quinta-feira, 31 de maio de 2012

5ª Coluna: O final inevitável de uma relação arruinada

Passou algo despercebido nas noticias: no final da semana passada, a Lotus anunciou que o seu "chairman", Dany Bahar, fora suspenso das suas funções como dirigente do Grupo Lotus devido à sua "conduta". Bahar, de 41 anos e dirigente da companhia desde o final de 2009, vindo da Ferrari, tinha chegado lá com planos para transformar a companhia fundada por Colin Chapman de alto a baixo, que passava pelo regresso no nome ao desporto automóvel, até a uma nova linha de superdesportivos de estrada, recuperando os velhos nomes do passado. E para isso, tinha convencido os investidores malaios a darem um grande financiamento com o objetivo de transformar a marca de alto a baixo. 

Contudo, a pose de Bahar ao longo deste tempo todo foi, como sabemos, comprando guerras com toda a gente. Já tinha sido assim nos sítios onde tinha passado - primeiro na Red Bull, depois na Ferrari, como sendo diretor do departamento de marketing - e a mais mediática de todas estas guerras foi a que teve contra Tony Fernandes em 2010 pelo direito de ter o nome "Team Lotus" na Formula 1. O assunto foi resolvido fora dos tribunais, depois de Fernandes ter-lhe sido dada razão nos direitos para obter o nome, provenientes de David Hunt, que por sua vez tinha comprado da Peter Collins e Peter Wright em 1990, que tinham ficado com a equipa de Formula 1 depois da familia Chapman ter cedido os seus direitos.

Bahar tinha planos enormes: colocar a marca Lotus em tudo que tinha quatro rodas e um volante, desde a Formula 1 até ao karting (!) ao mesmo tempo que fazia modelos de estrada. Mais do que um modelo, para ser mais preciso. Mas para que uma coisa dessas desse resultados, os seus financiadores tinham de ter uma confiança cega no seu projeto. Apesar dos seus financiadores saberem do seu passado quer na Ferrari, quer na Red Bull, o seu estilo de governação ainda não os tinha assustado suficientemente para o remover dali. Para piorar as coisas, Bahar tem um estilo ao mesmo tempo sedutor e megalomaníaco, e eles acharam que apostar todas as cartas em todas as frentes poderia ser a merlhor coisa que se poderia fazer para a marca.

Para piorar as coisas, Bahar, em vez de abraçar com toda a força a herança de Colin Chapman, de carros pequenos, leves e velozes, fez exactamente o contrário. A sua agenda pessoal era pura e simplesmente pegar na Lotus e a transformar uma "Ferrari inglesa", deitando fora tudo o que foi feito atrás. E claro, fazer uma coisa dessas em tempos como estes, era uma opção que iria sair muito caro. E a escala dessa ambição louca se viu quando se apresentou a "nova Lotus" no Salão de Paris, em setembro de 2010: cinco modelos de automóveis, todos a serem feitos ate 2015. Numa era onde o dinheiro não é muito e onde o mercado dos super-desportivos anda cheio de modelos destes e afins, e onde também a McLaren demorou algum tempo e gastou muito dinheiro para construir o seu modelo MP4-12C, ver cinco modelos a serem construidos num curto espaço de tempo parecia ser incrivelmente louco. Ou tinha fundos infinitos, ou os seus investidores confiavam cegamente em Bahar.  

Contudo, quando no inicio deste anos, o governo malaio decidiu vender a Proton - que por si mesma já era deficitária - também serviu para se livrar do "ativo tóxico" que já se tinha tornado Dany Bahar. Já se tinha visto como é que os mais de oitenta milhões de dólares emprestados pelos bancos locais, com a garantia do próprio governo, tinham sido gastos, com projetos que tinham pouco ou nenhum retorno, a curto prazo, desde os patrocinios a tudo que tinha quatro rodas e um volante - GP2, GP3, Endurance, até um programa de GT nos ralis - até, claro, no projeto dos motores preparados pela Judd para a IndyCar e que resultou naquilo que sabemos. Mas também parece que esse dinheiro foi também usado para... renovar as instalações de Hethel, sede da companhia. Ou seja: o dinheiro serviu para tudo menos aquilo que deveria ser feito.

Claro, nesta altura, escusado será afirmar "eu bem avisei", porque de uma certa forma a marca tornou-se na maior vítima dos planos loucos de um homem. O pior é que quem irá sofrer será a região de Norwich, local onde está instalada a fábrica da Lotus. Com noticias cada vez mais iminentes de venda ou de insolvência, o futuro tornou-se incerto. E provavelmente Colin Chapman, onde quer que esteja, estará a fazer o seu melhor para que se transforme no novo Polo Norte magnético, de tanto que se revira no seu túmulo...

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