quinta-feira, 22 de julho de 2010

5ª Coluna: Bernie, the Entertainer

Sem nada de relevo na Formula 1, neste Julho onde aos poucos, boa parte da Europa e da América do Norte está a entrar a meio gás por causa das férias, e ainda por cima, o fim de semana competitivo se resumiu ao WTCC em Brands Hatch e ao assustador acidente do português Francisco Carvalho numa corrida de suporte, à Superleague Formula e à vitória de Bruno Magalhães no Rali dos Açores.

Tudo isso, para além da corrida de Toronto, na Indy Car Series, poderiam ser bons motivos para falar neste canto, mas no inicio da semana, Bernie Ecclestone decidiu abrir a boca e mandar mais uma das suas. E o que decidiu falar desta vez? O Mónaco. Na segunda feira, decidiu falar à imprensa afirmando que a Formula 1 poderia passar bem sem o Mónaco. "Os europeus irão pagar mais ou terão que ir para algum outro lugar. Nós podemos viver bem sem o Mónaco", afirmou.

Primeiro que tudo, o contexto de tais declarações. O Bernie anda à procura de locais para expandir o seu negócio, qual multinacional sedenta de dinheiro. Depois de garantir os Estados Unidos, agora está apostado em conseguir um GP da Rússia e pensa num regresso à África do Sul, pais que a Formula 1 não visita desde 1993. Só que ele quer mais dinheiro do que recebe, alegando que as despesas de transporte serão maiores, e quer que as corridas europeias abram um pouco mais os cordões à bolsa.

Em suma: ele quer que lugares como Monza, Silverstone ou Hockenheim paguem 50 milhões de dólares por ano, como paga agora Singapura, por exemplo. Seria mais simples se abdicasse de parte dos seus lucros, mas enfim...

No meio disto tudo, pode-se dizer que isto é falatório, nada disto é para ser levado a sério porque o Mónaco é o centro desta Formula 1 de negócios, pois esta modalidade precisa da tradição e de um espelho de riquieza e classe, algo que vai demorar algumas gerações a alcançar em lugares como Abu Dhabi, por exemplo. Ou em algum dos tilkódromos que conseguirem aguentar o teste do tempo.

Mas Bernie conseguiu destapar um segredo neste negócio: o Mónaco não paga nada para ter a Formula 1 no seu Principado. E está a dizer que foram eles que ajudaram a dar ao microestado mediterrânico muito do seu nome actual. Portanto, ele quererá com isto espremer um pouco mais a galinha dos ovos de ouro, do qual metade dos proveitos caem nos bolsos da Formula One Management.

Mas quando Bernie abre a boca, ele o faz porque sabe que as suas declarações, por mais disparatadas que sejam, serão comentadas e dissecadas pelos especialistas e adeptos. No primeiro caso já sabem o que esperar dele, pois já viram dezenas de "soundbytes" ao longo das suas carreiras, e no segundo caso, o ódio deles para si só faz confirmar uma das velhas máximas do entretenimento: falem mal de mim, mas falem. É como as meninas do Big Brother: basta agirem como galdérias por um momento que terão fama e fortuna por muito mais do que os 15 minutos profetizados pelo seu contemporâneo Andy Warhol...

Mas por detrás deste mais recente "soundbyte" escondem-se outras razões. É mais um sinal da tempestade que aí vem, do novo Pacto da Concórdia, que começa a ser discutido em 2011, pois o actual expira em 2012. E se sabem que uma das razões pelo qual estivemos próximos de uma separação em 2009 foi por causa da distribuição da fatia do bolo das transmissões, que as equipas querem que seja maior. E elas estão unidas e determinadas em conseguir esta fatia do bolo. Esta declaração pode ser vista como forma de tentar compensar as perdas que poderá ter caso perca o braço de ferro.

E Bernie é capaz de fazer tudo para sair vitorioso neste combate. Porquê? Pois pode vir a ser o último que irá enfrentar. O Tio Bernie vai fazer 80 anos a 30 de Outubro e o ex-dono da Brabham, dono de uma fortuna colossal, sofreu um bocado com o acordo de divórcio da sua mulher, a croata Slavica uma ex-modelo com idade para ser a sua filha. E parece que actualmente anda com uma modelo de 30 anos. Menos cinquenta do que ele...

Mas deixando de lado as considerações da vida privada, existem coisas bem mais sérias que podemos julgar estar por detrás desta declaração e outras que vieram a público nas últimas semanas. Uma boa razão, mas mais para o lado da FIA, tem a ver com um péssimo acordo assinado por Max Mosley em 1997 sobre a cedência dos direitos empresariais da Formula 1 à FOM quase de graça, em troca de uma comissão de 7 milhões de dólares anuais até 2010. É isso... o acordo acaba este ano, findo o qual não recebem mais nada.

Mas o pior aconteceu em 2001, quando a Comissão Europeia apertou os calos à FIA devido ao acordo que classificou como "monopólio". Elaborou um acordo ainda mais leonino, cedendo os direitos... até 2101. Leram bem: cem anos! Quem conta isso com os pormenores escabrosos é o Mike Vlcek, do site Formula UK.

Contudo, muito para além disso, depois de ler muitas noticias sobre ele e as suas últimas aventuras empresariais, chego à conclusão que não tem tanto a ver com o dinheiro. Tem a ver com o seu modo de ser, a sua postura. Há mais de 40 anos que se descreve Ecclestone como um "ditador" que, começando como empresário de pilotos, no final dos anos 60, comprou a Brabham em 1971 e a partir dali tomou conta dos direitos comerciais da Formula 1, dando à categoria o maior fluxo de dinheiro da História da competição, que transformou de um conjunto de barracas dirigidas por garagistas em oficinas de alta tecnologia, com centenas, senão milhares de milhões de dólares por ano a fluírem para lá, transformando-a através da televisão, num desporto seguido por centenas de milhões de pessoas um pouco por todo o mundo. E que estão dispostas a pagar dezenas, centenas senão milhares de dólares para verem e ouvirem, quer seja no local, quer seja em casa, no conforto do nosso sofá, graças ao pay-tv que transforma a Formula 1 cada vez mais em algo parecido com aquilo que é o boxe actualmente: um desporto que pagamos para ver, raspando o fundos dos bolsos se for preciso.

Em suma, toda esta batalha tem a ver com o perder ou não a face por parte de Bernie. Ele detesta perder. E este "soundbyte" monegasco deve somente ser encarado como um aviso que está preparado para a próxima batalha.

1 comentário:

Unknown disse...

Speeder_76

Foi um prazer receber sua visita no nosso blog, e desde já agradecemos a inclusão do Ultrapassagem no seu blog.

Eu sempre admirei o trabalho de três blog´s na net : o F1Around, o FormulaUK e o Continentalcircus. Perfil e conteúdo diferente, mas a mesma preocupação com a qualidade e grande talento para escrever.

O Ultrapassagem tem a finalidade de manter acesa a chama que Becken acendeu numa comunidade que frequentava o F1Around, tentar manter esse grupo tão especial unido de alguma forma e obviamente trazer mais gente boa para o debate dessa nossa paixão.

Contamos com sua participação e apoio, afinal só temos a aprender com você.

Um forte abraço,

Sirlan Pedrosa