
Uma semana depois de se terem estreado nas ruas de Detroit, máquinas e pilotos rumavam a Montreal, para o GP do Canadá disputado na ilha de Nôtre-Dame, e que tinha sido mudado de calendário, passando de setembro para junho, no sentido de aproveitar o bom tempo que habitualmente se fazia sentir naquela altura do ano.
Contudo, aquele inicio de junho de 1982, ao mesmo tempo que o Mundo vibrava com o Mundial de Espanha, e todos viam equipas de sonho a jogar em campo, como o Brasil de Telé Santana, que tinha jogadores como Zico, Sócrates, Falcão, Toninho Cerezo, Júnior… contra selecções como a Argentina de Maradona, Kempes e Passarella; a Itália de Paolo Rossi, Dino Zoff e Mauro Tardelli; e a França de Platini, Amoros, Battiston, Tigana e Trésor, entre outros, a sombra de Gilles Villeneuve, morto pouco mais de um mês antes, pairava por aquelas bandas. As autoridades tinham decidido que o circuito de Notre-Dâme, seria rebaptizado de Circuito Gilles Villeneuve, mas temia-se que os espectadores deixassem de comparecer ao Grande Prémio, agora que o seu ídolo tinha desaparecido.
A Ferrari já tinha anunciado o seu substituto: o francês Patrick Tambay, mas ele não iria aparecer neste Grande Prémio, decidindo que a Scuderia alinhasse com apenas um carro pela terceira corrida consecutiva. Na Theodore, porém, o britânico Geoff Lees iria correr no lugar do holandês Jan Lammers, acidentado uma semana antes em Detroit. A Toleman continuava ausente, pois estava em testes a melhorar o seu carro.
Após as duas sessões de qualificação, o Ferrari de Didier Pironi tinha conseguido levar a melhor sobre o Renault de Alain Prost. O segundo Renault de René Arnoux era o terceiro, seguido pelo brasileiro Nelson Piquet, no seu Brabham-BMW, a vingar-se da não-qualificação da corrida anterior, em Detroit. Bruno Giacomelli era o quinto, no seu Alfa Romeo, seguido pelo McLaren-Cosworth de John Watson. Keke Rosberg era o sétimo, na frente de Riccardo Patrese, no Brabham-Cosworth. A fechar o "top ten" estavam o segundo Alfa Romeo de Andrea de Cesaris e o Lotus-Cosworth de Elio de Angelis.
Três pilotos tinham falhado a qualificação: o March de Emilio de Villota, o Fittipaldi de Chico Serra - que tinham andado à briga nas boxes com... o seu compatriota Raul Boesel, no seu March - e o ATS de Manfred Winkelhock.
A pole-position de Pironi era um resultado irónico, principalmente quando se sabia que a zanga de Imola e a memória de Villeneuve ainda estava fresca na memória de todos. Apesar de Pironi ter dito que dedicava este feito a ele, muitos entre os pilotos e a imprensa sabiam que aquelas declarações tinham algum sabor a hipócrisia.

O tempo no dia da corrida, 13 de Junho de 1982, estava nublado e muito frio, mas não ameaçava chuva. A tensão era alta, como seria de esperar, ainda por cima quando uma greve de máquinistas do Metro de Montreal tinha ameaçado a realização do Grande Prémio, em termos de espectadores, mas todos pensavam que não se iria passar nada de especial.
Contudo, no momento da partida, o Ferrari de Didier Pironi queima a embraiagem e fica parado na grelha. Todos tentam evitar o Ferrari, mas numa grelha de 26 carros e com uma pista estreita, é quase impossível evitar o choque. Boesel toca de lado no carro de Pironi, causando confusão no fundo da grelha, envolvendo o ATS de Eliseo Salazar. Quase de imediato, o Osella do jovem piloto italiano Riccardo Paletti, de 23 anos, bate em cheio na traseira de Pironi, a cerca de 130 km/hora, fazendo com que o Ferrari saísse do lugar e ainda batesse no Theodore de Lees. O chassis Osella recua assustadoramente com o impacto e Paletti fica com ferimentos graves nas pernas e no peito, devido à violenta projeção do seu volante.

Os socorros são velozes e tentam retirar o piloto italiano de 23 anos do carro - iria fazer 24 dali a dois dias - mas este, cheio de gasolina, pega fogo devido às altas temperaturas do carro e os danos, que causaram uma faísca. O incêndio é controlado com alguma dificuldade, e consegue-se tirar Paletti do carro, mas os seus ferimentos já eram fatais. A sua morte foi confirmada cerca de duas horas mais tarde, quando chegou ao hospital. Iria ser a segunda naquela temporada, a segunda em pouco mais de um mês.
A corrida ficou naturalmente parada, retirados os destroços, deu-se nova partida por volta das seis da tarde. Sem o Theodore de Lees e os dois Osellas, e com Pironi a largar com o carro sobressalente, a segunda partida é dada com Pironi na frente, seguidos por Prost, Arnoux, Piquet, Watson e Lauda, que dá um pulo da 11ª posição para chegar ao sexto lugar ao fim de uma volta. Contudo, o Ferrari começa a ter problemas de direção e cedo cede o lugar aos Renault, caindo primeiro para o quarto lugar, e depois desaparecendo no meio do pelotão.
Arnoux e Prost começaram a abrir vantagem sobre os demais, graças ao seu carro com motor Turbo, mas Piquet, também com motor Turbo, mas da BMW, cedo assediou Arnoux e o passou na nona volta. Atrás, Patrese começava a fazer uma corrida de recuperação e na volta 27, tinha conseguido passar Prost e era o terceiro classificado, fazendo com que Renault e Brabham ficassem com os quatro primeiros lugares. Mas na volta 28, Arnoux despista-se e Patrese herda o segundo posto. Pouco depois, a corrida de Prost termina em fumaça, graças ao motor.

A partir daqui, a corrida é um passeio dos Brabham, com Piquet a liderar sobre Patrese e a caminho de uma dobradinha. Na fase final, as boxes tem de ordenar a Patrese para que abrande o ritmo, pois este ia apanhar Piquet na liderança e convinha que a vitória fosse a primeira do motor BMW Turbo em vez do mais fiável Cosworth, que equipava o carro de Patrese.
Mas se tudo estava bem na frente, atrás havia drama: o Alfa Romeo de Andrea de Cesaris ia a caminho de mais um pódio quando ficou sem gasolina na última volta, e a mesma coisa tinha acontecido ao Ligier de Eddie Cheever e ao Williams de Derek Daly, evitando que pontuassem. No fim com Piquet vencedor e Patrese em segundo, o lugar mais baixo do pódio ficou nas mãos do McLaren de John Watson. O Lotus de Elio de Angelis era quarto, seguido pelo Arrows de Marc Surer e apesar de ter ficado sem combustível... o Alfa Romeo de Andrea de Cesaris.
Estava construída uma dobradinha da Brabham, a primeira desde o GP de Itália de 1978, e iria ser a primeira vitória do motor BMW Turbo. Mas todas estas alegrias, estavam definitivamente marcadas por mais uma trágica morte em corrida, numa época que já estava a ser demasiado conturbada.