terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Abandonar no Auge: 4 - Niki Lauda (1979)

Ao contrário de Hawthorn, Stewart ou Rindt, o caso de Niki Lauda é um pouco diferente. Em 1979, aos 30 anos de idade, ele tinha dois títulos mundiais e era um dos melhores pilotos do pelotão, mas tinha perdido a sua motivação devido ao mau carro que tinha, associado com a perda de motivação de guiar um carro de Formula 1. O anuncio da sua partida foi um choque, mas crê-se que um dos "menos surpresos" tenha sido Bernie Ecclestone, então o seu patrão na Brabham. 

Lauda foi perseguir o seu objetivo de fazer a sua própria companhia aérea, mas três anos depois, em 1982, ele acabaria por voltar para a Formula 1 e vencer mais um campeonato, em 1984. 

Nascido a 22 de março de 1949, em Viena, Lauda chegou à Formula 1 em 1971, a bordo de um March, e em 1973 passou para a BRM, dando nas vistas o suficiente para que Enzo Ferrari lhe desse um lugar na sua equipa. Venceu a sua primeira corrida em Jarama, em 1974, e no ano seguinte, acabaria como campeão do mundo. Em 1976 partia rumo o seu segundo título, mas um acidente em Nurbugring quase o mataria. Desfigurado na cara, regressou a um carro 40 dias depois, a tempo de fazer o GP de Itália, para tentar manter a liderança, mas não conseguiu, ao abandonar voluntariamente na segunda volta do GP do Japão, vendo o título mundial a ser ganho por James Hunt.

Vencendo o segundo título mundial em 1977, chocou o mundo da Formula 1 ao sair da Scuderia e ir correr para a Brabham, que lhe dava um milhão de dólares nessa temporada. Venceu duas corridas e foi terceiro classificado no Mundial, com 40 pontos, e no ano seguinte, tinha um aumento salarial para o dobro, pago pela Parmalat.

Mas Lauda estava crescentemente desmotivado, e para piorar as coisas, o seu carro, o BT48 com motor Alfa Romeo, era um desastre. Só conseguiu quatro pontos e ele começava a ficar mentalmente cansado das constantes viagens para correr. No fim de semana de Montreal, Lauda decidiu ir ter com Bernie Ecclestone e dizer-lhe que iria pendurar o capacete, com efeito imediato.

Tempos depois, contou como é que chegou a aquela decisão:

"De repente senti um vazio, uma total falta de interesse no que estava fazendo. Fui para as boxes e acabei com tudo. Havia outro mundo lá fora. Foi uma decisão que tomei sozinho, só depois falei com Ecclestone e com os patrocinadores. Eles entenderam. Afirmei muitas vezes que um bom piloto de Formula 1 tem que ter um coração e uma cabeça muito especiais. Não sei qual dos dois mudou em mim, se o coração, se a cabeça”. (…)

Foram basicamente dez anos felizes para mim. Perfeitos. Fiz algo que gostei e me tornou rico. Que mais poderia querer? Digo que me enriqueceu, mas acima de tudo, enriqueceu a minha alma, não a minha carteira. De repente tinha o suficiente. Por isso a minha necessidade de outras coisas, o meu interesse pela aviação. Talvez daqui a dez anos, talvez mais cedo, procure outra coisa, outros objectivos. Rotina não faz o género de pessoas como eu.

Ecclestone logo encontrou um substituto no argentino Ricardo Zunino, numa altura em que - ironicamente - iriam estrear na corrida o novo modelo o BT49, agora com motor Cosworth. Lauda foi perseguir o seu objetivo na aviação, com a Lauda Air, mas dois anos depois, Ron Dennis convidou-o a testar o MP4-1, o primeiro carro feito em fibra de carbono. A sua vontade de correr tinha voltado - e também precisava do dinheiro para manter a sua Lauda Air a funcionar - e em 1982, estava de volta. Em Long Beach, a sua terceira corrida, conseguiu a sua primeira vitória em quase quatro anos, e dali partiria para um terceiro título mundial que alcançaria em 1984... por meio ponto.

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