quarta-feira, 26 de julho de 2017

Um futuro automobilistico sem barulho

Quando escrevia sobre o "carmagedão" (ou "autocalipse", como preferirem), na segunda-feira, soube da noticia de que a Mercedes iria abandonar a DTM no final de 2018 e passar para a Formula E a partir de 2019/20, passando a estar no mesmo lugar onde estão a Audi e a BMW, e onde provavelmente poderá estar a Porsche, porque também pensa na ideia, e provavelmente irá decidir sobre isso por estes dias.

A noticia do abandono da marca de três pontas colocou em causa a continuidade da DTM, porque as outras duas marcas também estão presentes na competição elétrica, embora achem que estar por ali vale a pena. De uma certa forma, até têm razão: a Audi já não corre na Endurance, e a BMW está a montar o seu programa, mais virado para os GT's do que para os Protótipos. Mas mais do que isso, este anuncio mostra que todas as marcas querem agora uma coisa: construir os seus carros elétricos. 

E se forem ver, estão todos lá. E exceptuando a Techeetah, não há praticamente uma equipa verdadeiramente independente. Renault, com a e.dams; DS (Citroen) com a Virgin; BMW com a Andretti; Faraday Future com a Dragon Racing; Abt com a Audi (vão fundir-se na próxima temporada). A Mahindra, Jaguar, Venturi e a NextEV constroem carros de estrada. 

Nestas últimas 24 horas, tenho visto muita discussão sobre o tipo de automobilismo que desejamos no futuro. E tenho visto algumas coisas interessantes. Se formos ver pelos fãs, que se baseiam na emoção, existem dias coisas: adorariam ver as suas marcas favoritas nas competições que gostam, e o ódio ao elétrico. E pela razão mais simples: não faz barulho.

É certo que os engenheiros não querem saber daquilo que os fãs pensam, mas deveriam saber que, quando as marcas dizem que "vencem no domingo para vender na segunda" é porque o pragmatismo consegue bater a emoção. E como as marcas tem de pensar em estratégias para a próxima década, deveriam saber que nesse período de tempo, os automóveis elétricos vão fazer a sua aparição, com modelos cada vez mais viáveis e mais baratos, com baterias que alargam cada vez mais a sua autonomia, ao ponto de concorrerem com os carros a gasolina.

E isso, os críticos (ainda) não querem ver.

Mas também este anuncio faz pensar algumas coisas sobre algumas competições automobilísticas nos dias de hoje. Sem a Mercedes, em 2019, a DTM vai ter de arranjar mais um construtor para fazer com que seja viável. Já viveu bem com dois construtores, quando a Opel foi-se embora, em 2005, mas logo a seguir arranjou a BMW, que apareceu por lá em 2012. E isso tudo acontece ao mesmo tempo que, no WTCC, também há uma crise de construtores. A Citroen e a Lada saíram da competição no final de 2016, deixando um vazio que ainda não foi preenchido nem com a Volvo, nem com a Honda. E apesar de terem um canal de televisão que os divulga, a Eurosport, as grelhas estão diminuídas, pois tem meramente dezasseis carros a competir regularmente, fora as entradas pontuais.

Em contraste, a TCR (Touring Car Racing) tem grelhas preenchidas com 40 carros (no exemplo alemão) e tem sido um sucesso porque permite às preparadoras pegar em vários modelos e convertê-los para o TCR, ao preço de cem mil euros por automóvel. E estão lá marcas como a Volkswagen, Audi, Opel, Seat, Kia, Alfa Romeo, Honda e Subaru, entre outros. Contudo, nenhum deles é oficial, é tudo privado, e é para manter os custos mesmo em baixo.

Contudo, dentro em breve (no final do ano, mais concretamente) vai aparecer uma competição elétrica: a Electric GT, uma competição que basicamente vai servir de campeonato de turismos, mas com carros elétricos. Ao contrário da Formula E, onde correm em circuitos urbanos, eles vão querer correr em circuitos existentes um pouco por toda a Europa (Barcelona, Paul Ricard, Estoril...) a bordo de Teslas Model S. Não é ainda uma competição da FIA, mas se a entidade que cuida dos destinos do automobilismo ver que uma competição de Turismos pode ser viável, então provavelmente poderá criar a sua própria competição e dizer aos construtores que tragam os seus modelos elétricos para tentar a sua sorte.

De uma certa forma, é mais um sinal do futuro, de que as coisas estão a mudar, por muito que os mais céticos não queiram acreditar. Há dinheiro a circular, há cientistas a trabalhar, há tecnologias a serem construidas e montadas, os cérebros estão a trabalhar, e o futuro molda-se, saindo cada vez mais da ficção cientifica para ser real. E mais cedo que imaginamos, há competições que poderão ter de mudar ou até desaparecer.

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