Num domingo de Grande Prémio como este em Miami, o dia acaba com o anuncio da morte do ex-piloto Jochen Mass, aos 78 anos de idade. Com uma carreira bem longa no automobilismo, a primeira parte foi passada na Formula 1, em equipas como Surtees, McLaren, ATS, Arrows e March, e a segunda, na Endurance, sendo piloto oficial da Porsche e Sauber-Mercedes, os seus grandes feitos foram uma vitória no infame GP de Espanha de 1975, em Montjuich, e o triunfo nas 24 Horas de Le Mans de 1989.
Mass morreu em sua casa, em Cannes, no sul de França, e tinha sofrido um AVC em Fevereiro, que o afastou das demonstrações em corridas históricas, onde ultimamente, corria nos carros de Grand Prix da Mercedes dos anos 30 e 50 do século passado.
Nascido a 30 de setembro de 1946 em Dorfen, na Baviera, ele era filho e neto de capitães na Marinha Marcante, que lhe deu uma grande paixão pelo mar, especialmente depois e trabalhar num barco durante a sua adolescência. O automobilismo apareceu por altura dos 20 anos, quando foi assistir a uma subida de montanha onde a sua namorada de então trabalhava na organização. A paixão foi instantânea - pelo automobilismo - e foi trabalhar para um concessionário da Alfa Romeo, em Manmheim, onde o dono inscrevia os seus carros nas provas de automobilismo que aconteciam ali perto. Quando descobriu que tinha talento, tinha 25 anos e começou a participar em corridas de Super Vee e na Formula 3 britânica.
Contudo, a sua ascensão foi rápida. Dois anos depois, já corria na Formula 1, a bordo de um Surtees oficial. A sua presença acontecia ao mesmo tempo que corria para eles na Formula 2, onde acabou na segunda posição no campeonato.
Na primeira vez que andou no Nurburgring Nordschleife num Formula 1, em agosto de 1973, as suas prestações quase o colocaram nos pontos, pois acabou na sétima posição. Foi o suficiente para correr pela marca ao longo de 1974, mas a meio do ano, cansado das constantes discussões com John Surtees - Mass queixava-se no material, "Big John" queixava-se do piloto, isso, acumulado com os salários em atraso, decidiu sair depois do GP da Alemanha no sentido de ficar com o terceiro carro da McLaren. Correndo nas corridas americanas, acabou em sétimo na última corrida do ano, em Watkins Glen, e ficou como titular para a temporada seguinte, no lugar de Denny Hulme, que tinha pendurado o capacete.

Ali, ao lado de Emerson Fittipaldi, consegue os seus primeiros pontos na segunda corrida do ano, em Interlagos, ao lado dos brasileiros José Carlos Pace e Emerson Fittipaldi. Era o primeiro pódio de um piloto alemão desde 1961, com Wolfgang won Trips. Pontuou na corrida seguinte, em Kyalami, quando acabou na sexta posição.
Quando a competição chegou a Barcelona, para o GP de Espanha, Mass não conseguiu uma qualificação de destaque. Enquanto Emerson Fittipaldi decidia boicotar a corrida, por causa das precárias condições de segurança, Mass não foi muito longe, ao ser 11º na grelha. Mas depois, ao ter conseguido fintar os azares dos outros, a sua corrida foi uma combinação de estar no lugar certo, à hora certa. Primeiro, não pisando na mancha de óleo causado pelo motor rebentado do carro de Jody Scheckter, que, por exemplo, causou o acidente de James Hunt, e depois, ficar no quarto lugar, atrás do Lotus de Ronnie Peterson. Na volta 24, quando ele tentava passar o BRM de Francois Migault, ambos se deram mal e bateram, herdando o terceiro lugar do piloto sueco, enquanto na frente, o Hill de Rolf Stommelen era assediado pelo Brabham de Carlos Pace na luta pela liderança.
Mas no inicio da volta 27, a asa traseira do carro de Stommelen saiu do lugar e ele perdeu o controle, acabando no guard-rail, atingindo um lugar onde estavam fotógrafos - que não tinham autorização para estar ali - matando quatro deles. O próprio Stommelen ficou gravemente ferido, e a corrida acabou na volta 29, quando Mass já liderava a corrida. Foi declarado vencedor, tornando-se no primeiro alemão a ganhar em quase 14 anos, desde Wolfgang von Trips, no GP da Alemanha de 1961.
Contudo, como a corrida acabou com menos de metade do percurso, Mass ficou apenas com metade dos pontos de então: 4,5. Mais dois pódios, dois terceiros lugares em Paul Ricard e em Watins Glen, deram-lhe 20 pontos e o oitavo posto na geral. Prosseguiu no ano seguinte, com pódios em Kyalami e Nurburgring, onde liderou a corrida até à altura do acidente de Niki Lauda (do qual, anos depois, em 2013, guiou o mesmo carro na recriação hollywoodiana em "Rush"). No ano seguinte, conseguia mais dois pódios, an Anderstorp e Mosport, no Canadá, deu-lhe o melhor resultado de sempre na Formula 1, um sexto lugar da geral, com 25 pontos.
Em 1978, Mass foi para a ATS, gerido por
Gunther Schmid e
Fred Opert. Contudo, a razão por ir para a equipa tinha sido a amizade com
Robin Herd, um dos fundadores da March. Apesar destas coisas, a temporada foi um desastre, sem pontuar, e para piorar tudo isso, tinha sofrido um acidente, fraturando o joelho, nos treinos para o GP de Itália, ficando de fora para o resto da temporada. No final do ano, transferiu-se para a Arrows, onde conseguiu três pontos, dois os quais no famigerado A2, que tentava ser o carro-asa total, sem sucesso.
Mass continuou em 1980, conseguindo como melhor resultado um quarto posto no GP do Mónaco. A partir dali foi contratado pela Porsche para guiar no seu programa oficial, no Mundial de Endurance, ao lado de gente como Derek Bell, Jacy Ickx, Stefan Bellof, Hans-Joachim Stuck, entre outros. Conseguiu um segundo lugar nas 24 Horas de Le Mans de 1982, ao lado do australiano Vern Schuppan, numa altura em que tinha regressado à Formula 1, na equipa oficial da March.
E foi um regresso atribulado: na qualificação para o GP da Bélgica, a 8 de maio, quando tentava arranjar um lugar na grelha de partida, estava no caminho do Ferrari de Gilles Villeneuve. O canadiano tocou no pneu do March do alemão, foi catapultado e acabou nas redes de proteção, com fraturas fatais no pescoço. Mass saiu incólume, e vistas as imagens, chegou-se à conclusão que estava no lugar errado, à hora errada, logo, foi ilibado do incidente.
Contudo, dois meses depois, em julho, em Paul Ricard, palco do GP de França, Mass colidiu com o Arrows de
Mauro Baldi e ambos foram atirados para a berma, com os seus carros a serem segurados nas redes de proteção. Contudo, Mass acabou perto das bancadas, e isso foi o suficiente para que ele, então com 35 anos, deixar a Formula 1 para trás de forma permanente.
Indo para a Endurance, como piloto oficial da Porsche, correu em diversas provas do Mundial, e algumas provas de relevo, como as 12 Horas de Sebring, onde em 1987, triunfou num 962, ao lado do americano Bobby Rahal. Dois anos antes, tinha ganho o DRM, a antecessora do DTM, a bordo de um Porsche 956 da Joest Racing.
Em 1988 vai para a Sauber-Mercedes, onde corre nas 24 Horas de Le Mans. A sua experência termina antes de começar, mas no ano seguinte... acaba vencedor, ao lado do seu compatriota
Manuel Reuter e do sueco Stanley Dickens. No ano a seguir, participa no Mundial de Endurance pela Mercedes, guiando o modelo C11 com mais três pilotos da Junior Team: o austríaco
Karl Wendlinger e os alemães
Heinz-Harald Frentzen e
Michael Schumacher. Ele triunfou e Spa-Francochamps e no México, o primeiro com Wendlinger e o segundo, com Schumacher.
No ano a seguir, guiou com Jean-Louis Schlesser e Alain Ferté, mas não chegou ao fim. A sua última participação em Le Mans foi em 1995, com quase 50 anos de idade, ao lado do seu compatriota Thomas Belscher e do dinamarquês John Nielsen, num McLaren GT1, onde não acabaram a prova.
Por esta altura, Mass já era comentador da Formula 1 pela RTL alemã. Tinha começado em 1993 e lá ficou para as quatro temporadas seguintes. Depois disso, passou para os carros históricos, guiando máquinas da Mercedes em lugares como Nurburgring, Goodwood ou nas Mille Miglia, a bordo do mesmo carro que ganhou a corrida em 1955, um Mercedes 300 SL, nesse ano guiado por Stirling Moss e Dennis Jenkinson. Piloto versátil, de carreira longa, a sua presença era apreciada por todos.