terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Os Oscares, os seus critérios de atribuição e porque é que "Senna" não está na lista

As nomeações para os Oscares foram conhecidas há pouco, e no meio da qualidade que há por aí, há sempre um sabor de injustiça no meio disto tudo. Há muitos bons filmes que foram lembrados (A Arvore da Vida, Os Descendentes, A Toupeira, O Meu fim de Semana com Marylin, etc...), mas também existiram outros que ficaram de fora e que mereciam estar nesta lista. O documentário sobre Ayrton Senna é um daqueles que nem sequer foram considerados para entrar na lista, e pelo que me contam, não passou pelo crivo do critico de cinema do New York Times. Se assim for, era algo que já esperava. E sobre isso, digo que foi uma pacoviada. 

Justifico a expressão porque há uns dias li no site da BBC a expressão "snubbed" quando disseram - antecipadamente - que ele não fazia parte da pré-seleção dos candidatos ao Oscar para o melhor documentário. A tradução mais aproximada para isso é "deixar arrogantemente de lado", ou seja, a Academia - ou seja, o critico do NY Times - não viu por preconceito. Se isso for verdade, então direi que ela nunca teve uma hipótese, apesar do sucesso de bilheteiras, mesmo num país que passa bem sem a Formula 1, como é os Estados Unidos.

Em contraste, na Grã-Bretanha, o documentário de Manesh Pandey e Asif Kapadia foi nomeado para três BAFTAS, os prémios da Academia Britânica. Não só foi nomeado para o prémio de Melhor Documentário, como também foi nomeado para a Melhor Edição e Melhor Filme Britânico. E até a Autosport britânica deu um prémio ao filme, na categoria de "Inovação", mostrando que os britânicos levam isto muito mais a sério do que os seus descendentes do outro lado do Atlântico. Mas como todos nós sabemos, o automobilismo faz parte da cultura da Grã-Bretanha. E lá, no verão passado, tiveram de arranjar mais salas de cinema para passar o documentário, dada a enorme procura que havia por parte dos espectadores para ver o filme.

E agora, pensamos: "Será que o documentário dele é o melhor até agora?" Legalmente, diria que sim, porque se formos a ver, creio que... fico indeciso. O filme - já consegui ver, a propósito - está bem feito e conta toda a história, apesar das falhas em certos aspectos, como Donington 1993. Também tinha partes dispensáveis, como a Xuxa, mas fez-me transportar mais de vinte anos no tempo, recordando a minha infância. Fiquei sempre com a sensação de que vivi tudo de novo, e isso incomodou-me como há muito não me incomodava. Nesse aspecto, o filme fez bem o seu trabalho. 

Mas acho que já vi coisas tão boas, e se calhar, melhores do que este documentário. Lembro-me da matéria do Top Gear, feita no Verão do ano passado, e creio que é mais objetiva e mais realista, mostrando o "lado negro" de Senna, como vimos em Suzuka 1990. E também fez recordar o filme que o Antti Kalhola fez há coisa de dois anos sobre ele. Tem quase 45 minutos, está dividido em cinco partes e consegue dizer tudo o que foi a sua carreira, sem precisar de mostrar a sua parte pessoal, para além das convições que o brasileiro tinha, da sua "raison d'etre", do seu "ethos". 

No final, eu consigo colocar estes três filmes num plano de igualdade, cada um no seu canto: o documentário "oficial", a matéria de um programa televisivo sobre automóveis e o video feito por um fã. O século XX e XXI unido numa mesma causa. Mesmo assim, apesar de mostrar o seu lado negro, a sentença que eles fazem é unânime. E sobre isso, quase me faz lembrar aquela frase de Fidel Castro: "A História me absolverá". 

Isso é verdade, ele está absolvido há muito. E não só pelas "viúvas". E também a História provavelmente colocará este filme no campo daqueles que a Academia de Hollywood esqueceu ao longo dos anos, uma lista que já é bem longa.  

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