quinta-feira, 1 de setembro de 2016

E agora, Brasil?

Felipe Massa anunciou esta quinta-feira em Monza que abandonará a Formula 1 depois de 15 temporadas ao mais alto nível em equipas como Sauber, Ferrari e Williams. O piloto de São Paulo, que foi campeão do mundo por uns 20 segundos, em 2008, numa das mais finais mais épicas da história da Formula 1, decidiu sair pelo seu próprio pé, depois de três temporadas na Williams, onde os seus resultados têm estado aquém das expectativas.

Com a saída de Massa, apenas um piloto tupiniquim andará no pelotão em 2017: Felipe Nasr. E nele, nem há certezas sobre a sua presença na próxima temporada. É que o piloto da Sauber já manifestou a sua vontade de rumar a outras paragens, mas as outras equipas não estão lá muito interessadas nele. E isso poderá fazer com que aconteça algo inédito na Formula 1, que é de não ter qualquer piloto no pelotão. E a última vez que isso aconteceu foi... no GP de França de 1970, em Charade. A corrida antes da estreia de Emerson Fittipaldi na Formula 1, em Brands Hatch.

Desde então e até agora, o Brasil conheceu oito campeonatos do mundo, acolheu a Formula 1 em sitios como Interlagos e Jacarépaguá, e teve a sua própria equipa, a Copersucar-Fittipaldi. Os brasileiros ajudaram a escrever muitas páginas douradas na história da categoria máxima do automobilismo.

E não aplaudiram só Fittipaldi, Piquet e Senna. Houve outros pilotos que abrilhantaram o pelotão, como José Carlos Pace, Wilson Fittipaldi, Ingo Hoffman, Mauricio Gugelmin, Roberto Moreno, Christian Fittipaldi, Luciano Burti, Rubens Barrichello, Lucas di Grassi e Bruno Senna, entre outros. Contudo, há cada vez menos pilotos a acederem às categorias de acesso, e muitos decidem tomar o caminho da IndyCar, onde também já criou a sua classe de pilotos, entre vencedores de campeonatos e das 500 Milhas de Indianápolis.

Se formos ver uma olhada rápida nas categorias de acesso, veremos que o único piloto com chances de chegar à Formula 1 a curto prazo poderá ser Sergio Sette Câmara, mas apenas por estar na Red Bull Junior Team, que tem tanto a fama de dar a mão a talentos emergentes, como a de cuspir o mais rapidamente possível, uma vez sacado o seu talento. O próprio Nasr andou por alguns tempos nessa "cantera", antes de chegar à categoria máxima do automobilismo pelo seu próprio pé.

A isso também não poderemos alhear o facto de haver um claro desinvestimento no automobilismo no país. A demolição do autódromo de Jacarépaguá para ali se construir o parque olímpico do Rio de Janeiro é o assunto mais óbvio, mas poucos fora do Brasil sabem sobre a situação do Autódromo de Brasília, parado desde 2014 em obras de modernização que deveriam ter sido feitas para acolher a IndyCar.

Contudo, o governo do Distrito Federal estava sem dinheiro para concluir várias obras, incluindo a remodelação do autódromo Nelson Piquet, e muitos temem que tenha o mesmo destino que Jacarépaguá, demolido não para uma manifestação desportiva, mas para a especulação imobiliária da capital do país.

Sem grandes categorias nacionais a agitar o panorama automobilístico brasileiro - a Stock Car é a excepção mais óbvia, para além do fenómeno Truck Racing - a isso não é alheio as queixas de que a Confederação Brasileira do Automobilismo tornou-se no espalho do país: corrupta, ineficaz e o paraíso dos amigos do presidente da entidade. O que se salva são as confederações estaduais, sobretudo os do sul, que colocam adiante categorias regionais, viveiro de pilotos amadores e excelentes corridas.

Mas nem tudo é mau. Em 2016, foi inaugurado o Autódromo do Curvelo, em Minas Gerais, e no interior de São Paulo, o Velo Cittá, um autódromo construído por fundos privados, vieram enriquecer o panorama automobilístico brasileiro. Faltarão mais algumas coisas para fazer do Brasil um polo atrativo para os automobilistas, como é a Argentina, por exemplo, e provavelmente, quando se construir uma categoria de promoção verdadeiramente competitiva, talvez aparecerão de novo na Formula 1 os muitos talentos que polvilharam as grelhas de partida em tempos idos.

1 comentário:

Red Bull RB6 disse...

A Rede Globo tem que delegar a partir de 2017 no canal fechado da SporTV, a temporada completa da Fórmula 1 (treinos livres, oficiais e a prova ao vivo). Infelizmente já foi a época da tv aberta.