quinta-feira, 11 de junho de 2020

A imagem do dia

Há 65 anos, poderíamos ter perdido o automobilismo para sempre. Nesse dia, em Le Mans, aquilo que estava a ser uma das edições mais competitivas até então, o Mercedes de Pierre "Levegh" perdeu o controlo devido a um desentendimento com o Jaguar de Mike Hawthorn, e o seu carro foi atirado contra a multidão que se aglomerava. No final, 80 pessoas morreram, incluindo o piloto. 

A não interrupção da corrida, para evitar que as estradas ficassem congestionadas com carros e para que as ambulâncias pudessem andar para levar os feridos, pode não ter sido boa no momento, mas foi lógica, porque provavelmente assim muitas vidas foram salvas.

Mas houve consequências. De repente, o automobilismo se tornou na má da fita. As corridas de Espanha, Suíça e Alemanha foram canceladas, e houve pressões para que as da Grã-Bretanha e Itália também fossem, mas não foram adiante. 

A Mercedes, envolvida no acidente, correu por mais algumas horas, antes de pedir aos seus pilotos para que retirassem da prova, um pouco por respeito às famílias dos mortos, mas também como tinha sido um carro alemão envolvido no acidente, dez anos depois do final da II Guerra Mundial - embora fosse mais vítima que réu - e no final do ano, também decidiram colocar os carros no museu, e não pensando mais em automobilismo por uma geração, até voltarem com a Sauber em 1988. Por essa altura, o mítico Alfred Neubauer já tinha morrido havia quase uma década.

E as consequências desse acidente ainda hoje se sentem. A Suíça, por exemplo apenas alterou a lei da proibição de corridas no seu solo para permitir as provas de Formula E, o que já aconteceu.

Mas também o que esta prova - e este horrendo acidente mostrou - é que a velocidade é um perigo, e tinha de se fazer algo para a tornar mais segura. Mas como as pessoas não queriam mudar na estrutura dos carros, das pessoas, dos circuitos, a alternativa foi a mais radical. E quando viram isso, começou a despertar uma consciência dessa periculosidade. Demorou um certo tempo, muito mais pilotos mortos, mais espectadores (Mille Miglia 1957, Monza 1961), mas as coisas começaram a acontecer até chegarmos a um desporto bem mais seguro que tínhamos.

Contudo, naquele dia de há 65 anos, estiveram muito perto de a transformar em fora da lei.  

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