteção e ficou por ali, Keegan parou antes e continuou, falhando por muito pouco o Lotus estacionário de Emilio de Villota. Sorte de um, azar de outro. 

Keegan acabou por ser segundo, atrás de Smiley, e foi o campeão da competição. No ano seguinte. regressou à Formula 1, com um Williams FW07 inscrito pela RAM, sem grandes resultados, e depois de ter corrido em quatro corridas em 1982, pela March, a Formula 1 acabou para ele, partindo para a Endurance e a CART, com alguns resultados de relevo. 

Anos depois, disse sobre a sua carreira: "aparentemente, era um malandro, mas na realidade, era um dos que saboreou a vida". Talentoso e entusiasmante, os seus amigos consideraram-no como um excelente contador de histórias. Aliás, no seu perfil no Twitter, identificava-se como um "apreciador da vida". 

Morreu no passado dia 23, na sua casa na ilha de Elba, em Itália, depois de uma longa batalha contra um cancro. Ars longa, vita brevis. 

Sem comentários: