domingo, 12 de janeiro de 2020

A imagem do dia

O "Speedy" foi-se. E quando se vai alguém que admiramos, ao volante de qualquer coisa que gostamos, de modo repentino, fica o vazio, depois do choque inicial. Nunca ganhou o Dakar, mas foi o que esteve mais perto, ao ser segundo classificado em 2015. E do que fez das vitórias nas etapas, e das quedas aparatosas que o levou para o hospital, merecia ter subido ao lugar mais alto do pódio.

O Dakar é aquilo que um dia disse Thierry Sabine (outro das vitimas deste rali, a propósito...): um desafio para os que partem, um sonho para os que ficam. Mas o desafio não é vencer no rali mais dificil do mundo. Chegar ao fim sem um osso partido, sem um carro totalmente desfeito, ter sangue frio para saltar uma duna ou um monte a 180 km/hora, sem se perder no rastro no GPS, sem pensar que uma queda a 150 km/hora poderá ser a última. Ou sobreviver a um rali num dia onde estão 45 graus ao sol e o corpo pode entrar em colapso por causa de uma hiprtermia ou de uma forte desidratação.

O pessoal anda hoje a lembrar onde estavam quando quinze anos antes, o italiano Fabrizio Meoni teve a sua queda mortal. O Dakar ainda era em África, e as pessoas entraram em choque, não só por causa do que aconteceu, mas também por causa do seu carisma (o video dele a amaldiçoar o GPS é imortal...) e de sempre lutar pela vitória. Falar do seu acidente mortal depois de falar dos seus feitos em etapas anteriores, é claro que é um baque. Ainda mais quando é um dos "nossos".

Este ano, o "Speedy" tinha estado nas bocas do mundo por causa de uma avaria que tinha tido na terceira etapa, onde esperou seis horas por um motor novo, depois do anterior se quer quebrado. Não baixou os braços, e quando voltou ao rali, andava sempre entre o "top ten" nas etapas, mesmo irremediavelmente atrasado na geral. Sabia dar o exemplo dos que não desistem. Só se partisse algo no seu corpo é que saia. E era se doía muito...

Mas hoje foi-se. Nunca estamos preparados, e o pior é quando acontece a um dos nossos. E esta dor é de alma, porque foi por causa dessa atitude de "nunca desistir" que ficou na memória de muitos. E o choro compulsivo do Matthias Walkner, no final desta etapa, diz tudo para todos nós. Não precisamos de dizer mais nada. 

Agora, fica a lenda, que o Dakar já o tinha chamado há algum tempo. Ars lunga, vita brevis, Speedy.

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