O rali da Grã-Bretanha de 2001 tinha 17 especiais e aconteceu ao longo de três dias, entre os dias 22 e 25 de novembro de 2001. Os candidatos ao título eram três: o finlandês Tommi Makkinen, tricampeão do mundo, correndo sempre pela Mitsubishi, num Evo VII, e os britânicos Colin McRae e Richard Burns. O primeiro, num Ford Focus WRC, e o segundo num Subaru Impreza WRC2001. Se os primeiros eram pilotos experimentados - e no caso de McRae, davam espetáculo na estrada - já Burns era inesperado, mas desde há algum tempo, quando assinou pela Prodrive, em 1999, mostrava ser rápido e capaz de lutar por títulos. Fora vice-campeão em 1999 e 2000, e não podia ser mais considerado como "ator secundário".
Já tinha estado na Subaru em 1993 e 94, mas tinha sido no inicio da sua carreira - nascera a 15 de janeiro de 1971 em St. John's Wood, na Grande Londres - e fez alguns ralis, nunca temporadas completas. Só teve essa chance na Mitsubishi, a partir de 1995, e em 1998, conseguiu as suas primeiras vitórias, no rali Safari, no Quénia, mas sobretudo, no rali RAC, na Grã-Bretanha, a última prova do campeonato - marcada pela desistência dramática de Carlos Sainz Sr. a 300 metros da meta, quando o seu motor morreu perante as câmaras de televisão e repórteres fotográficos um pouco por todo o mundo.
Essa vitória aconteceu precisamente no momento em que Burns ia para a Subaru, para sair da sombra de Tommi Makinen, o campeão dos campeões num pelotão bem recheado. Piloto veloz e regular no pódio, conseguia substituir Colin McRae, que tinha ido para a Ford. Mas se não tinha o carisma do escocês - ninguém o chamava de "Burn and Crash" quando tudo corria mal - todos sabiam que iria ter a sua chance. E tinha ganho alguns ralis interessantes pelo meio, como o RAC, em 2000.
E em 2001, a temporada tinha sido boa. Apesar de um mau arranque - não pontuou em Monte Carlo e na Suécia - e do primeiro pódio ter sido apenas na Argentina, quinto rali da temporada, a seguir, pontuou em quatro dos últimos cinco ralis, incluindo uma vitória na Nova Zelândia. Na Austrália, penúltima prova do ano, acabara em segundo, não muito longe do vencedor, o Peugeot de Marcus Gronholm.
Para ter chances no rali britânico, bastava um pódio para Burns, isto, se superasse McRae e Makinen. Se um deles fosse o vencedor, iria ser novamente vice-campeão. É que a diferença entre primeiro e terceiro era de dois pontos: 42 para McRae, 41 para Makinen, 40 para Burns. Carlos Sainz Sr. e outro finlandês, Harri Rovanpera - sim, o pai de Kalle Rovanpera - tinham 33 pontos, mas era mais teórico que prático.
McRae começou a ganhar as primeiras especiais do dia nas estradas do País de Gales, mas a partir da terceira especial, Marcus Gronholm, que já não tinha chance no seu Peugeot 206 WRC, passou para a frente e quase não olhou para trás, especialmente a partir do final do primeiro dia.
Burns tentava não perder o ritmo dos primeiros, e depois de Makinen ter perdido uma roda na segunda especial e, especialmente, depois de McRae ter capotado e destruído o seu Ford na PEC 4, o seu objetivo era agora chegar ao fim num lugar de pódio. Mas isso não impedia de cometer erros, como acontecera na sexta especial, quando escorregou e bateu num toro de madeira. Contudo, prosseguiu sem danos no carro e no final do primeiro dia, era segundo, 36 segundos atrás de Gronholm, no seu Peugeot. O segundo dia, mais complicado por causa do nevoeiro - uma das especiais foi cancelada por motivos de segurança - e Burns não corria riscos, porque sobretudo, queria chegar ao fim.
E quando, por fim, aconteceu, Robert Reid, o seu navegador, deu-lhe a mão e disse as famosas palavras: "you are the world champion", e aos 30 anos, o seu sonho de criança tinha sido alcançado. E ainda por cima, seis anos depois de Colin McRae, a Grã-Bretanha comemorava o seu segundo campeão do mundo, no seu rali caseiro.
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O principio do fim de Richard Burns aconteceu na autoestrada. Guiando o seu Porsche, de repente perdeu os sentidos e a sua sorte foi ter a seu lado o estónio Markko Martin, que conseguiu parar o carro a tempo, e sem estrados. Eram as vésperas do rali da Grã-Bretanha de 2003, e ele era um dos candidatos ao título, ao lado de Petter Solberg, no seu Subaru, Carlos Sainz Sr, e um nome em ascensão, o francês Sebastien Loeb, ambos em Ford.
Depois de uma bateria de exames, descobriu-se que o britânico, então com 32 anos, sofria de uma forma agressiva de cancro do cérebro, forçando à interrupção da sua carreira, mesmo com um contrato assinado para 2004 pela Subaru, para correr ao lado de Solberg. Tinha sido extremamente regular com o seu carro - sete pódios em 14 ralis - e lutou pelo título até ao final, apensar de ser o piloto com menos chances de vitória nessa temporada.
Mas tinha acontecido uma coisa depois do seu título mundial. desde esse dia de 2001, tinha ido para a Peugeot, guiar um 206, o carro mais regular do pelotão. Mas nos doze pódios conquistados em 2002 e 2003, faltou-lhe uma vitória. O carro era bom, o piloto era bom, mas na "hora H", outros eram melhores. A sua grande frustração, nesta sua passagem por uma das marcas francesas. E essa, se calhar, pode ter sido a sua tragédia, porque hoje em dia, é, a par com Stig Blomqvist, o piloto que não ganhou qualquer rali no ano a seguir ao seu título.
E é trágico, porque merecia mais depois daquele dia de 2001.
Apesar de uma série de tratamentos nos dois anos seguintes, o tumor levou a melhor e Burns morreu a 25 de novembro de 2005. Dois anos depois do seu diagnóstico, quatro anos depois do melhor dia da sua carreira, e há precisamente duas décadas.
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