Ao longo da minha carreira profissional, tive imensas oportunidades de ir ver jogos de futebol e fazer os respectivos relatos de jogo. Uns extremamente aborrecidos, outros a valerem a pena a compra do bilhete. Curiosamente, nunca fui a um jogo da seleção nacional como jornalista acreditado, mas sim como um mero espectador. Mas por exemplo, já assisti a uma Taça da Europa de atletismo como membro acreditado da imprensa, e é daquelas experiências que valem a pena ver.
Esta sábado tive a hipótese de ir ver a seleção nacional a jogar na minha cidade. Que eu saiba, ela já jogou por aqui umas sete vezes, das quais assisti pelo menos a quatro delas. A primeira em 2000, contra a Dinamarca, e depois a jogos com o Kuwait - que inaugurou o atual mastondonte e onde que se deu uma cabazada de 8-0 - e contra a Albania. Não vi o jogo com o Chile, a última vez em que eles jogaram por aqui e acabou num empate a um golo.
A escolha da hora do jogo - cinco da tarde de sábado - não foi inocente, por certo, mas tudo dependia do boletim meteorológico, claro. Estava um céu claro e uma temperatura agradável, logo, muitos acharam que valia a pena trocar a praia para um vislumbre do Cristiano Ronaldo a fazer as suas fintas e do qual arrasta três ou quatro adversários atrás. Mesmo sendo um jogo a feijões, a oportunidade era unica.
E foi isso que vi quando caminhava, a pé, para o estádio. As multidões de pessoas com cachecóis da seleção, uns trazidos de casa, outros comprados no momento, atraídos por pregões como "duas peças a cinco euros!" ditas por senhoras com experiência na área e que queriam ganhar a oportunidade de conseguir uns trocos nesta tarde, especialmente os comemorativos com um "Portugal-Macedónia", engraçados por sinal, e tentadoramente baratos. Não levei um comigo, porque não quis.
Passeando à volta do estádio, vi os magotes de gente que queria comprar bilhetes à última hora e vi um estranho grupo de espanhóis, a lanchar no passeio com garrafões de cinco litros. Provavelmente admiradores do Real Madrid e do Cristiano Ronaldo, Pepe e Fábio Coentrão, não? E vi também alguns dos habituais repórteres a fazerem o seu serviço, recolhendo os habituais "vox pops" para encher o chouriço dos diretos das quatro e meia, com os bordões já gastos do "vamos ganhar por 3-0, com golos do Ronaldo". Suspeitei na altura que 90 por cento dos que estão ali só conhecem a ele e pouco mais, mas depois, o tempo viria a provar que não. Mas isso conto mais adiante.
Passadas as burocracias, cheguei ao meu lugar no momento em que se cantavam os hinos e se faziam as devidas cerimónias. Verifiquei logo que estava com uma parede laranja na minha esquerda, impedindo-me de ver a grande área mais próxima. E azar dos azares, era ali que Portugal iria atacar na primeira parte. A minha sorte é que aqueles lugares estavam vazios e podia levantar o meu rabo dali, ver tudo sem ser incomodado.
O jogo começou morno, e a multidão só se animava com os incentivos do "speaker". Umas ondas foram feitas logo a meio da primeira parte, o que achei estranho, e as coisas no relvado mostravam um Portugal em ataque continuado, contra uns macedónios - treinados agora por uma lenda chamada John Toschack - a postar a sua defesa de autocarro, ou seja, dez jogadores atrás da bola. Os portugueses bem tentavam, mas nada.
A minha experiência - e o meu instinto - começaram ali a funcionar, pensando: 'se não marcam agora, não marcam na segunda parte, por causa das substituições'. Os "jogos a feijões" servem para isso mesmo: experimentar novas táticas, rodar jogadores menos usados, dando as suas primeiras - ou unicas - internacionalizações das suas carreiras. E claro, entreter os espectadores. Mas muitas vezes, para que um aconteça, prejudica-se a outra. E lembrei-me do jogo da Albânia, onde se marcou um golo - apenas um golo - e a multidão assobiou os jogadores. Por estas bandas, o lema não escrito é: menos de goleada é derrota.
Com o intervalo, fui passear pelas entranhas do estádio. Os preços são os típicos de um estádio - absolutamente chulistas. Quem paga 2,5 euros por um gelado, por exemplo? Mais valia aguentar a fome e a sede do que esvaziar a carteira? Os tempos estão difíceis, mesmo para quem tem dinheiro no bolso...
A segunda parte mostrou os meus piores receios. A intensidade do jogo abrandou, à medida que se faziam as substituições nos dois lados, e à volta dos 50 minutos, começo a ver um sujeito de óculos, uns bons dez metros de mim, a gritar: "põe o Nelson Oliveira!". Para quem não sabe, é um jovem de 21 anos que joga no Benfica e que há um ano foi vice-campeão do mundo de sub-20 e um dos melhores jogadores desse torneio, vencido pelo Brasil. O clube não o larga nem a peso de ouro, porque sabe que ele poderá ser a "next big thing" não só nos lados da Luz, como no mundo. E isso já o fez com que se estreasse na Seleção A há uns tempos, em março. Aliás, aqui iria ser a sua segunda internacionalização.
O rapazola lá gritava, a espaços, para que Paulo Bento satisfazese o seu desejo. Pensava que era algo isolado - um desejo benfiquista, talvez - mas quando o vi a aquecer, observei que não era algo isolado. Partes do estádio estavam a aplaudir a sua presença, e mais ainda quando entrou no campo, qual Messias salvador, porque nem Ronaldo conseguia furar a defesa macedónia. Para quem esperava goleada, o 0-0 era frustrante.
E nem Nelson Oliveira conseguiu furar a defesa. Aliás, as melhores oportunidades daquela segunda parte aconteceram precisamente por alturas do 90º minuto, quando já tinha instalado nas suas cabeças a necessidade de marcar um golo para satisfazer aquele público exigente. E eles já assobiavam... e assobiaram ainda mais, quando o árbitro deu o jogo por terminado. A multidão começou a sair do estádio, não muito zangada com o resultado. Digo isto porque se assobiaram a seleção, esqueceram disso logo depois. A passear pelo estádio, vindo pelo mesmo caminho, via pessoas agarradas às suas bandeiras e cachecóis, algumas delas a pararem para falar às TV's que faziam o seu trabalho, e no meio da confusão dei por mim ao lado de um rapazinho, nos seus anos adolescentes, com um corte de cabelo a imitar o Neymar. Será que tinha aterrado no lugar certo? Parecia que sim, dado que tinha uma bandeira portuguesa enrolada no seu corpo...
Daqui a duas semanas começa o Europeu, na Polónia e na Ucrânia. Os portugueses estão naquilo que toda a gente gosta de chamar de "grupo da morte": Alemanha, Dinamarca e Holanda. Curiosamente, todos eles jogaram nessa tarde e todos eles perderam, especialmente a Suiça, que lhes deu 5-3 em Basileia, sem os jogadores do Bayern de Munique a jogar de inicio. Bons ou maus augúrios? Francamente, o que conta é o momento. E os jogos a feijões são mais lembrados nas estatísticas do que nas mentes das pessoas...
2 comentários:
Que camisa linda esta de Portugal, acho que vou comprar uma pra mim...
Paulo, ai na terrinha quanto custa uma original?
Me manda o preço por email.
Se queres comprar pela loja oficial, 127 euros. Mas há réplicas a 40 e a camisola alternativa não é essa que viste na foto.
Enviar um comentário