quinta-feira, 9 de março de 2023

A imagem do dia


O campeonato de Portugal de ralis terá em 2023 uma figura invulgar: um estrangeiro. E não é um qualquer. Trata-se de um irlandês, que corre numa equipa oficial, em part-time, e para preencher os "buracos", aceitou o desafio da filial portuguesa para ir correr neste campeonato, com um calendário onde metade dos ralis são em terra e a outra metade é em asfalto, e fará longas distâncias para correr por lá, nomeadamente Madeira e Açores - normalmente, porque nos últimos tempos, com a retirada do Europeu ao arquipélago açoriano, os pilotos do Continente estão dispensados de lá irem.

Craig Breen é uma aposta da Hyundai Portugal para alcançar o título, algo que não tem conseguido com gente como Bruno Magalhães e Ricardo Teodósio. O primeiro tem "pedigree" porque foi vice-campeão europeu da categoria, correndo em máquinas capazes como o Peugeot 207 e 208 S2000 e R5, antes de experimentar o Skoda e ir para a Hyundai. E não tem conseguido porque o veterano Armindo Araújo, agora com 45 anos, e depois de muito tempo parado depois da sua experiência no WRC - entre 2007 e 2012 foi campeão mundial de Produção e andou duas temporadas num Mini WRC oficial - decidiu regressar aos ralis e no seu Skoda Fabia, alcançou títulos consecutivos no panorama nacional, algo que nem ele, nem outros como José Pedro Fontes conseguiram alcançar. 

Breen poderá ser superior à concorrência, mas esta conhece as classificativas, logo, terá de se adaptar e encontrará dificuldades a principio. Ainda por cima, o Serras de Fafe, primeiro rali do campeonato, fará parte do Europeu, logo, atrairá excelentes pilotos. Mas creio que a partir do meio do ano, se calhar antes do rali da Madeira, andará depressa e triunfará. Eu direi mais: é o favorito à conquista do título, de longe. E ele reconhece todas essas dificuldades, como se evidencia na entrevista que deu à Autosport portuguesa

Mas depois pergunta-se: se ganhar, será campeão nacional? É um estatuto... cinzento. As regras não são categóricas nesse campo, ou seja, não é certo que, mesmo alcançando o primeiro lugar da classificação, seja automaticamente coroado campeão nacional. À partida sim, mas ele não é português e há quem ache que deveria ter um estatuto especial, ou seja, receberia as vitórias, mas não os pontos e o segundo classificado seria o campeão. 

Mas não creio que nem Breen, nem a Hyundai Portugal, tenham feito esta viagem só para aquecer, pelo amor ao automobilismo. É algo do qual a FPAK, Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting, deveria tratar, e mesmo o ACP, Automóvel Clube de Portugal, que organiza o Rali de Portugal, em maio, tem de resolver esta situação, porque senão teremos pilotos e equipas a reclamarem, especialmente se ele começar a ganhar ralis atrás de ralis, porque creio que a concorrência está alinhada por baixo. Poucos - ou quase nenhuns - são os pilotos profissionais, são endinheirados e empresários, na casa dos 35 a 50 anos, e a esmagadora maioria dos carros são inscritos por equipas criadas pelos pilotos, ou seja, privados. A Hyundai Portugal é a única marca oficial a marcar presença, apesar do parque automóvel nacional estar repleto de R5 e Rally2, sejam Hyundais, Skodas, Citroens e um ocasional Ford, porque a Toyota ainda não começou a vender os seus Yaris Rally2.

Em suma, o Campeonato de Portugal de Ralis tem algo que o enriquecerá em 2023. Contudo, haverá um problema do qual chutaram para a frente, como se fosse uma lata, e mais cedo ou mais tarde, todos tropeçarão nela. E se calhar quando acontecer, irão pensar porque não resolveram na sua devida altura. Até lá, sentemos a assistamos aos ralis, que prometem ser muito competitivos.          

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