sábado, 2 de janeiro de 2010

O piloto do dia - Jacky Ickx (2ª parte)

(continuação do capitulo anterior)

Cedo foi assediado pelas grandes equipas, como a Lotus e Brabham, mas depois decidiu-se pela Ferrari, devido ao prestígio alcançado. Ickx alinhava na primeira prova do ano, na África do Sul, ao lado do italiano Andrea de Adamich, onde não terminou a corrida. Mas à medida que o campeonato prosseguia, Ickx adaptava-se ao Ferrari e começava a alcançar bons resultados. Conseguia o seu primeiro pódio em Spa-Francochamps, em em Rouen, palco do GP de um França sob tempo incerto, vence a sua primeira corrida, tornando-se num dos mais jovens pilotos a fazê-lo. Era a primeira vitória da marca do Cavalino desde 1966 e tinha sido alcançado apenas à sua oitava corrida da sua carreira, na sua primeira temporada completa.

Ickx conseguiu mais dois pódios, em Brands Hatch e Monza, e alcançava a sua primeira pole-position no circuito de Nurburgring, numa prova ganha por Jackie Stewart, debaixo de condições impraticáveis para a corrida. Ickx terminava essa corrida na quarta posição. Ickx lutou pelo título até aos treinos do GP do Canadá, que nesse ano se disputava em Mont-Tremblant, mas um acidente nos treinos causou uma fractura na perna, impedindo de alinhar em várias provas durante mais de um mês, desde o GP dos Estados Unidos até a edição daquele ano das 24 Horas de Le Mans, excepcionalmente realizado em Setembro devido aos acontecimentos ocorridos em França naquele ano, regressando apenas para a prova final, no GP do México. Ainda assim, terminou o campeonato no quarto lugar da classificação, com 27 pontos.

Nessa mesma temporada, na Eudurance, venceu várias provas a bordo de um Ford GT40, muitas delas compartilhadas com o inglês Brian Redman. Entre elas os 1000 km de Brands Hatch, ocorrido no mesmo dia em que Jim Clark morria em Hockenheim, numa prova de Formula 2, os 1000 km de Spa-Francochamps, as 6 horas de Watkins Glen, com o seu compatriota Lucien Bianchi a seu lado, e nas 9 Horas de Kyalami, desta vez com David Hobbs. Faz também algumas provas de Formula 2, a bordo de um Ferrari Dino 166, mas tem resultados modestos.

No caso dos 1000 km de Spa-Francochamps daquele ano, a prova tinha ocorrido no típico tempo daquela zona: sob condições instáveis de muita chuva, que produzia várias zonas perigosas, cheias de poças de água. Nesse dia tinha chovido torrencialmente, e muitos não arriscavam atacar naquelas condições. Mas logo na primeira volta, Ickx arrancara tão determinado que ao final da primeira volta, tinha um avanço de 30 segundos sobre a concorrência. Aquilo viria a ser a primeira das cinco vitórias numa das provas mais consagradas da Endurance. Ickx depois explicou o feito com uma modéstia desarmante: “Antes do começo da corrida, participei numa prova de suporte, ao voltante de um Ford Falcon, corrida no qual fui vencedor, e que serviu para me adaptar às condições da pista naquele momento, pois serviu-me para ver quais eram as zonas mais perigosas”.

No final de 1968, Jacky Ickx decide mudar de equipa e vai correr para a Brabham, em substituição do austríaco Jochen Rindt, que partira para a Lotus. Apesar de um inicio modesto, onde só conseguiria três pontos após quatro corridas, as suas prestações melhoram a partir do meio da época, onde consegue um terceiro lugar em França e um segundo lugar na Grã-Bretanha, numa época absolutamente dominada pelo Matra de Jackie Stewart. No GP da Alemanha, em Nurburgring, que tinha acontecido pouco mais de um mês depois da sua épica vitória nas 24 Horas de Le Mans, demonstrou a sua classe ao dominar a corrida e conseguir a sua segunda vitória na sua carreira. Vence mais uma vez, em Mosport, depois de partir da pole-position, sendo o único piloto que ganha mais de uma prova nessa temporada, para além do campeão Stewart. No final, fica na segunda posição do campeonato, com 37 pontos.

Apesar desta boa prestação na Formula 1, é na Endurance que consegue o seu primeiro grande feito internacional. Em Junho, Ickx participa nas 24 horas de Le Mans a bordo de um Ford GT40 da John Wyer Engineering, com a condução partilhada pelo inglês Jackie Oliver. O carro já acusava o peso dos anos, especialmente contra uma concorrência que incluía a mais recente máquina da Porsche: o modelo 917. Naquele 15 de Junho de 1969, numa era onde o perigo estava mais do que presente, Ickx começou a escrever a sua lenda no mítico circuito francês de forma simbólica. No momento da partida, quando todos os pilotos corriam vertiginosamente para os seus carros para conseguir ganhar alguns lugares à partida, de um modo perigoso, Ickx ficou parado no outro lado da pista, em protesto pela periculosidade de tal procedimento. Após todos os carros partirem, Ickx caminhou calmamente em direcção do seu carro, colocou devidamente o cinto de segurança e partiu para a sua corrida. O gesto tinha sido visto pelas cerca de 250 mil pessoas presentes naquele dia no circuito francês.

No final da sua primeira volta, quando passava pela Maison Blanche, Ickx viu o Porsche 917 do “gentleman-driver” inglês John Woolfe em chamas, com o piloto lá dentro, certamente a dar razão aos receios que o piloto belga tinha acerca deste tipo de partida. Mais tarde, soube-se que a combinação da instabilidade que o modelo sofria na sua parte traseira, bem como o facto de Woolfe não se ter preocupado em colocar imediatamente o cinto de segurança no momento do arranque, fez selar o seu destino. O seu depósito de gasolina, cheio, saltou do carro com a volência do choque e bateu no Ferrari modelo 312P de Chris Amon, causando a desistência do piloto neozelandês.

Com o passar das horas, Ickx chegou-se paulatinamente à frente, até que perto das dez da manhã, consegue juntar-se ao então líder, o Porsche 908 de Hans Hermann e Gerard Larrousse. Ickx e Hermann passaram frequentemente pela liderança, entre paragens nas boxes, disputando a corrida mais como se fosse uma prova de Formula 1 do que propriamente uma de Endurance. E no final, o belga levou a melhor por uns meros... 120 metros. Após 24 horas de corrida sem parar, era um feito. Para melhorar as coisas, este era o mesmo carro que tinha dado a vitória ao mexicano Pedro Rodriguez e ao belga Lucien Bianchi. E também a partir daquele ano, os carros não largariam mais naquele estilo.

No dia a seguir, outro episódio mostrou a Ickx e a outros a utilidade do cinto de segurança: quando passava pela zona de Chartres, a caminho de Paris a bordo do seu Porsche 911, para um jantar em sua honra, um carro atravessa-se à sua frente, e para evitar o choque, embate num poste telefónico com alguma violência. Sai do carro, sem ferimentos aparentes, mas amparado pelo cinto de segurança que tinha colocado.

Em 1970, Ickx regressa à Ferrari, onde começa o ano a ser o único piloto na equipa, juntando-se depois outros pilotos, como o suíço Clay Regazzoni e o italiano Ignazio Giunti. Na segunda prova do ano, no circuito espanhol de Jarama, Ickx sofre uma colisão com o BRM de Jackie Oliver e sofre queimaduras um pouco por todo o corpo, depois de ter ficado quase meio minuto dentro dos restos do seu Ferrari. Recuperou a tempo de correr no Mónaco. Mas só foi a partir do GP da Holanda que recolheu os seus primeiros pontos, com um terceiro lugar, e a partir da metade do ano é que a sua máquina, o modelo 312B, é que começou a desafiar Jochen Rindt e o seu modelo Lotus 72. O seu duelo no GP da Alemanha, que naquele ano se mudara excepcionalmente para o circuito de Hockenheim, com Jochen Rindt, foi excepcional, apesar de ter sido batido pelo piloto austríaco. Ganha na Áustria, casa natal de Rindt, e com o seu acidente fatal, nos treinos de qualificação para o GP de Itália, em Monza, Ickx tinha uma chance matemática de alcançar o título, desde que vencesse todas as corridas até ao final do ano.

O desafio era titânico, mas Ickx não virou a cara. Venceu no Canadá, e em Watkins Glen, tinha boas hipóteses de alcançar novo triunfo. Mas na volta 57, uma ruptura numa das mangas de combustível fez com que parasse na boxe e perdesse muito tempo para fazer as devidas reparações. No final, terminou a corrida na quarta posição, numa prova vencida por Emerson Fittipaldi, mas o título já era. Venceu no México, a prova final do campeonato e acabou como vice-campeão, com 40 pontos.

Em termos de temporada na Endurance, esta não foi muito boa, agora que conduzia para a equipa oficial da Ferrari, a bordo do modelo 512P. A sua única grande vitória foi nas 9 Horas de Kyalami, tendo Giunti como companheiro de equipa. Em 1971, as coisas na Endurance também seriam discretas, dado que os regulamentos iriam mudar no final daquele ano, com a abolição da classe de 5 Litros, onde a Porsche dominava com o modelo 917 e as suas variantes L (Langheck – cauda longa) e K (Kurzheck – cauda pequena).

Na Formula 1, apesar da Ferrari ter o modelo do momento, ao abrir a temporada com uma vitória em Kyalami, com o americano Mario Andretti, e Ickx ter conseguido duas pole-positions e uma vitória em Zandvoort, o resto da temporada foi decepcionante, tendo sido regularmente batido pelo Tyrrell de Jackie Stewart, que facilmente dominou a concorrência e conquistou o seu segundo título mundial. No final do ano, Ickx terminou o campeonato no quarto posto, com apenas 19 pontos.

Em 1972, apesar de ter sido um campeonato mais partilhado, o 312B2 lutava contra o Tyrrell 005 de Stewart e o Lotus 72 de Emerson Fittipaldi, e os sucessos nos treinos para Ickx nem sempre se correspondiam em corrida. De facto, o único fim-de-semana perfeito para o belga foi, mais uma vez, em Nurbrurgring, onde conseguiu a tripla: pole-position, vitória e volta mais rápida. Esteve na luta pelo título até o GP de Itália, em Monza, onde partiu da polé-position. Contudo, um problema eléctrico na volta 38 terminava de vez com as suas aspirações ao título. No final dessa temporada, era quarto, com 27 pontos.



Em claro contraste, na Endurance, agora com o regulamento dos motores de 3 litros em acção, o seu modelo 312PB dominou claramente o campeonato. Ickx venceu seis corridas nesse ano, vencendo as 6 Horas de Daytona, com Mario Andretti, as 12 Horas de Sebring e os 1000 km de Brands Hatch, de novo com Andretti, os 1000 km de monza, ao lado de Clay Regazzoni, os 1000 km de Zeltweg, com Brian Redman, e as 6 Horas de Watkins Glen, de novo com Andretti.

(continua amanhã)

1 comentário:

Fernando Kesnault disse...

Cara o que falta hoje em dia aos pilotos é estas atitudes que os antigos pilotos tinham. Atualmente só se preocupam com o próprio umbigo (leia-se dinheiro), ou será que...a pouca idade os coloca à mercê dos gananciosos?? Filhinhos de papai "caem" logo na f-1 sem ter maturidade e experiencia em várias categorias, como se acontecia antigamente, e que formavam "homens" na pista e fora dela.