terça-feira, 11 de outubro de 2016

A matemática e o espírito do campeonato

Quem acompanha regulamente o futebol, conhece as conversas de treinadores para a imprensa, onde eles falam da "matemática" e das "hipóteses matemáticas" do qual eles se agarram como lapas, mesmo quando as coisas estão desfavoráveis para eles. Sempre achei que isso serviria mais como incentivo aos jogadores de futebol para ver se não iriam abaixo antes do momento em que já não conseguiriam.

Aplique-se a isso à Formula 1. Faltam quatro corridas para terminar o campeonato, mas toda a gente sabe que Lewis Hamilton já entregou a toalha, mesmo que ele ainda lute pelo campeonato. Tem 33 pontos de atraso para Nico Rosberg, faltam quatro corridas, e duas chances de apanhar o piloto alemão. Mas muitos já estão convencidos que este campeonato não fugirá ao filho de Keke Rosberg, por causa a sorte que teve desde que o campeonato recomeçou, no final de agosto. E foi uma sorte que aconteceu por causa da reação que teve quando viu Hamilton ficar com a liderança, dpeois de quatro vitorias consecutivas e a sorte que teve na colisão que ambos tiveram no Red Bull Ring, no final de junho.

Mas quando o motor de Hamilton entregou a sua alma ao Criador, no GP da Malásia, em Sepang, fiquei convencido de que o título não iria escapar ao alemão. Apesar das insinuações vindas dele que havia uma "conspiração" contra si, esquecendo-se que Nico teve mais azares mecânicos no passado do que Lewis, na realidade, ele pura e simplesmente o azar que teve fez com que baixasse os braços e desse o campeonato por perdido, apesar das declarações em contrário. O mau humor no fim de semana de Suzuka, com a polémica do "Snapchat", distraindo-se com aplicações do seu telemóvel no meio de uma conferência de imprensa, só mostram que, mesmo com a matemática a dizer que tudo é possível, no espírito de Lewis, ele já admitiu a derrota.

Claro, ele luta, por tempo e posições, mas sabe que qualquer azar que tem é decisivo para o título mundial. Agora, cada vez mais espera que ele desista, ou tem um azar para ter uma chance de vitória. Mas agora, só falta Austin e Hermanos Rodriguez para fazer algo, pois em termos matemáticos, Nico poderá imitar Damon Hill em Interlagos, dentro de um mês.

Caso isso aconteça, poderemos dizer que foi mero azar, ou houve algo mais? Bom, é sabido que no carro de Lewis, houve mudanças na sua equipa de mecânicos, que foram trabalhar para o carro de Nico, mas não acho que só por si, isso revele que foi o ano do piloto alemão, tanto que do arranque inicial dele, vencendo as quatro primeiras corridas do ano, Hamilton reagiu vencendo cinco das sete provas seguintes, incluindo o famoso "encontro" na Red Bull Ring, com o inglês a sair vencedor, e Nico a arrastar-se até ao quarto lugar final. Ainda houve Barcelona, mas aí, ambos se auto-eliminaram, com a Red Bull a rir por último, graças ao prodígio Max Verstappen.

Mas também, Lewis parece-se ter convencido de que ele, só por si, seria campeão. Não o é. Verdade que tem títulos e estatuto para isso. Verdade que tem veterania - vai na sua décima temporada - e quer descansar sobre os louros. Mas num mundo em que todos espreitam pelo momento em que se erram para aproveitar, ver Lewis este ano ao lado de famosos, nas páginas sociais, perseguindo o rabo da Rihanna no Carnaval dos Barbados, as pessoas não esquecem disso, por muito que lhes diga que isso não vai afetar a sua concentração. O problema é que vivemos na era das redes sociais e há quem não vai esquecer disso, quando ele começar a não aparecer no lugar mais alto do pódio, ou quando culpar outras coisas por alguma baixa de forma da sua parte.

A Mercedes vai sempre dizer que o que lhes interessa é o campeonato de Construtores. É por isso que quer que ambos os pilotos lutem, desde que respeitem os limites. Claro que Lewis gostaria que a Mercedes fosse como a Ferrari, que ele fosse o campeão, só pelo estatuto, pelo contrato, pelo dinheiro... etc, e que Nico recolhesse os restos, qual escudeiro ou Rubens Barrichello. Niki Lauda e - sobretudo - Toto Wolff não querem isso de forma alguma, nem tanto por causa de alguma teoria conspiratória no sentido de "um inglês contra o mundo", mas porque quer ter dois pilotos capazes de lutar por títulos. E Nico, por muito que tenham de engolir, mostrou este ano que tem estofo de campeão. E é um campeão que muitos gostariam de ver fora das pistas: calmo, confiante, com a sua vida pessoal resolvida há muito, que não quer saber das páginas sociais para nada.

Estou convencido que o campeonato de 2016 está resolvido a favor de Nico. E para Lewis, sem espírito de luta, resta esperar por 2017 para voltar a tentar de novo. E deveria pensar naquilo que já alcançou, afinal de contas é tricampeão do mundo. Quantos é que fazem parte desse selecto clube?

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