
Eis o artigo, na integra:

Luís Vasconcelos
“Raramente o povo se engana. Lá diz o ditado português ‘Quem te manda a ti, sapateiro, tocar rabecão?’ A moral da história aplica-se na Formula 1, no que respeita aos bons pilotos que decidiram montar equipas depois de colocarem termo às suas carreiras. John Surtees, Emerson Fittipaldi, Graham Hill e Alain Prost foram todos Campeões do Mundo de Formula 1,mas nem uma só corrida ganharam como patrões de equipa, apesar de terem tido meios, pessoal e pilotos capazes de conseguir grandes resultados.
John Surtees teve, por exemplo, Alan Jones e John Watson na sua equipa; Graham Hill, na sua única temporada como construtor (pois faleceu no final de 1975 num acidente de aviação), contou com Jones no seu serviço; Fittipaldi teve Keke Rosberg na sua equipa, e Prost teve Panis, Trulli, Alesi e Frentzen na sua equipa, mas também não conseguiu vitórias nem bons resultados.
O que leva, então, pilotos de topo a falharem de forma clamorosa nesta passagem do volante para o muro das boxes? Segundo Rosberg, “eles olham esta mudança como a forma de se manterem na Formula 1 e serem competitivos, pois o seu tempo como pilotos acabou. Mas continuam a pensar como pilotos, a decidir como pilotos, a agir como pilotos. E para ser patrão duma equipa de Formula 1 é preciso trabalhar muito, ser bom gestor e ter capacidade para delegar e escolher bem os nossos colaboradores. E é aí que os ex-campeões falham por completo”.
Sem a mentalidade certa

Acresce a esse desinteresse por tudo que seja organização, burocracia, trabalho em grupo e motivação dos empregados, se junta a inconsciente ideia de que os pilotos contratados lhe são interiores, para que as relações patrão-piloto sejam complicadas, como relembra Heinz-Harald Frentzen: “Até gostei de estar na Prost, apesar da falta de resultados, mais o Alain ainda pensava como piloto e em vez de se concentrar no seu trabalho, concentrava-se no meu. Por isso, raramente o carro esteve como eu gostava que estivesse acertado, e a equipa nunca fez um bom trabalho a nível da organização.”
Jones sem papas na língua

Mas o australiano ainda relembra do dia em que, para justificar a falta de andamento do TS19, “Big John” disse-lhe que “o problema é que o chassis é demasiado bom e equilibrado, o que não permite que os pneus trabalhem ao seu melhor nível, porque não são forçados a isso!” A resposta de Jones, típica da sua maneira de ser, fez história: “Bom, John, se é assim, porque é que não f*** um bocadinho a afinação?”
Brabham foi excepção

Para quem trabalhou com ele, como Ron Dennis: “Jack era antes de mais nada, um técnico que pilotava muito bem. Nunca foi o mais dotado dos pilotos, mas era seguramente o mais tenaz. Só que a sua verdadeira motivação era de construir carros melhores que os da concorrência e ganhar com eles”. Por isso abandonou a Cooper, com o qual venceu dois mundiais – mesmo se já trabalhara no projecto e construção dos chassis – para formar a sua equipa. Custou-lhe perder o Mundial de 1967 para Hulme, seu companheiro de equipa, mas venceu corridas até ao seu último ano como piloto, depois, virou as costas à Formula 1 e regressou à Austrália.
Onde encontrar:
Autosport – 23 de Fevereiro a 2 de Março de 2009, pgs 44 - 46
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