terça-feira, 4 de outubro de 2022

A imagem do dia


Denny Hulme e Alan Jones descendo o The Dip nas Bathurst 1000 de 1989, ao volante de um Ford Sierra Cosworth 500. Acabaram na quinta posição, e é uma das raras ocasiões onde dois antigos campeões do mundo de Formula 1 correram juntos na mítica pista australiana.

Há precisamente 30 anos, o mundo via uns encharcados Bathurst 1000, mas também, sem saber, se despedia de uma lenda das pistas. A bordo de um BMW privado, patrocinado pela Benson & Hedges, Denny Hulme, então com 56 anos, estava na sua segunda vida como piloto, depois de 18 anos antes, ter pendurado o capacete no seu McLaren M23 de Formula 1.

Tinha-se retirado para a Nova Zelândia, mas o seu estilo inquieto não o deixou ficar por muito tempo. Desde o meio da década de 80 que se mete nos Turismos, quer na Grã-Bretanha, onde triunfa em Silverstone, ao volante de um Sierra Cosworth da Tom Walkinshaw Racing, em 1986, quando o piloto tinha... 50 anos. E em 1991, ele tinha conseguido o quarto lugar no Bathurst 1000, no mesmo BMW M3, ao lado de Peter Fitzgerald, dois anos depois de ter acabado em quinto na mesma prova, ao lado de Peter Longhurst e Alan Jones, outro campeão do mundo de Formula 1, num Ford Sierra 500.

Mas estes triunfos e a segunda vida do velho "Urso", ficaram marcados por uma perda pessoal. No dia de Natal de 1988, Dennis divertia-se num barco com o seu filho Martin Clive, então com 21 anos. A relação entre pai e filho era boa, sempre se gostaram um ao outro, embora não tivesse o gosto do automobilismo que o pai. Contudo, nessa tarde, acontece um acidente e Martin acaba por morrer afogado. Apesar da vida continuar, e de ele não deixar de ser competitivo, especialmente na Austrália - entretanto, metera-se nas corridas de camiões - naquele 4 de outubro de 1992, Denny Hulme queixa-se um pouco de tudo: do tempo, do carro, das entradas do Pace Car por causa dos acidentes que aconteciam no Mount Panorama, por ser perigoso.

E depois, queixa-se de que está a ver mal e quer ir às boxes. Eles ouvem, mas quando está a descer a mítica Conrod Straight, a caminho das boxes, ele vai de um lado para o outro da pista, parando sem bater em nada. Quando os socorristas chegam, encontram-no agarrado ao cinto, mas morto, vítima de um ataque cardíaco. 

Depois do choque, a família conta o resto da história: quando está em casa, passa as tardes no cemitério, ao lado da campa do seu filho. Ele, filho de um veterano de guerra, um dos poucos recipientes da Victória Cross, a mais prestigiada condecoração do império britânico, morreu porque o seu coração estava partido há muito, por ter passado por aquilo que nenhum pai quer passar.    

1 comentário:

fabehr disse...

Hulme foi um gigante! Basta contar quantos campeões mundiais ele derrotou ao conquistar o título de 1967.