quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Acerca da briga entre Nico Rosberg e Lewis Hamilton

Nestas coisas todas, é ótimo deixar passar algum tempo e ler as opiniões de alguns dos entendidos sobre os eventos de domingo em Spa-Francochamps. E poderemos chegar a algumas conclusões. Uma delas é que acho que é fascinante ver esta guerra à nossa frente, digna das lutas do passado. Embora diga que ainda falta um bocado para chegarem ao nível de Ayrton Senna e Alain Prost, há 25 anos.

Ainda bem que a Mercedes têm dois pilotos sedentos por vitórias e têm um chassis (e um motor) que domina sobre os demais construtores no pelotão. A qualificação belga, embora tendo decorrido debaixo de chuva, demonstrou uma superioridade que já não via desde os tempos do Williams FW14, de 1992, quando davam cerca de dois segundos de diferença sobre a concorrência. E ainda bem que a Mercedes deu aos pilotos "carta branca" para lutar pela vitória. Caso não tivessem feito isso, e terem dado uma hierarquia de primeiro/segundo piloto, os críticos não estariam a falar sobre a "rédea solta" que a Mercedes tinha dado a Nico Rosberg e Lewis Hamilton, mas sim sobre como "esta Formula 1 estaria morta" e estariam a discutir quando é que o título seria entregue. Ou pior...

Logo no domingo se viu que muito do falatório veio da imprensa inglesa. Que, obviamente, quer ver um piloto inglês a ganhar. E o uso da imprensa por parte de Lewis Hamilton mostra uma faceta "politica" que não tinha visto antes. Não de forma tao descarada. Transformar um mero incidente numa tempestade (talvez ele não tenha entendido o sarcasmo de Nico Rosberg...) é mais coisa de Alain Prost do que Ayrton Senna, embora o brasileiro também fosse mestre em manipular a imprensa. 

Mas isto já era esperado. A tempestade já se vinha a acumular desde há algum tempo. Primeiro que tudo, temos a ver quem defende Hamilton e quem defende Nico. O alemão é acarinhado pela equipa, dado ser alemão e dado ser uma pessoa profissional, séria e discreta. Um funcionário tipicamente alemão, dando o seu melhor pela companhia. Já Lewis é aposta pessoal de Niki Lauda, que convenceu Hamilton a sair da McLaren, onde foi formado desde tenra idade, para ganhar milhões e ter à sua disposição um carro para ser campeão do mundo. De facto, Lewis é veloz e vencedor, mas nunca o vi com estofo para ser campeão, pois cede nos momentos decisivos.

Quanto a Nico Rosberg, eu creio que as pessoas sempre subestimaram as suas capacidades como piloto. Quando ele estilhaçou Michael Schumacher nos anos em que ambos foram companheiros de equipa, a grande maioria deles preferiu afirmar que Schumacher era um piloto demasiado velho e que a sua segunda vinda para a Formula 1 foi um desperdício da sua reputação e do seu talento. Ao ver as prestações deste ano, vi que não só era capaz de acompanhar Lewis Hamilton, como era capaz de ser superior a ele em certas ocasiões. É verdade que Hamilton foi superior a ele no Bahrein, mas o inglês reconheceu que teve de suar muito para o bater. E sabia que, se tivesse problemas, ele aproveitaria. Foi o que aconteceu. Das cinco vezes em que houve problemas com um piloto da Mercedes, antes da Bélgica, Hamilton foi prejudicado por quatro (Austrália, Canadá, Alemanha e Hungria) enquanto que Rosberg teve problemas na Grã-Bretanha. E Hamilton, das quatro vezes, só foi melhor do que o alemão em Hungaroring.

Agora, as pessoas acham que "a amizade acabou" na equipa. Para mim, a amizade acabou faz muito tempo, se é que houve alguma amizade entre ambos. Já alguma vez viram os dois a conviverem fora da pista, sem ser em ações promocionais da marca? Viram alguma vez Lewis e Nico numa discoteca, à civil, com os seus compinchas? A namorada de Nico é alguma famosa? Não, nunca viram. Não que ambos sejam "irmãos de sangue" ou "inimigos declarados", mas que deveria haver alguma admiração e respeito, deveria. Mas o mundo da Formula 1 é egoista, e sempre te dizem que o teu primeiro (e se calhar o maior) adversário é o teu companheiro de equipa. É por isso que muitas das vezes, as equipas escolhem um companheiro mais fraco, para que todos se concentram as suas ambições no piloto principal, sem obstáculos internos. O outro que recolha os pontos para o campeonato de construtores, ou que preencha os requisitos mínimos para que a equipa possa correr na Formula 1.

Como é que isto vai acabar? Francamente, não estou a ver nada semelhante a Suzuka, em 1989. Mas não posso descartar completamente essa ideia, especialmente quando teremos uma corrida em que os pontos são a dobrar, em Abu Dhabi. E a cúpula da Mercedes chegar ao pé dos pilotos e dizer que a partir de agora irá haver ordens de equipa, também é perigoso, pelo menos numa altura tão prematura do campeonato. Tomar por um dos lados é uma decisão dificilima, ainda por cima com dois pilotos capazes de vencer o título mundial. Se disserem que é Rosberg que vai ganhar, Hamilton poderá queixar-se na imprensa inglesa de que é um coitadinho, que é uma injustiça, e que coloca tudo a arder e tornará o ar na Mercedes ainda mais irrespirável, procurando uma saída para outra equipa, como por exemplo, a McLaren, que em 2015 terá motores Honda. Se for o contrário, Rosberg poderá sentir que toda a sua dedicação à turma de Estugarda não serviu de nada, e que poderá ter de procurar por outras paragens. De facto, Toto Wolff e Niki Lauda têm um grande problema entre mãos, do qual tão cedo não será resolvido.

E quando à hipótese de Daniel Ricciardo vir de trás e roubar o título de pilotos à Mercedes, eu descartaria completamente essa hipótese se estivessmos na corrida numero 16 e sem os pontos a dobrar. Mas este ano temos os pontos a dobrar em Abu Dhabi e ainda estamos na 12ª corrida deste campeonato...

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