A carreira de David Purley - do qual, se estivesse vivo, faria hoje 80 anos - foi a de um piloto que sobreviveu ao pior, e cometeu atos humanos dignos de registo. Recipiente do George Medal, a segunda condecoração mais prestigiada por coragem da Grã-Bretanha, por ter tentado salvar - e não ter ter conseguido - o seu colega Roger Williamson, durante o GP dos Países Baixos de 1973, Purley sobreviveu a um acidente durante o fim de semana do GP da Grã Bretanha de 1977 quando a bordo do seu LEC, o carro construído por sua própria encomenda, sobreviveu a 180 G's com ferimentos graves, ao ponto de só regressar à competição dois anos depois, não mais à Formula 1.
Mas a história da LEC é uma bem interessante: como o herdeiro de uma firma de frigoríficos, antigo membro das forças especiais, de Bognor Regis, decide construir a sua própria equipa, numa altura em que muitos seguiam esse rumo, em meados dos anos 70.
Depois de Purley ter comprado um March em 1973, e ter corrido em cinco provas, com um nono posto em Monza como melhor resultado, ele decidiu rumar para outras competições como a Formula 5000, onde acabou por ser campeão em 1976, num Chevron. Foi aí que decidiu regressar à Formula 1, a bordo do seu próprio carro. Recorreu a Mike Pilbeam, que tinha construído o BRM 201, o último carro competitivo da marca, e também a um jovem talentoso em termos de gestão de equipas, Mike Earle - mais tarde seria um dos fundadores da Onyx - e construía aquilo que iria ser o LEC CRP1.
O carro até tinha alguns méritos, mas quando se estreou, no fim de semana do GP da Espanha, não conseguiu a qualificação, sendo 30º... em 31 carros inscritos. Na corrida seguinte, foi melhor: 20º na grelha. Numa corrida com tempo variável - primeiro chuva, depois o piso secou - Purley aproveitou bem ao ficar na pista enquanto os outros foram às boxes, chegando a andar nos pontos (terceiro classificado na volta 21!). E a certa altura, Niki Lauda acabou na traseira de Purley, com ele a fazer a sua vida bem difícil. Claro, o austríaco não achou graça alguma.
No final de uma corrida ganha por Gunnar Nilsson, e apesar dele ter ficado em 13º, Lauda foi ter com ele para exigir satisfações, com ele a responder com algo parecido como "o coelho que caçou o rato". O "rato" era um dos nomes dados a Lauda. E na corrida seguinte, um autocolante apareceu ao lado do carro de Purley, com o símbolo do coelho.
O carro classificou-se tranquilamente na grelha, apesar de nunca conseguir um lugar nos pontos - foi 14º na Suécia e desistiu em Dijon, palco do GP de França - e em Silverstone, ele iria participar numa pré-qualificação, com outros 13 carros, entre eles os McLaren de Gilles Villeneuve e de Brett Lunger, o Ensign de Patrick Tambay, ou o Penske-ATS de Jean-Pierre Jarier. Não era fácil - um segundo separou os nove primeiros classificados - e este aconteceu na quarta-feira antes do Grande Prémio.
O finllandês Mikko Kowaritzky foi o primeiro acidentado, num March, onde quebrou a sua mão direita. Pouco depois, Purley tentou a sua sorte, julgando que tinha carro para conseguir um bom resultado para seguir em frente, mas na curva Copse, o acelerador ficou preso e bateu contra a parede, e o carrio ficou esmagado, efeito-concertina. Purley sofreu imensas fraturas e ficou mais de um ano a recuperar, e a sua aventura acabou por ali.
Em 1979, ele regressou à competição, mas na AFX Aurora, com o seu carro. Depois de algumas corridas, decidiu abandonar o automobilismo e acabou por se dedicar à acrobacia aérea. Morreu a 2 de julho de 1985, num acidente aéreo, ao largo da sua Bognor Regis natal.
Dos dois LEC, um esteve exposto no museu de Donnington até 2011, altura em que o museu foi encerrado, e o segundo carro corre hoje em dia em competições históricas.