segunda-feira, 21 de outubro de 2019

A imagem do dia

Há precisamente 35 anos, a Formula 1 terminava no Estoril, num regresso da formula 1 a Portugal, 24 anos depois da última vez. Mas esta data, e este local não estavam incluídos no calendário original. Na realidade, deveria ter acontecido um GP de Espanha, em paralelo com uma prova em Nova Iorque, mas ambos não aconteceram.

Se no caso americano, era a obsessão de Bernie Ecclestone em encher o calendário de provas americanas, pois havia Detroit e naquele ano, Dallas, no caso de Espanha seria um regresso, mas não a Jarama, onde a Formula 1 tinha lá estado desde 1968 até 1981. Contudo, a pista parecia ter sido desenhado por um garoto de oito anos - era uma pista citadina - e sem grandes garantias, ela foi cancelada. E foi aí que a ACP aproveitou o balanço para estender a sua candidatura. Tinham uma pista pronta, as modificações não eram extensas e o público era fervoroso, como poderiam ver pelos magotes de gente que iam ver os carros de rali a fazer "slaloms" nas especiais que o Rali de Portugal fazia no circuito.

O anuncio foi feito em junho, no fim de semana do GP do Mónaco, e não houve tempo a perder. As boxes foram reconstruídas, as escapatórias modificadas, as barreiras foram remodeladas, e com a corrida a ser a última do calendário, até era bom que o título se decidisse por ali. Não ficaram desiludidos: Niki Lauda e Alain Prost fizeram por isso, numa temporada onde a McLaren dominou.

Tudo estava pronto na altura, e do que lembro bem dessa altura foi a forte cobertura que a televisão - a monolítica RTP - fez do evento. Quatro dias só a falar sobre isso fez despertar a minha preferência pelo automobilismo, adormecida depois de ter regressado a Portugal, dois anos antes. Digo muitas vezes que a minha primeira corrida foi Las Vegas 1981, com o primeiro título mundial de Nelson Piquet, mas Estoril 1984 foi o meu renascimento.

Foi uma corrida que valeu a pena. Prost tinha de vencer para ser campeão, se Lauda não fosse além do terceiro posto. Ele partia de 11º, mas já tinha mostrado que era um excelente piloto em corrida, poupando o carro na primeira parte para depois atacar na segunda, com meio depósito de gasolina. E o que decidiu o título foram os travões de Nigel Mansell, segundo no seu Lotus até à volta 53, quando estes cederam e deram o segundo posto ao austríaco. 

E logo atrás, também todos queriam ver como se comportaria o menino prodígio do pelotão, o "rookie do ano", Ayrton Senna. Detentor de dois pódios no Mónaco e na Grã-Bretanha, Senna estava bem colocado na grelha de partida, partindo de terceiro, atrás do poleman Nelson Piquet e de Alain Prost, e tentou ir atrás dos líderes. Teve um bom ritmo, e no final, o lugar mais baixo do pódio foi a recompensa, com muitos a ficarem com a impressão de que ele iria fazer mais. Afinal de contas, iria substituir Nigel Mansell na Lotus...

No final, foi uma bela festa. Lauda foi campeão com a margem mais curta de sempre - graças aos meios pontos dados no Mónaco, que se não fossem assim, daria o campeonato a Prost... - a corrida foi um sucesso e todos ficaram felizes porque a aposta tinha sido em cheio. Iria ficar no calendário por mais doze anos, e Portugal entrava no mapa das realizações automobilísticas, para além do Rali, que muitos diziam ser "o melhor do mundo".

Post-Scriptum: Há uns tempos, descobri que este regresso da Formula 1 a Portugal marcou a mente de uma menina, que fazia (e faz) anos neste dia. Ela diz que foi aí que começou a sua relação de amor pela categoria. Assim sendo, como este é o seu aniversário, e não posso estar fisicamente com ela, este é o meu humilde presente. É a Rocio, a garota que tem o blog "Cafe com Serena". Muitos Parabéns!

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