domingo, 7 de fevereiro de 2021

A imagem do dia


Uma corrida pirata, numa era em que a Formula 1 esteve muito perto de se dividir. Há precisamente 40 anos, a 7 de fevereiro de 1981, em Kyalami, na África do Sul, 18 pilotos (e uma mulher) alinharam para uma corrida que não existe, oficialmente. 

Nesta altura, a FISA, liderada pelo francês Jean-Marie Balestre, estava em guerra aberta com a FOCA, a Associação de Construtores da Formula 1, liderada pelo patrão da Brabham, Bernie Ecclestone. Balestre tinha sido eleito em 1978, e Ecclestone também chegou ao poder da associação no final desse mesmo ano, e ele conseguiu quase logo o seu primeiro golpe de génio, ao conseguir fazer um acordo de transmissões televisivas que daria aos construtores um milhão de dólares por temporada. Numa altura em que a Willians ou a Brabham eram campeãs com um orçamento de cinco milhões, era um feito...

Mas desde logo, em meados de 1979, ambas as personalidades entraram logo em conflito. Ambos eram arrogantes e tinham uma postura ditatorial, e começaram a colidir por causa das saias laterais, que a FISA pretendia bani-las, mas a FOCA não estava interessada. Mas pior do que isso, essa tensão se acumulou até ao GP do Mónaco de 1980, onde a FISA obrigou os pilotos a participarem em conferencias de imprensa, sob pena de uma multa de 5000 dólares. As equipas não obedeceram, e Baleste decidiu retirar as licenças de piloto, precipitando as coisas. Por causa disso, o GP de Espanha não era para ter seguido adiante, mas as autoridades locais forçaram a barra, reinstalaram os pilotos banidos - entre eles Alan Jones e Jacques Laffite - e as equipas foram correr, exceto os de fábrica: Ferrari, Alfa Romeo e Renault. 

Alan Jones ganhou, mas a corrida, como sabem, não contou. Foi uma "prova pirata" 

No final do ano, a FOCA decidiu que iria criar o seu próprio campeonato. E o calendário estava cheio de corridas americanas, entre elas, provas em Nova Iorque, Long Beach, Miami e Las Vegas, porque Ecclestone estava na altura obcecado com o levar da Formula 1 ao continente americano. Mas a primeira corrida do ano iria ser em Kyalami, na África do Sul, porque nesses tempos, a Formula 1 já era praticamente a única modalidade a furar o boicote desportivo por causa do regime do "apartheid". 

Nesse 7 de fevereiro, cerca de 40 mil espectadores tinham ido apanhar chuva no estio austral para assistir a 20 carros, sem Ferrari, Alfa Romeo e Renault presentes. Todos os outros competiam com motores Ford Cosworth, sob as regras da Formula Libre. E o mais curioso é que foram 19 homens... e uma mulher, porque na Tyrrell estava a local Desirée Wilson, que até realizou uma corrida interessante, antes de desistir.

A proba teve duas partes. Na primeira, Piquet, com os pneus de chuva, foi-se embora e tentou afastar-se o mais possível até ter de trocar para slicks. Reutemann, que sofria a principio por ter andado apenas de slicks, foi recompensado quando a pista secou e conseguiu aproveitar a paragens do piloto da Brabham para trocar de pneus.

No final, o argentino ganhou, com Piquet em segundo e a fechar o pódio, o Lotus de Elio de Angelis, os únicos a ficarem na mesma volta do vencedor. Keke Rosberg foi o quarto, na frente de John Watson e Riccardo Patrese, no seu Arrows. Claro, não contou. Mas se contasse, quem teria sido campeão em 1981 teria sido Reutemann e não Piquet, e a Fittipaldi teria pontuado com Rosberg...

O final da história foi rápido: com os resultados televisivos aquém das expectativas, FISA e FOCA decidiram reunir-se em Maranello, na casa da Ferrari, e com o "Commendatore" a servir de mediador, fizeram as pazes antes do GP e Long Beach, e foi assim que nasceu o Acordo da Concórdia.          

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