segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Sempre que aparece uma noticia sobre o Schumacher

Sempre que aparece algo referente a Michael Schumacher na imprensa, o pessoal que gosta de automobilismo e do piloto alemão agita-se, e compreende-se. Um jornal sensacionalista britânico, o Daily Mail, afirmou hoje ter noticias sobre a sua condição, afirmando que já não está mais acamado e em coma. Sinceramente, daquilo que eu sei sobre a sua situação, desde há uns tempos para cá, isto não é novo para mim. Já sabia disso, e mesmo que os seus amigos mais próximos não digam nada sobre a sua situação atual, a pedido da família, sabia pelas entrelinhas que o alemão reagia a estímulos. Não fala, não anda, mas não está confinado a uma cama. E não é preciso a Sabine Kehm vier a público ou a familia dizer isso.

Segundo ponto que é preciso dizer sobre esta noticia em particular e sobre o geral. Ao lê-la, vê-se que está cheio de generalizações, sem nada em específico. Logo, tenho a sensação de que daqui a nada, Kehm deverá ir a público desmentir aquilo que o Daily Mail disse hoje, pedindo mais uma vez que a privacidade do piloto e da sua familia seja respeitada, como já disseram desde finais de 2013, quando o piloto sofreu o seu acidente de ski em Méribel, nos Alpes franceses. Que o Daily Mail não é flor que se cheire, é verdade. 

Mas também há outra coisa do qual poucos sabem, provavelmente por uma questão de cultura. No mundo de hoje, onde todos se querem exibir nas redes sociais, os alemães são uma notável excepção. E não temos de ir longe. Sabem quem é o único piloto do atual pelotão da Formula 1 que não tem presença oficial em redes sociais? É Sebastian Vettel, um alemão. Até Kimi Raikkonen, que também era avesso às redes sociais, já cedeu um pouco ao ter conta oficial no Instagram. Provavelmente, Vettel até pode ter contas em redes sociais, debaixo de um pseudónimo, não sabemos, mas oficialmente, não há nada dele, nem tem qualquer pessoa que cuide das redes sociais, como alguns fazem. 

E não é só nas redes sociais que os alemães defendem ferozmente a sua privacidade. É em muitas outras coisas. Por exemplo, o mapa da Google, que andou alguns anos a cadastrar todas as ruas do mundo, tem uma notável excepção na Alemanha. E cerca de um terço dos alemães não tem um cartão de crédito, apesar de ser um país muito rico, porque eles não pretendem ceder os seus dados pessoais aos bancos, por exemplo. E foi também esta forte defesa da privacidade que este por trás da razão porque os médicos e psiquiatras não avisaram a Lufthansa que um dos seus pilotos, Andreas Lubitz, tinha um sério problema de depressão clinica que levou, a 24 de março de 2015, a despenhar o avião de Germanwings nos Alpes franceses durante um vôo de Barcelona a Frankfurt. 

Em suma, mesmo que as pessoas estejam genuinamente preocupadas e desejarem saber o real estado de saúde do alemão, que fará 50 anos no próximo dia 3, mostrá-lo aos fotógrafos ou dizer algo sobre ele seria o equivalente a mostrar um animal exótico ao circo. E é verdade: a nossa imprensa, as nossas redes sociais, a nossa vida, tornou-se hoje em dia um verdadeiro circo. E eles, como familia, só desejam estar em paz. Multimilionários, é verdade, mas desejam estar em paz, com os seus fantasmas de cuidar de alguém que, em pleno auge da vida, se vê agora confinado a uma vida de vegetal por algumas décadas.

E provavelmente com a chegada do seu filho à Formula 1, dentro de dois ou três anos, tenho a certeza que as perguntas sobre o seu pai são ser cada vez mais frequentes. Vai ser um novo assédio, do qual a familia tem de ser mais uma vez, mais forte.

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