domingo, 7 de novembro de 2010

Sobre Steve McQueen, trinta anos depois

"Perferia passar uma manhã com Stirling Moss a uma noite com Marylin Monroe."

Steve McQueen, 1930-80.

Foi uma pessoa que viveu origens dificeis. Era disléxico, teve uma infância dificil, a sua mãe era alcoólica, acabou num reformatório nos seus anos de adolescência. Teve todo o tipo de empregos, desde porteiro num bordel até trabalhador em plataformas petroliferas no Texas. Esteve nos Marines e fez parte da guarda de honra para Harry Truman no seu iate presidencial. E para pagar o seu curso de actor, correu como motociclista na California a bordo de uma Harley Davidson usada, ganhando cem dólares por semana. E o seu primeiro filme é um filme-catástofe chamado "The Blob". Tudo isto faz parte da vida de Steve McQueen, morto faz hoje trinta anos.

A lista de filmes que McQueen recusou é tão grande que os filmes em que actuou. Por causa de obrigações contratuais, não pode aceitar o convite para "Boneca de Luxo" (Beakfast in Tiffany's); "Dois Homens e um Destino" (Butch Cassidy and Sundance Kid); "Apocalypse Now"; "Dirty Harry"; "The French Connection" (Os Incorruptiveis contra a Droga) e "Encontros Imediatos do Terceiro Grau", realizado por Steven Spielberg. Neste último, aparentemente porque não era capaz de chorar à frente das câmaras.

Mas mais do que falar de Steve McQueen, actor, gostaria de falar de Steve McQueen, o amante de automóveis. Como tinha dito atrás, fez motociclismo para pagar os estudos, e toda a gente se lembra das suas cenas nos filmes "A Grande Fuga", tentando passar a fronteira suiça de moto, e depois em "Bullit", quando no seu Ford Mustang verde, perseguia nas ingremes ruas de São Francisco pelo Dodge Charger preto dos maus da fita. Queria ser ele a fazer as cenas mais perigosas, mas as companhias de seguros não deixavam. Foi por isso que, por exemplo, não lhe foi permitido correr nas 24 Horas de Le Mans de 1970 ao lado de Jackie Stewart no Porsche 917, numero 23, da John Wyer Automotive.

Contudo, alguns meses antes, ele pode participar nas 12 Horas de Sebring, ao volante de um Porsche 908 Spyder branco, ao lado de Peter Revson. Andaram na frente durante boa parte da corrida, e perderam-na no último minuto a favor do Ferrari 512 guiado por Mario Andretti, Nino Vacarella e Ignazio Giunti. Irónicamente, McQueen correu com a perna engessada, devido a um acidente de moto que tinha tido duas semanas antes.

Quis fazer um filme sobre automobilismo e conseguiu. Apesar de "Le Mans" não ter sido um sucesso comercial e ter levado à falência a sua Solar Productions, hoje em dia é considerado um filme de culto pelo seu retrato realistico da mitica prova francesa. Anos antes, tentou fazer a mesma coisa sobre a Formula 1, em 1966, em conjunto com o director John Sturges. Mas por essa altura, John Frankenheimer estava a fazer Grand Prix - e ele chegou a entregar filmagens de Nurburgring para o filme de Sturges - mas quando este último estreou no cinema, os planos para o "Day of a Champion" acabaram por ser cancelados.

McQueen era um ávido coleccionador. Desde motos como Triumphs TR6 Trophys até carros como Porsches 908 e 917 e um Ferrari 512, passando por um modelo 356 Speedster e um Ferrari 250 Lusso Berlinetta. Ironicamente, nunca conseguiu ficar com o Ford Mustang GT 390 verde do filme "Bullit", porque dos dois carros, um ficou demasiado danificado e o segundo foi vendido a outra pessoa que nunca o quis vender, a qualquer preço.

O irónico sobre Steve McQueen é que, sendo ele um ávido praticanete de desporto, tenha morrido cedo. Exposição ao amianto, combindo com os seus hábitos de fumador, fez com que lhe fosse detectado um cancro no sistema abdominal no inicio de 1980, mal tinha feito 50 anos. Tentou curar-se, mas este tinha-se espalhado pelo corpo de tal forma que a 7 de Novembro de 1980, depois de ter voado para o México no sentido de tirar tumores na zona abdominal, contra o conselho dos médicos, estava morto devido a complicações pós-operatórias.

No final, o mito vive. O homem másculo que tinha a paixão pela velocidade, que adorava os grandes espaços do Oeste americano, epíteto da liberdade, é o grande objectivo que todos desejam alcançar. E hoje em dia, o seu legado continua vivo, quer nos filmes que fez, quer nos objectos que teve, quer - um pouco abusivamante, na minha opinião - nos produtos que deu a cara depois de morto.

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