O final prematuro não foi aquilo que desejaram, depois de meses de testes e desenvolvimento. Mas naquele dia, em Buenos Aires, o sonho tinha sido concretizado. Pelo menos, a primeira parte. Um piloto que queria construir o seu carro, com peças fabricadas no seu país, um projetista que amava o que fazia, três mecânicos, alguns motores, algumas caixas de velocidades e umas dezenas de jogos de pneus, e a 12 de janeiro de 1975, há 50 anos, o mundo via um Formula 1 fabricado no Brasil. E Wilson Fittipaldi entrava na pequena galeria de pilotos que tinham decidido construir os seus próprios carros. Como Jack Brabham, Bruce McLaren, Dan Gurney e Graham Hill.
O resultado final da qualificação, onde largaram de último, e acabaram com um incêndio no seu FD01 até poderia ser um dado fatual e poderia passar a imagem errada aos que seguiam a corrida pela televisão, ou na pista, mas para eles isso era um episódio. Porque para eles, o essencial estava cumprido: estavam lá.
E o projeto tinha coisas a favor deles. Tinham um bom patrocinador, a Copersucar, que lhes dava o dinheiro que precisavam - um milhão de dólares por temporada - para desenvolver o carro ao ponto de apanhar aqueles que estavam mais à frente, como a McLaren, Ferrari ou Tyrrell, tinha gente que entendia das coisas, e tinham, sobretudo, o sonho que lhes comandava a vida deles: serem bem-sucedidos num carro brasileiro, provar que poderiam competir com os outros e poder vencê-los.
Os sonhos eram bem grandes: serem a Ferrari brasileira. Quantas mais peças fabricadas no país, melhor. E naqueles tempos, que melhor montra da tecnologia existente, a da Formula 1? O gigante tecnológico a acompanhar o gigante geográfico.
Aliás, a publicidade da Copersucar ajudou imenso a criar a esperança. Eis um extrato:
"Chegara a vez da máquina. Para os brasileiros, este carro representa um desafio. Um desafio e um prova de capacidade".
O resultado não foi o esperado, em Buenos Aires. Mas a esperança de que seria o começo de um sonho era o que fazia avançar. Meio século depois, sabemos como acabou, mas se as aspirações ficaram aquém, na realidade, não envergonharam ninguém. Hoje em dia, a memória da Copersucar-Fittipaldi está a ser reabilitada e os seus participantes louvados por terem ousado sonhar... e concretizar.
E o sonho começou há precisamente meio século.