quinta-feira, 25 de outubro de 2012

5ª Coluna: O atraso no Acordo da Concórdia

No meio de todas as noticias sobre a "dança das cadeiras" para a temporada de 2013, e sobre os problemas que Vijay Mallya passa para pagar o que deve a funcionários e pilotos da Kingfisher Airlines, e do qual já ameaçaram perturbar o GP da India, marcado para este domingo, passou algo despercebido - pelo menos, não com a "pompa e circunstância" de outras noticias - a noticia de que as equipas iriam reunir-se com a FIA na sua sede, em Paris, para tratar sobre o novo Acordo de Concórdia, do qual deverá entrar em vigor a partir de 2013.

A reunião aconteceu esta segunda-feira à tarde, e apesar de nada de específico ter transpirado, todos usavam expressões como "espirito construtivo" e demonstravam optimismo em chegar depressa a um acordo. Para quem quiser entender isto de outra forma, isto quer dizer que não é agora que assinam o papel para fazer nova distribuição das receitas até 2020.

Isto ainda não é preocupante, mas quem anda a ler estas noticias, sabe que se fala desde março que  a assinatura do Acordo de Concórdia está "iminente" ou que "já há acordo, so faltam pormenores". Dessa, ouviu-se da boca de Bernie Ecclestone, e vindo dele, tal coisa só pode significar mais uma forma de pressão do que vem "à letra".

Se a meio do ano, o grande problema era a Mercedes, agora para o final, o grande problema chama-se Red Bull, e o assunto em si tem a ver com o limite de custos. As equipas querem establecer um teto orçamentário para controlar custos e evitar uma espécie de "corrida ao armamento" do qual o primeiro a rebentar, ganha. Aparentemente, a Red Bull anda a gastar cerca de 230 milhões de euros para ser campeão de pilotos e construtores, enquanto que Ferrari e McLaren andam a gastar um pouco menos, entre 150 a 180 milhões de euros.

As equipas já não negoceiam em bloco - a FOTA acabada ou moribunda - e cada um está a querer "puxar a brasa à sua sardinha". Parece que a maior parte das equipas já chegou a um consenso, mas a Red Bull parece que quer reduzir gastos de outra forma, como por exemplo, o preço que se cobra pelos motores. É que se a Ferrari e Mercedes constroem os seus, a McLaren andou durante muito tempo com um acordo mais favorável com a Mercedes, que terminará no próximo ano. E a Red Bull e um mero cliente da Renault, sem privilégios de monta.

Este é um exemplo de muitos. Há outros em cima da mesa, como o calendário ou a distribuição de dinheiros. Mas numa altura em que o tempo está a contar, e vendo que nada se resolver, apesar dos "sinais encorajadores", causa-me mais preocupação do que alivio.

Aliás, se formos ver bem, qualquer um destes Acordos da Concórdia sempre foram dos mais opacos e mais secretos que conheço. As clausulas que estabelecem a distribuição dos lucros nunca foram mostrados ao público, do qual o facto da empresa "Formula 1" nunca ter estado cotada em bolsa ajuda nesse campo. Para saber dos salários de dados pilotos ou os orçamentos de determinadas equipas, temos de ver os relatórios de contas de equipas como a McLaren, Ferrari, Red Bull, Williams, etc... algumas delas cotadas em bolsas como a de Londres ou de Frankfurt. Mas para ver o panorama geral, preciso ter uma alma e paciência de contabilista para chegar a essas conclusões. E nem toda a gente tem esse espírito.

E depois temos outro factor importante: Bernie Ecclestone. No próximo dia 30 ele fará 82 anos, e este poderá ser o último Acordo que será feito durante o seu período de vida. A sensação de que ele é a "cola" que une tudo isto na Formula 1 é cada vez maior, e a ideia de que ele poderá morrer entretanto - não digo agora, mas nos próximos anos - sem um plano de sucessão a médio prazo e sem um grande plano para a Formula 1 delineado e aprovado por todos, é uma grande sombra que paira sobre todos. É certo que Jean Todt poderá querer ficar com o seu poder e recuperar aquele que tinha sido dado por Max Mosley, seu antecessor, durante o seu tempo na FIA, mas há alguns sinais de que muitos não gramam o "Napoleão". E combinando isso com a natural divergência das equipas em relação ao interesse geral da Formula 1, as coisas a médio prazo serão muito agitadas.

Daí que digo que se deve fazer um novo Acordo o mais depressa possível  E depois disso se trate de coisas como a entrada da Formula 1 em Bolsa e arranjar um novo promotor a médio prazo, que seja consensual e saiba ser um digno sucessor de Bernie Ecclestone. É isso que a Formula 1 precisa, se quer continuar a ser a força que é agora.

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