Contudo, com o acidente, os governos atuaram rapidamente. Muitas corridas foram canceladas, e os apelos para um banimento total eram bem fortes. Em junho, a Formula 1 tinha chegado ao meio do campeonato, e das seis corridas que se previam, apenas duas acabaram por acontecer: Grã-Bretanha e Itália. Praticamente, com os cancelamentos dos GP's de França, Alemanha, Suíça e Espanha, o campeonato foi entregue à Mercedes. Nos Sportscars, apenas o Tourist Trophy foi realizado... e foi outra catástrofe, com acidentes e mortes. Lance Macklin, que sobrevivera a Le Mans, depois de outro acidente nessa corrida, decidiu pendurar o capacete de vez.
O governo francês decidiu de imediato por um banimento nas corridas de automóveis, com o objetivo de criar uma série de regulamentos para a proteção de espectadores nos circuitos. Ele durou quase todo o verão - foi levantado a 14 de setembro - e os organizadores das 24 Horas de Le Mans decidiram que a pista seria modificada, na parte das bancadas. A pista foi também modificada, cavando uma trincheira entre as bancadas e a pista, esta foi alargada para os carros terem mais espaço. Mas não muito mais, porque a segurança dos pilotos e das pistas propriamente ditas ainda estava na pré-história.
As modificações ficaram prontas a tempo da edição do ano seguinte das 24 Horas de Le Mans, mas nesse ano, havia uma ausência de peso: a Mercedes.
Eles, que tinham regressado ao automobilismo, cinco anos antes, como símbolo de uma Alemanha a reerguer-se das ruínas, e tinham conseguido dominar o automobilismo mundial, acharam que, depois do acidente, não tinham muita moral em continuar, e com os objetivos alcançados, decidiram no final do ano, colocar os seus carros no museu. Na realidade, eles já tinham decidido que iriam abandonar na mesma, mas o acidente em Le Mans deu a cobertura ideal, digamos assim. Alfred Neubauer sabia que essa decisão iria ser o final de uma carreira no automobilismo. Ficou na Mercedes, como conselheiro, fiel à marca. Acabaria por morrer a 22 de agosto de 1980, em Estugarda, aos 89 anos.
A Mercedes só regressou ao automobilismo a sério em 1987, a Le Mans, com uma associação com a suíça Sauber, seis anos antes do seu regresso à Formula 1, em 1993. E trouxe com eles os seus prodígios: Karl Wendlinger, Heinz-Harald Frentzen e Michael Schumacher, ajudados pelo seu "professor", Jochen Mass.
E quando chegou, encarou na pista o seu velho rival de 1955: Jaguar.
Quem também não mais correu em Le Mans foi Juan Manuel Fangio, bem como outros como John Fitch, o companheiro de "Levegh" naquela corrida fatídica. Ele regressou em 1960, para ajudar a Corvette na corrida francesa, graças à sua amizade com Briggs Cunningham, e depois, dedicou-se a desenhar barreiras de segurança nas estradas e circuitos. Morreu em 2012, aos 95 anos, sendo um dos últimos sobreviventes da Mercedes nesse ano de 1955.
Já Hawthorn, o vencedor, prosseguiu a sua carreira vencedora. Correu pela Ferrari na Formula 1, e em 1958, tornou-se no primeiro britânico campeão do mundo, batendo Stirling Moss. Três meses depois, em janeiro de 1959, morreu num acidente de viação, a bordo de um Jaguar, e alegadamente, a perseguir um Mercedes.
Contudo, meses antes, Hawthorn escreveu a sua biografia, de seu nome "Challenge Me the Race", onde afirmou que não tinha qualquer responsabilidade do acidente. Lance Macklin leu a sua autobiografia e achou que ele o tinha responsabilizado, indiretamente, do sucedido, e decidiu processá-lo para defender o seu bom nome em tribunal. O processo ainda estava a decorrer quando Hawthorn teve o seu acidente mortal, e claro, acabou por ali. Macklin morreu no Kent britânico a 29 de agosto de 2002, aos 82 anos.
Na realidade, nunca houve alguém responsabilizado pelo acidente. Nem Levegh, nem ninguém. A unica coisa que foi levantada, em todo o tempo, sobre o acidente, foi a atitude de Hawthorn quando comemorou a sua vitória. Já viram, ele estava angustiado, mas a atitude inglesa de esconder as suas emoções resultou em algo que foi muito mal interpretado e no qual, no mínimo, foi considerado como mau gosto.
Até há pouco tempo, ainda havia mais um rescaldo de 1955. Na Suíça, as provas de automobilismo em pista e estrada foram proibidas depois do acidente, com a excepção das subidas de montanha, e a proibição manteve-se por mais de 60 anos, até ser levantado parcialmente, em 2015... para as corridas com carros elétricos. A Formula E, aliás, já correu nas ruas de Berna, a capital. Contudo, essa abolição parcial tornou-se total em 2022, quase vinte anos depois da primeira tentativa ter sido chumbada pela Assembléia Federal suíça. Mas daí até ver a Formula 1 em terras da Confederação Helvética... ainda faltará muito para se ver uma pista como o Red Bull Ring, na vizinha Áustria. Isto, se alguém tiver dinheiro para isso.