quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Extra-Campeonato: Hasta Siempre, Fidel

"Comunico que não aspirarei nem aceitarei - repito - não aspirarei nem aceitarei o cargo de presidente do Conselho de Estado e o de comandante em chefe." Fidel Castro, Granma, Havana, 19 de Fevereiro de 2008.

Um dia, tudo tem um fim. Para Cuba, o dia 19 de Fevereiro de 2008 significa o final de 49 anos de liderança por parte de Fidel Castro, o homem que efectuou a revolução socialista em Cuba, transformando-a num país comunista, a menos de 90 milhas (120 km) do seu maior inimigo, os Estados Unidos. Resistiu a dez presidentes norte-americanos, de Dwight Eisenhower e George W. Bush, à Crise dos Misseis de 1962, que levou EUA e URSS à beira de uma guerra nuclear, ao fim da União Soviética e do Bloco de Leste, e acima de tudo, ao bloqueio económico, que asfixiou a ilha.

Contudo, internacionalmente, tornou-se numa figura mítica e num modelo a seguir por todos aqueles que procuravam uma alternativa ao capitalismo, desde os intelectuais franceses, os "soixante-huitards" até ao fenómeno venezuelano chamado Hugo Chavéz. Todos esses esqueceram (ou menorizaram) os métodos ditatoriais, que vão desde a prisão de opositores até os mais de dois milhões de pessoas que emigraram (ou fugiram) para fora de Cuba desde 1960, muitos deles vivendo em Miami, "a maior cidade de Cuba fora de Cuba".

Agora, para o seu lugar vem Raul Castro, seu irmão e lugar-tenente. Já tomava conta dos destinos do país desde Julho de 2006, altura em que o seu irmão foi operado ao intestino. Hoje em dia, ainda se discute do que Fidel sofre, se teve uma hemorragia intestinal grave (e que poderá ter obrigado a remover o intestino delgado), ou um cancro no colón, entre outas coisas. A unica coisa verdadeira é que o seu estado de saúde é segredo de estado no seu país.

Voltando a Raúl... em principio é mais do mesmo. Mas parece que ele usa mais o cérebro e pensa menos na ideologia e mais na maneira do país ser menos dependente do exterior. Provavelmente, quererá seguir o modelo económico chinês, e até já ensaiou aproximações aos Estados Unidos! Quem diria...

Claro, Raul não pode esticar muito a corda, pois Fidel ainda vive, e ainda tem muita influência. "Ele continua com o poder por controlo remoto, na cama presidencial desde a qual dita (sempre foi um ditador) os textos que lhe permitem exercer essa outra categoria de poder", escreveu o cubano exilado Raúl Rivero, num artigo para o site do jornal espanhol El Mundo.

E agora qual é o seu legado? No dia em que foi condenado pelo assalto do Quartel da Moncada, em 1953, ele afirmou: "A História me absolverá". Nâo creio que iss aconteça, mas o seu carisma, influência e inspiração para muitos homens e regimes, durante quase 50 anos, tornaram-no imortal, para o bem e para o mal.

2 comentários:

Anónimo disse...

Belíssimo post, Speeder.

Já era hora do povo cubano viver uma nova realidade, novos sonhos e prazeres que durante o regime ditatorial cubano restringiam-se a uma pequena elite.

O mundo moderno não comporta mais um sistema que oprime e impõe regras que não sejam as oriundas do Estado de Direito.

Estado de Direito significa que nenhum indivíduo, seja ele um presidente ou cidadão comum, está acima da lei. Os governos democráticos exercem a autoridade por meio legal e estão eles próprios sujeitos aos constrangimentos impostos por um conjunto de normas.

No Estado de Direito, um sistema de tribunais fortes e independentes tem o poder, a autoridade e toda a competência legal para responsabilizar qualquer cidadão perante os regulamentos da nação.

O ordenamento jurídico não pode ser oriundo apenas da vontade de um governante, mas do povo que elege seus representantes livremente.

A democracia é uma das maiores conquistas da humanidade.

João Carlos Viana disse...

Muito ponderado seu post Speeder

Sobre Fidel Castro, não se pode unicamente elogiar ou bater. Fidel fez muitas coisas boas para Cuba, como a garantia de saúde e educação para todos. Mas estava conversando com um amigo e lembrei que Hitler transformou uma Alemanha miserável em uma potência mundial em menos de 10 anos e Pinochet transformou um pobre Chile na terceira economia da América do Sul. Ou seja, uma ditadura traz coisas boas, mas as ruins superam de longe o que fizeram. Assim é Fidel!