quarta-feira, 8 de julho de 2020

A imagem do dia

A noticia que muitos esperavam, comentavam, e até desejavam, aconteceu. O que Fernando Alonso vai fazer não é nada de novo. A pequena lista de campeões que o fizeram é ilustre: Niki Lauda, Mário Andretti, Alan Jones, Nigel Mansell até Michael Schumacher. A partir de 2021, veremos o piloto das Astúrias na equipas que o fez crescer e ser campeão, ao lado de gente como Flávio Briatore e Pat Symmonds.

Esta vaga de esperança e desejo já vi noutro lado. Há quase onze anos, vi essa mesma história quando se começou a falar do regresso de Michael Schumacher à Formula 1. Primeiro, quando Felipe Massa teve o seu acidente na Hungria, e depois, quando foi confirmado pela Mercedes que correrá na sua nova incarnação em 2010, ao lado do jovem compatriota Nico Rosberg. Lembro perfeitamente de ler artigos dizendo que as suas ambições para o oitavo título eram legitimas, não para 2010, mas mais tarde, quando se adaptasse aos novos carros.

Também li artigos dizendo - literalmente, cavando a sepultura! - a Nico Rosberg, tentando profetizar o seu precoce final de carreira, ele que naquela altura tinha vindo da Williams, tinha alguns pódios e pouco mais. O final da história é conhecido: batalhou honestamente contra um pelotão bem mais novo do que ele, mas foi sempre pior que o filho de Keke Rosberg. Aliás, foi "comido de cebolada" pelo Nico, venceu a primeira corrida de regresso da marca alemã, em 2012, na China, e o máximo que Schumacher conseguiu foi um pódio em Valencia. No final dessa temporada, os alemães dispensaram os seus serviços em troca de Lewis Hamilton.

Todos, mentalmente, desejam a repetição da história de Niki Lauda. A realidade dos números é que, dos regressados, o único que venceu depois dos 40 foi Nigel Mansell, em Adelaide, 1994, com 42 anos de idade, a bordo do seu Williams. E quase todos os regressados sairam pela porta dos fundos. Lauda teve um ano de 1985 frustrante, apenas com uma vitória em Zandvoort, e saiu com o sentido de dever cumprido. Mário Andretti voltou em 1982 para fazer um favor a Enzo Ferrari, depois do acidente de Didier Pironi; Nigel Mansell foi para a McLaren no inicio de 1995 obrigado pela Mercedes e acabou a falar mal do carro e a sair pela porta do cavalo. E nem falo de Alan Jones, que conseguiu quatro pontos em 1986, no seu Lola-Haas, pouco para aquilo que se calhar desejavam.

Não nego o talento de Alonso. Afinal de contas venceu as 24 Horas de Le Mans por duas vezes e quer ser o vencedor das 500 Milhas de Indianápolis, especialmente depois do embaraço de 2019, mas voltar pela terceira vez ao mesmo lugar, com uma primeira parte muito boa e uma segunda parte a preencher espaços - alguém se lembra como foi a sua temporada de 2009? - e agora, pela terceira vez, com quase 39 anos, que acrescentará? E ele poderá ter todas as chances de ser constantemente batido pela nova geração, especialmente um Esteban Ocon que quer mostrar que é um excelente piloto, que tem material para ser campeão do mundo, ser primeiro piloto e mostrar-se melhor do que alguém quinze anos mais velho do que ele. 

E outra coisa: Cyril Abiteboul tolerará o dia em que Alonso gritar algo "motor de 4L" quando este explodir na sua traseira ou perder uma volta para... não sei, um Racing Point? Olhem que não sei.

Em suma: tudo isto não passa de uma jogada muito arriscada. Que tem tudo para dar errado.     

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