quinta-feira, 8 de maio de 2025

A imagem do dia


Sempre que se fala da carreira de Jochen Mass na Formula 1 - aliás, na vida automobilística - há um nome que vem ao de cima: Gilles Villeneuve. E tudo tem a ver com um equivoco numa tarde cinzenta no norte da Bélgica, que por coincidência... publico hoje, dia 8.

Gilles e Jochen nunca correram juntos, no sentido de serem companheiros de equipa. Fora das pistas - moravam ambos no Mónaco - eram amigos, não tanto no sentido íntimo, mas respeitavam-se um ao outro, quer na pista, quer fora dela. Nunca houve qualquer polémica entre os dois, ou "facadinha" semelhante ao que o Didier Pironi acabaria por fazer na Ferrari, e Mass sempre andou na órbita de máquinas alemãs, como tinha acontecido naquela temporada de 1982, quando o alemão voltou à Formula 1. Ao mesmo tempo que isso acontecia, Mass era piloto da Endurance pela Porsche, correndo no modelo 956. 

O regresso à March, naquela temporada, tinha a ver com a sua amizade com Robin Herd, que nesse ano, era o único dos fundadores ainda a trabalhar ali. O carro era lento e lutava para se qualificar, a par de outras equipas como a Theodore, Osella, ATS, Ensign ou Fittipaldi, entre outros. E era isso que andava a fazer naquela tarde de sábado, em paragens belgas: tentar um lugar na grelha. E nessa tarde, estava a ser complicado. 

O acidente aconteceu pelas 13:52. Mass ia para as boxes e quando viu o Ferrari nos seus espelhos, ele virou para a direita, pensando que ele passasse pela esquerda, porque julgava que estava numa volta rápida - na realidade, não ia. Isso foi confirmado anos depois por Mauro Forgheri, na biografia sobre o Gilles Villeneuve. O canadiano ia sempre a fundo, mesmo com os pneus de qualificação calçados. E recorde-se: ele estava em guerra com Didier Pironi, por causa do incidente em Imola, na corrida anterior, e estava obcecado em batê-lo

Contudo, quando fazia essa manobra, o instinto de Gilles foi precisamente para esse lado e ele tocou na roda traseira-direita do March, deixando - curiosamente - intacto. Em contraste, o Ferrari catapultou e capotou, destruindo a parte da frente - o 126C2 ainda não era nem um monocoque total, nem era feito de fibra de carbono - e Gilles foi atirado pela gravidade para as redes de proteção, fraturando fatalmente o pescoço. Socorrido de imediato, os seus ferimentos eram muito graves, e transportado para o Hospital Universitário de Leuwen (Louvain), as maquinas foram desligadas no final dessa noite. 

Mass viveu muito tempo com a consciência pesada. Julgou ter sido responsável pelo acidente, de ter entendido mal, nunca quis ou teve propósito de prejudicar ninguém. Andou com a ideia presente por muito tempo, mas acabou por pensar na ideia de que foi isso mesmo: um acidente infeliz. Anos depois, cruzou-se com Jacques Villeneuve, o filho de Gilles e campeão do mundo de 1997, e tirou a dúvida sobre ele e o que aconteceu em Zolder. E resposta foi esclarecedora: "nós na família sempre encaramos o que aconteceu como um incidente de corrida". E fim de história.        

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