quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

O que esperar de Mick Schumacher?

Hoje, Michael Schumacher comemora o seu 50º aniversário natalício. Se por todo o mundo se honra um excelente piloto, que gera amores e ódios, e que está "morto para o mundo" desde o dia 29 de dezembro de 2013, altura do seu acidente nos Alpes Franceses, então é altura de olharmos para o futuro, para o que vêm aí: o seu filho Mick Schumacher. E é importante fazer agora este exercício, porque dentro de dois anos, o mais tardar, ele estará na Formula 1 e as comparações com o seu pai serão inevitáveis. Por um lado, porque muitos acreditam que o talento pode ser herdado. E por outro, muitos adorariam apontar para ele e dizer que é um Bruno Senna a falar alemão.

E é importante falar isto, sobre os descendentes dos pilotos. A Formula 1 está-se a tornar cada vez mais numa coutada de herdeiros. Não que nunca houve filhos de pilotos a enverdarem pelo automobilismo - Alberto Ascari, nos anos 50, era filho de Antônio Ascari, um dos grandes pilotos da Alfa Romeo nos anos 20 - mas hoje em dia, parece ser mais a norma que a excepção. Já vimos Jacques Villeneuve, Damon Hill e Nico Rosberg, mas hoje em dia vemos o filho de Jos Verstappen a ser declarado como a próxima grande esperança do automobilismo, e Emerson Fittipaldi já tem os seus netos nos monolugares... e já disse que quer competir com eles.

Precisa-se de entender agora se Mick é outro Bruno Senna. É verdade que venceu competições - a Formula 3 em 2018, pela Prema Theodore Racing - mas a carreira dele teve altos e baixos. Começou no karting, aos oito anos de idade, e começou a correr com o nome de solteira da mãe para evitar as luzes da ribalta, numa primeira manifestação da privacidade tão cara para os Schumacher. Chegou aos monolugares em 2015, na Formula 4 alemã, e acabou sendo segundo classificado em 2016, quer na competição alemã, quer na italiana. E depois de uma temporada de adaptação em 2017, pela Prema, foi campeão da Formula 3 no ano seguinte, sendo quinto classificado no GP de Macau de 2018, prova do qual o seu pai tinha vencido 28 anos antes, numa batalha com Mika Hakkinen.

O engraçado sobre Mick é que durante uma temporada e meia na Formula 3, não deslumbrou. E foi apenas a partir do fim de semana de Spa-Francochamps, quando venceu a sua primeira corrida, é que disparou rumo ao primeiro lugar e consequente título. Atá ali tinha tido dois pódios, ambos terceiros lugares. Depois, nas quinze corridas seguintes, conseguiu onze pódios, sete dos quais vitórias. Pode-se dizer que fez as coisas bem, que tinha uma excelente máquina, e tudo o mais. E isso foi o suficiente para que toda a Formula 1 estivesse de olho nele, especulando-se até que o piloto poderia ir já para a categoria máxima do automobilismo, pela Toro Rosso. Com McLaren e Ferrari a convidá-lo para fazer umas sessões de simulação nas suas sedes. 

Contudo, decidiu ir para a Formula 2, sempre pela Prema, para provavelmente tentar a sua sorte. E se for bem sucedido, lá para 2021, chegar à Formula 1. 

Mas... é o pai reencarnado? Aos 19 anos, Schumacher pai teve tempo para o moldar, mas não para o afinar, especialmente nos karts. Mas o talento do piloto é parte instinto, parte prática. Há excelentes pessoas que, com imensa pratica, conseguem ser muito bons no que fazem. E claro, os que nascem com o dom, e que com metade da prática, chagam facilmente ao topo. O que receio é que vejam nele o pai reencarnado. E não é, nunca será. 

Digo isto porque parece que esquecemos dos eventos de há quinze anos, quando Michael corria com o seu irmão mais novo. Ralf Schumacher também tinha talento, vencendo seis corridas pela Williams e conseguindo 27 pódios, mas foram poucas as vezes em que superou o seu irmão, e os detratores começaram a chamá-lo de "Half Schumacher". E é isso que receio: que ao primeiro tropeção, esquecem o pai e lembram-se do tio. E são raros os pilotos cujos descendentes foram melhores que os pais. Já falei de um, outro é Max Verstappen. E Michael Schumacher colocou uma fasquia numa altura "everestiana" para Mick. Para o esquecer, ele teria de alcançar, no mínimo, oito títulos mundiais e se calhar, 150 vitórias na Formula 1. E pelo caminho, vencer as 24 Horas de Le Mans na primeira tentativa, as 500 Milhas de Indianápolis, oito GP's do Mónaco e se calhar outros tantos GP's de Macau. E isto é, provavelmente, uma parte da lista do qual os adeptos, sempre exigentes, desejam que Mick supere. 

Resta saber se ele está à altura do desafio. Eu suspeito que seja um rapaz normal, que adore correr e que tem o dinheiro para fazê-lo. Ou seja, tem mais para Ralf do que Michael. Posso estar enganado, óbviamente. Mas é para verem o que se tornou o automobilismo por estes dias: a tal coutada onde quem tem nome, tem a vida um pouco mais facilitada. E se tiver algum talento, é bem vindo.

Mesmo assim, será interessante ver o que Mick Schumacher fará em 2019, na Formula 2. E como aguentará as pressões da imprensa, que com o nome que carrega, será a dobrar. Pois para além da especializada, ainda tem os mexericos que se matam para ter alguma coisa sobre o estado de saúde do seu pai. Só mesmo os fortes para aguentar.

1 comentário:

Cláudio Guerra disse...

Concordo plenamente com você. Parabéns pelo texto bem feito.