quinta-feira, 10 de maio de 2012

5ª Coluna: O lento definhar do Grupo Lotus


Desde o inicio do ano que tenho acompanhado a saga dos motores Lotus na Indy Car Racing, e agora nestes últimos dias, as noticias a esse respeito tem a ver com as sucessivas quebras de acordo que as equipas que tem usado esses motores – Dragon Racing, Dreyer & Reinbold, HVM e outras – devido às expectativas criadas por esse motor e claro, foram quebradas, perante os mais potentes e mais eficazes motores Honda e Chevrolet.

E eis a mais recente noticia, vinda da Indy: no final da semana passada, a Dragon Racing processou a Lotus em 6,4 milhões de dólares pelos seus motores e isso deixou Sebastian Bourdais e Katherine Legge temporáriamente apeados para as 500 Milhas de Indianápolis, esperando ter um propulsor decente para a corrida no final do mês. Quando tens uma equipa que quebra o contrato e os processa, é sinal que que algo de muito grave se passou. Porque por estes dias, toda a gente - excepto a HVM, da Simona de Silvestro, - abandona os motores Lotus.

"Quando passas por tempos complicados, ou isto nos deita abaixo ou nos torna ainda mais fortes", começou por afirmar Oriol Serviá, piloto da Dreyer & Reinbold, à Associated Press. "Tivemos de crescer juntos enquanto equipa, apesar de não querermos isto. Contudo, isto nos colocou em grande posição para as 500 Milhas, porque estamos muito 'esfomeados', porque agora temos os instrumentos certos para aspirarmos à vitória, em vez de andarmos a sonhar com ela", concluiu o veterano piloto espanhol de 37 anos. A Dreyer & Reinbold trocou de motor após a corrida de São Paulo, agora tendo propulsores Chevrolet.


Este caso é sintomático dos tempos que passa o Grupo Lotus, a as consequências que esta passa, depois das megalomanias de Dany Bahar, o suíço que foi para a marca no final de 2009 e que passou o último ano e meio a gastar centenas de milhões de dólares - que não eram seus, eram do governo malaio – a colocar no nome Lotus em tudo que tenha quatro rodas e um volante. Formula 1, IndyCar, Endurance, Ralis, GP2, GP3, Formula 3 e até Formula Renault. Para não falar nos cinco (!) supercarros que foram apresentados com pompa no Salão de Paris de 2010, e do qual Bahar queria transformar no equivalente inglês da Ferrari.

Sobre a Lotus Cars, creio que já se falou, em devido tempo, das consequências desta megalomania, e agora estamos a ver isso tudo: o governo malaio vendeu a Proton – e claro, a Lotus – e os novos proprietários querem livrar-se da marca, pois não querem herdar as enormes dívidas. Os projetos estão prestes a ser cancelados – um bom exemplo são os modelos de estrada, que estão a ser adiados para 2014 – e o seu envolvimento na Formula 1 está lentamente a desaparecer, para além da IndyCar.

Mas hoje falo da saga americana. A três semanas das 500 Milhas de Indianápolis, quinta prova do campeonato, os motores “Lotus” estão prestes a abandonar a competição. E coloco o nome entre aspas porque na realidade, é um motor Judd, que colocaram um autocolante por cima. E o desenvolvimento deste motor foi mais tardio do que os outros dois concorrentes, Chevrolet e Honda. Já se sabia que por causa disso, iriam sofrewr um pouco, mas parece que agora, o fundo bate um pouco mais em baixo, porque fala-se em atrasos nos fornecimentos dos motores. Os primeiros sinais apareceram quando as equipas de motor Lotus falharam o teste que havia entre Barber e Long Beach, porque os propulsores existentes estavam a chegar ao seu limite e não havia motores suficientes na fábrica de John Judd.

A partir dali, mais concretamente depois da corrida na pista citadina, as coisas precipitaram-se: uma a uma, as equipas largaram esses motores, em busca da Chevrolet ou da Honda, para que equipassem os seus carros. Até a equipa de Alex Tagliani, a Team Barracuda, decidiu não ir a São Paulo, para que tivesse tempo de ter um novo motor e preparar-se convenientemente para as 500 Milhas de Indianápolis.

Por alturas de São Paulo ouvi isto, da boca do José Inácio. Ele tinha conversado com alguns engenheiros da IndyCar e estes falavam que os acordos para que a HVM e a Dragon para se libertarem dos seus compromissos era uma forma da “Lotus” abandonar discretamente - e faseadamente – o seu projeto na IndyCar, devido, provavelmente, à falta de dinheiro para desenvolver tantos projetos ao mesmo tempo. Em suma, a bolha de Bahar tinha rebentado.



E isso surge mais ou menos na mesma altura em que o Grupo Lotus também tinha deixado de dar dinheiro à Genii Capital, de Gerard Lopez, na Formula 1, apesar de continuar a ter o nome Lotus nas carlingas. E em breve, apareceram os rumores de que a DRB, o novo dono da Proton – e da Lotus – andava à procura de possíveis compradores para a marca na Ásia. Chineses, principalmente.

Como disse atrás, a bolha rebentou. Será uma questão de tempo até que a Lotus se retire das várias categorias – ou alhadas – em que se meteu. Até agora não há nada que indique que se vão embora da Endurance ou dos Ralis - com o Exige GT, pilotado entre outros pelo português Bernardo Sousa – mas creio que lá mais para o final do ano, pode acontecer que se anuncie a insolvência do Grupo Lotus, graças às megalomanias do louco Bahar. E isso, claro, seria o fim de um projeto começado por Colin Chapman e cujo motivo era “simplicidade e leveza”. Muitas marcas não sobrevivem ao desaparecimento do seu fundador, é certo, mas esta em particular, não merece o seu mais do que provável fim. Contudo, pagou o preço da megalomania.

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