quarta-feira, 26 de maio de 2010

Grand Prix (18, chegamos à Lua!)

Londres, 20 de Julho de 1969

Alguns dias depois de John O'Hara ter terminado o GP da Grã-Bretanha no quinto posto, no seu Eagle, numa corrida vencida por Bob Turner, após uma batalha épica com o Matra de Pierre Charles de Beaufort, Pete Aaron e a sua mulher convidaram os irmãos O'Hara para um jantar em sua casa. Tinham dito que convidaram um amigo deles para assistir, a cores, a aterragem da Apollo 11 à Lua. O irónico é que se as coisas podiam ser a cores no estúdio da BBC, para ver as imagens em directo, vindas em directo dos Estados Unidos, era... a preto e branco.

Mas o convite não foi só para verem Neil Armstrong e Edward "Buzz" Aldrin a tocar o satélite da Terra. Não tinham dito que esse convidado era o mexicano Teodoro Solana, piloto da BRM, e que em Silverstone teve um raro assomo de sorte numa temporada de azares, ao terminar a corrida no terceiro lugar, batendo o Ferrari de Peter Reinhardt. Para Teddy, era o seu primeiro pódio do ano, após um quarto lugar em Montjuich. E aparentemente, iria trazer alguém que seria do interesse de Pete e do resto da equipa.

O ano de 1969 era de absoluta modificação no panorama da Formula 1. Ferrari, Jordan, Matra, McLaren, BRM e Eagle-Apollo estavam no campeonato, numa altura em que os carros estavam a passar por uma autêntica revolução. Bruce Jordan decidiu colocar asas nos seus carros, depois de no inicio do ano ter incluido o motor no chassis do seu carro, demonstrando uma autêntica revolução nos métodos que o seu pai Jeff tinha poucos anos antes. Manteve a dupla Bedford e Turner, com a velha máxima que "equipa que ganha não se mexe", e eram os claros favoritos à vitória, com o seu belo chassis, agora pintado de negro e ouro, tal como a marca de tabaco que a apoiava, a Black & Gold, uma das subsidiárias da Royal British Tobbaco Company.

Ao contrário da Jordan, Matra, McLaren e Ferrari corriam com as suas cores nacionais: a primeira com o azul pálido, a segunda com o laranja cor de melancia e a Scuderia com o seu "rosso". A BRM manteve o British Green com a lista horizontal laranja à volta da entrada de ar, e somente a Eagle-Apollo é que seguiu a tendência da Jordan, pintando o carro de verde, listado de branco, como a marca de whiskey. Contudo, o carro fazia lembrar mais um British Racing Green do que um carro de cor irlandesa...

Como seria de esperar, quando o acordo foi feito, já era tarde para aparecerem em Kyalami, uma prova que contou com muitos pilotos locais e vencida pelo Ferrari de Peter Reinhardt, com Beaufort em segundo e Bruce McLaren em terceiro. Patrick Van Diemen, Bob Bedford e o local Henrik Kruger ficaram nos restantes lugares pontuáveis. Só apareceram em Montjuich, palco do GP de Espanha, em finais de Abril, somente com um carro para John O'Hara, colocaram umas asas e pouco mais. Acabaram num honroso quinto lugar, mas nessa corrida foi mais um sobrevivente do que um feito, pois somente sete carros terminaram, e observou-se alguns acidentes bem feios, principalmente o de Peter Reinhardt, que quebrou a asa... e o seu nariz. Nessa altura, comentou-se o exagero desses aparelhos, e pediu-se à Comission Sportive International para fazer algo. E fez: proíbiu-os de imediato, até nova ordem.

Quanto aos sobreviventes, o primeiro deles foi Bob Turner, seguido por Bruce McLaren, Patrick Van Diemen, Teddy Solana, O'Hara e Bob Bedford.

Assim, eles correram sem eles no Mónaco. Bob Turner ganhou lá, numa dobradinha com Bedford, enquanto que a Ferrari foi buscar um promissor italiano, de seu nome Antonio (Tonio) Bernardini, que logo na sua primeira corrida, terminou no terceiro lugar. John O'Hara ficou no quarto posto, à frente de Bruce McLaren, mas aqui só acabaram sete carros. Um sueco, Andreas Gustafsson, apoiado pela equipa de Peter Holmgren, e a pilotar um McLaren, ficou com o último lugar pontuável.

Por esta altura, Dan Gurney tinha vendido um dos Eagles a um sul-africano, Henrik Kruger, para correr no campeonato local. Não tinha chegado a tempo para correr em Kyalami, mas foi enviado à mesma para lá. Kruger era um experimentado piloto, já com 44 anos e bem sucedido nos negócios, sendo o representante da Ford na área de Pretória, a capital do país. Uns anos antes tinha quase ganho o GP da Africa do Sul com um Jordan datado, e com outro Jordan, do ano anterior, tinha acabado a corrida no sexto lugar, conseguindo mais um ponto na carreira. Um dos melhores pilotos a nivel local, para além dos seus negócios, era dono de uma equipa, a Scuderia Springbok, patrocinada pela petrolifera e tabaqueira locais.

Contudo, a 19 de Junho, ao mesmo tempo que o mundo automobilistico estava de olhos postos nos acontecimentos de Le Mans, soube-se pelos jornais que tinha sofrido um acidente fatal numa prova de Turismos nas ruas de Luanda, Angola, então uma colónia portuguesa. O acidente tinha acontecido na véspera e na partida para a corrida, quando ele, num potente Ford GT40, tentou evitar um carro lento, mas bateu nele e veio atingir um grupo de espectadores. Ironia das ironias, uma dessas vitimas mortais era a sua mulher, que fotografava a partida do seu marido...

O caso tinha chegado aos jornais de todo o mundo, mais pela coincidência do que pela tragédia em si. E nas últimas linhas, falava-se que o acidente tinha deixada orfã a sua unica filha, com 19 anos de idade. Mass o que não falavam os jornais ingleses, falavam os sul-africanos: era a herdeira de uma poderosa fortuna. E algo que nenhum jornal referia na ocasião: "gasolina nas veias".

Mas isso rapidamente passou, pois a Formula 1 fazia três incursões quase de seguida: Holanda, França e Grã-Bretanha. Por esta altura, a Comissão Desportiva Internacional regulou o uso sas asas para o resto da época, permitindo-se o seu uso com efeito imediato. Em Zandvoort, a Ferrari gostou tanto do "seu" piloto que lhe concederam um terceiro carro. Graças ao influxo de dinheiro resultante da venda de 50 por cento do seu capital à Fiat, podia dar-se a esse luxo, apesar do carro já não ser tão competitivo como a Jordan e a Matra. E aqui, o vencedor foi Beaufort, dando a primeira vitória do ano à Matra, com Turner e John O'Hara a acompanhá-lo no pódio. Este terceiro lugar foi devidamente celebrado nas boxes, o primeiro bom resultado do ano, pois tinha ficado à frente dos Ferrari de Bernardini e Van Diemen e do Jordan sobrevivente, o de Turner, num pálido sexto lugar.

Em Charade, palco do GP de França, a Matra quis aproveitar o momento e conseguiu, vencendo em casa, perante uma multidão em delírio, graças a Pierre de Beaufort. Aí, deram a primeira oportunidade de correr a Giles Carpentier, e ele não desiludiu os responsáveis, terminando a corrida em sexto lugar, conseguindo o seu primeiro ponto. Tinha apenas à sua frente Beaufort, Turner, Van Diemen, Bedford e Reinhardt.

Vendo que a Matra estava em alta, a Jordan tinha de reagir, e foi isso que o fez. Quando a Formula 1 chega a Silverstone, palco do GP da Grã-Bretanha, os mais de 120 mil espectadores assistem a um duelo inesquecível. Nas 84 voltas dadas ao circuito, acontece uma batalha épica em pista, perante um tempo que ameaçava chuva, mas que não chegou a acontecer... por sorte, pois dez minutos depois dos carros cortarem a meta, uma enorme carga de água caiu sobre o circuito.

E durante 68 voltas, o veterano Bob Turner e o jovem Pierre Charles de Beaufort lutaram pela liderança como se não existisse mais o amanhã. A cada curva que faziam, tentavam tudo para se superarem, nunca ficando separados mais do que um segundo. Ora Turner, ora Beuafort, tentavam passar para a liderança, quer fosse na Woodcote, ou ficavam lado a lado na Hangar Straight, para tentar superar-se na Stowe, isto quando se distanciavam-se do resto da concorrência. Nem Van Diemen, nem Reinhardt, nem Solana, nem O'Hara conseguiam apanhar aquele duo. Até que no inicio da volta 69, o motor Matra de Beaufort começou a funcionar mal e a distância alargou-se, lentamente e depois ficou maior. Por essa altura, ambos estavam a mais de um minuto da concorrência, pois ambos decidiram gerir a vantagem, e no caso do francês, levar o carro até ao fim. Foi difícil, mas conseguiu ficar com o segundo posto, com Solana em terceiro, Reinhardt em quarto, O'Hara em quinto e Bob Bedford em sexto.

Poucos dias depois deste evento, o mundo estava de nariz para cima, mais concretamente na Lua: a Apollo 11, o nome da qual eles se inspiraram para construir a sua própria equipa, estava a passear à volta da Lua, preparando-se para tocar solo noutro corpo celeste, algo inédito na história da humanidade. E tudo isto tinha acontecido menos de 70 anos depois dos Irmãos Wright terem feito o seu primeiro atabalhoado vôo nas dunas de Kitty Hawk, na Carolina do Norte...

(continua)

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