
(
continuação do capitulo anterior)
A partir de 1980,
Jacky Ickx está em semi-retirada. Aceita o cargo de director de Spa-Francochamps, agora no seu traçado actual, mais curto e mais seguro, pronto para receber de volta a Formula 1. Mas para matar o bichinho da competição, decide adicionar mais um tipo de competição no seu palmarés, o Rally Raid. Começando nesse ano com a Croisière Verte, onde vence com uma Zundapp na categoria de 125 cc, começa a participar em 1981 no Rali Paris-Dakar, então a dar os seus primeiros passos, sob o comando do seu fundador
Thierry Sabine. Nesse ano, ao lado do actor
Claude Brasseur, corre num Citroen CX preparado para o efeito. Mas não chegam ao fim. A meio do ano, volta a correr nas 24 horas de Le Mans, no velho modelo 935, e agora emparelhado com
Derek Bell.
Nessa corrida, a Porsche voltou a inscrever os seus carros com vista ao futuro Grupo C, que iria ser criado no ano seguinte. A Porsche tinha convencido Ickx a colaborar com eles, e aceitou. Depois de lutar contra os Rondeau e os Lancia Beta, venceu pela quinta vez a mais importante corrida da Endurance, tornando-se numa lenda do automobilismo. Esta vitória iria ser a segunda para Bell, e a partir de 1982, Ickx iria participar activamente na aventura da Porsche no Grupo C.

Em 1982, a Porsche estreava um novo modelo, o 956. Ickx, emparelhado com Derek Bell, iriam experimentar este modelo, para saber qual seria a sua resistência numa prova tão dura como esta. As expectativas eram altas e não foram defraudadas: os modelos terminaram nas três primeiras posições, com Ickx e Bell a vencerem juntos pela terceira vez, e para o belga, esta era uma inédita sexta vitória, segunda consecutiva. Aos 37 anos, Jacky Ickx entrava definitivamente na História do Automobilismo.

Depois desta vitória, Ickx venceu quatro provas consecutivas: os 1000 km de Spa-Francochamps, Fuji (com Bell) e Brands Hatch (com Mass), e as Nove Horas de Kyalami (de novo com Bell), tornando-se Campeão do Mundo de Sport-Protótipos. No Rally Raid, tentou de novo a sua sorte no Paris-Dakar, ao volante de um Mercedes, e de novo com Brasseur como navegador, terminando no quinto posto da geral.

Em 1983, o ano começa com o acrescento de mais um capítulo na lenda, ao vencer o Rally Paris-Dakar num Mercedes, ao lado de Brasseur. No Mundial de Sport-Protótipos, vence os 1000 km de Spa-Francochamps pela quinta vez na sua carreira, e os 1000 km de Nurburgring, ambas ao lado de
Jochen Mass. Em Le Mans, emparelhado com o fiel Derek Bell fica nesse ano na segunda posição, batido apenas pelo outro Porsche, constituído pela tripla
Vern Schuppan, Hurley Haywood e
Al Holbert. Contudo, a sua regularidade no resto do campeonato faz com que ganhe pela segunda vez consecutiva o Mundial de Sport-Protótipos.

Nesse ano, a Porsche acolhia um jovem e promissor piloto alemão, de seu nome
Stefan Bellof. A sua rapidez, destreza e por vezes demasiada coragem em determinadas situações limite fazia com que fosse uma sombra na Porsche. E nos dois anos seguintes, ambos ficariam envolvidos em certas polémicas, que terminariam com consequências fatais nos 1000 km de Spa-Francochamps de 1985.

Em 1984, a organização do GP do Mónaco convidara Ickx para ser o director de corrida do seu Grande Prémio. A corrida, marcada para o dia 3 de Junho de 1984, fora afectada nesse dia pela imensa chuva. Após um primeiro adiamento de 45 minutos, deu a partida, sempre observando as condições atmosféricas. Depois de uma primeira carambola na curva de Ste. Devote, que colocara cinco pilotos fora de combate, a prova continuara com
Alain Prost a liderar confortavelmente, depois do despiste de
Nigel Mansell na subida do Casino. Mas lá atrás, vinham dois pilotos rápidos na chuva: o Toleman de
Ayrton Senna e o Tyrrell de Bellof, ambos na sua primeira temporada na Formula 1. Senna apanhava rapidamente Prost, mas Bellof era constantemente mais rápido do que os dois, á chuva.
Contudo, à medida que o tempo passava, Ickx decidiu após algum tempo que era altura de parar a corrida. Decidiu que a melhor altura seria a volta 32, mas em vez de apresentar a bandeira vermelha, no sentido de interromper a corrida, agitou a bandeira de xadrez, dando a corrida por terminada. Nessa altura, Senna estava em cima de Prost, com Bellof na terceira posição, e muitos afirmavam que o tempo não estava assim tão mau que proporcionasse tal interrupção. Muitos consideraram que tal decisão fora tomada para favorecer o piloto francês, que nessa altura corria num carro com motor Porsche. A polémica foi grande, e no final, teve consequências: a metade dos pontos que foram atribuídos contribuiu para que
Niki Lauda (que desistiu no Mónaco) fosse campeão pela menor diferença de sempre: meio ponto.
Na sua carreira competitiva, Ickx somente ganhou duas corridas nessa temporada de 1984: os 1000 km de Silverstone e os de Mosport, mas estas vitórias foram insuficientes para que Ickx conseguisse um terceiro título no Mundial, que foi atribuído a Bellof.

No ano seguinte, depois de participar mais uma vez no Paris-Dakar, desta vez no modelo 959 da marca de Estugarda, sem contudo terminar a prova, Ickx ganharia três provas: os 1000 km de Mugello, os 1000 km de Silverstone (pela quarta e última vez) e os 800 km de Selangor, na Malásia, sempre ao lado de Jochen Mass. Nesse ano, Ickx estreava o modelo 962, uma evolução do 956. Em Le Mans, a corrida desse ano não iria correr bem para o belga, pois não passaria do décimo posto.

Mas a 1 de Setembro desse ano, iria cruzar-se mais uma vez com Bellof, com trágicas consequências. Nesse dia decorriam os 1000 km de Spa-Francochamps, e o piloto alemão já tinha saído da equipa oficial da Porsche para correr para uma equipa privada, a Brun Motorsport, ao volante de um modelo 956. Em parelha com o belga
Thierry Boutsen, e partindo de trás, Bellof fez uma corrida com a “faca nos dentes” para apanhar Ickx, que era então o líder. Depois da troca de pilotos entre os dois (Ickx corria nesse dia com o habitual parceiro Jochen Mass) Belfof conseguira apanhar o belga perto do gancho de La Source. Sem esperar, Bellof lançou-se ao ataque num local impossível: na curva Eau Rouge. Atacando por fora, sabia-se que tal ultrapassagem era passível de uma colisão e subsequente despiste a alta velocidade. Ambos os carros colidiram, com o de Ickx a bater de traseira, e Bellof a chocar em frente, tendo morte imediata.
Com 40 anos de idade, Ickx chegou à conclusão de que o seu tempo nas pistas tinha chegado ao fim, e no final da temporada de 1985, abandonou a Endurance, dedicando-se aos Rally Raid. Em 1986, fora segundo no Paris-Dakar, ao volante de um Porsche, e no ano seguinte participa num Lada Niva, não terminando. Participa em mais competições como o Rali dos Faraós, a Baja Aragon, o Rali Atlas, e vence a edição de 1989 da prova espanhola, depois de uma decisão polémica no Dakar daquele ano.

Correndo na equipa oficial da Peugeot, com o modelo 405, ele e o seu companheiro, o finlandês
Ari Vatanen, estavam com performances iguais. Assim, para evitar rivalidades que prejudicassem a equipa, o seu patrão,
Jean Todt, decidiu que o vencedor seria decidido… por moeda ao ar. A história era simples: Vatanen tinha liderado o rali até à penúltima especial, já no Senegal. Aí, o finlandês perde-se e Ickx aproveita o azar para alcançar a liderança. Pegou numa moeda de dez francos, atirou ao ar e deu “cara”. Ickx tinha escolhido “coroa”.
I

ckx continua a correr nos Rally Raid até 1995, de novo com a Lada e depois com a Citroen, mas a partir daí, decide reformar-se, dedicando-se às corridas históricas. Em 2000, volta a fazer corridas, ao lado da sua filha
Vannina Ickx, que hoje em dia tem uma carreira na Endurance, principalmente na Le Mans Series. Desde então, tem sido presença assídua em eventos históricos, como Goodwood e as Mille Miglia, e tem recebido todo o tipo de honras, desde a sua entrada no International Motorsports Hall of Fame até ser-lhe concedido o título de Cidadão Honorário de Le Mans, em 2000.
Fontes:
http://www.jacky-ickx-fan.net/