quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

A imagem do dia





Até calha bem ter publicado aquela noticia do Mercedes W196 que Juan Manuel Fangio e Stirling Moss guiaram na temporada de 1955, e falado do GP da Argentina de 1955, porque hoje passam 70 anos sobre essa corrida e eu tenho de falar sobre uma das corridas mais provas automobilísticas mais difíceis da história do automobilismo. Afinal de contas, falamos de um feito de resistência, e aquilo que Juan Manuel Fangio conseguiu naquele dia é mais um feito que ajudou na sua lenda. E a do carro, também. 

Alguns, mais entendidos, sabem bem qual foi a corrida mais fria de sempre: o GP do Canadá de 1978, em outubro desse ano, e onde Gilles Villeneuve ganhou a sua primeira corrida pela Ferrari. Mas se alguém quiser saber qual é a corrida mais quente de sempre, este está entre eles, a par da edição de 1960 e o GP do Bahrein de 2004, que oi disputado durante o dia, antes de trocarem para as corridas noturnas. Mas a maneira como Fangio superou o calor e, como afirmo, coisa que ajuda a montar as lendas. Tão forte quanto as vitórias épicas, por exemplo. 

Fala-se de 40 ou 45 graus de temperatura durante o dia, e os europeus não aguentaram bem esse calor. Aliás, os únicos que aguentaram bem foram os argentinos... e nem todos. Roberto Miéres foi até ao fim, mas José Froilán González, o "Touro das Pampas" e o "poleman" dessa corrida, não. Acabou por partilhar o carro com Umberto Magioli e Maurice Trintignant, "Le Petoulet" (um dia falo sobre ele e a alcunha que arranjou), e dos seis pontos que conseguiram, dividiram em três, ficando com dois cada um. 

Sobe esse dia, há duas estorias. A primeira foi o método como Fangio conseguiu aguentar o calor numa corrida de três horas - era o máximo permitido na altura. O piloto de Balcarce afirmou que tentou meter na sua mente que estava a guiar um carro cheio de gelo no cockpit, para que o corpo não cedesse ao calor. E pior que isso, tinha tocado a perna num dos escapes que passava perto dele e ficou com uma queimadura, tornando as coisas ainda mais complicadas. Não queria ser substituído, e com todo esse sacrifício, ele conseguiu levar o carro até ao fim, especialmente depois de ter ficado com a liderança, na volta 43, depois de ter passado Miéres. 

E com tudo isso, fazer três horas dentro de um carro sem perder a concentração, é um feito e tanto. No final, tinha a perna em carne viva, demorou três meses para recuperar e ficou com uma cicatriz para a vida.   

Há uma outra estória que é contada por um mecânico, Guido Borasi, que até pode ser mais credível. Segundo ele, num testemunho contado para um livro em 1980, o argentino foi para a sua Argentina natal mais de mês e meio antes, não só para visitar a família, como para adaptar o seu corpo ao calor austral. Para isso, reduziu o consumo de água para cerca de um litro por dia, durante muitas semanas, até ao dia da corrida. Isso, para além da sua resistência mental e física, ajudou imenso para que terminasse a corrida no primeiro lugar, sem necessidade de trocar de piloto. E enquanto os outros paravam nas boxes para beber copiosas quantidades de água e trocar de pilotos, ele continuava, aguentando a provação do calor e as três longas horas dentro de um cockpit que "cosia lentamente" qualquer um que guiava lá dentro. 

E neste caso em particular, falamos de um piloto que na altura tinha 43 anos. 

É um feito e tanto. E claro, ajudou a cimentar a reputação de "El Chueco".    

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