segunda-feira, 15 de março de 2021

Perspetivas para o futuro


A Formula 1 está em testes no Bahrein e depois de acabarem de dar as suas voltas no circuito de Shakir, estarão por lá para se prepararem para o dia 28, altura em que começa a nova temporada. Alguns pilotos e membros de equipa decidiram aproveitar para apanhar a vacina para a CoVid-19 - a nação do Golfo ofereceu as vacinas de graça para a FIA, no qual a entidade suprema do automobilismo declinou a oferta, mas não impede que outros façam de forma individual - mas uma das conversas mais interessantes destes dias tem a ver com os regulamentos futuros, o teto salarial e a possibilidade de a Liberty Media deixar cair os 200 milhões de caução para receber novas equipas de Formula 1.

Neste momento, há dez equipas no pelotão, mas ainda há a capacidade de mais duas ou três vagas. Contudo, com as equipas a gastarem pelo menos 150 milhões de euros para se manterem à tona de água, qualquer novo projeto teria de gastar mais do que isso para ter sucesso. E com os 200 milhões que a equipa gastaria no primeiro ano só de caução, quase ninguém arrisca essa parte. Mas agora que há teto orçamental, combinado entre as equipas, e com o novo dono da Formula 1, Stefano Domenicalli a dizer que, sem certas circunstâncias, essa caução pode ser dispensada - leia-se, uma construtora entrar para chassis e motor -  começa-se a pensar na ideia de novos projetos no horizonte. E melhor: em 2025 haverá novo tipo de motores, e isso em conjunto com outro tipo de chassis e pneus, por exemplo, com custos controlados, a ideia de um construtor novo poderá ser tentador, porque a Formula 1 estaria mais à mão que a Formula E e a Endurance, que neste momento têm imensos construtores e poderá haver uma frustração, se não vencerem "de caras", como eles gostam muito de fazer.  

Então, por estes dias de testes no Bahrein, o Joe Saward falou um pouco sobre essa chance, de que existe gente capaz de preencher as vagas existentes, que são duas. Não em 2022 e se calhar, nem em 2023, mas ele fala "que há pelo menos duas operações mega-orçamentárias (não-fabricantes) que querem-se envolver rapidamente. Não tenho certeza se eles querem pagar os 200 milhões que deveriam ser o dinheiro que eles têm que pagar para entrar, mas tenho dificuldade em ver como pagar para [que não] entrem no partido [porque a Formula 1] não é algum tipo de cartel que restringe a entrada - e a querida velha UE está bastante empenhada em acabar com os cartéis."

Quem seria essa gente? Boa pergunta, de difícil resposta.

Há a tal equipa baseada no Mónaco, com apoio da Campos Racing, há a Panthera Team Asia, mas na realidade, mesmo com o custo a cair bastante, não vai ser fácil montar uma equipa, apesar de, por exemplo, a Renault já ter dito que os seus motores estão disponíveis para quaisquer novas equipas que apareçam nos próximas duas ou três temporadas. E claro, todas as excentricidades que possam imaginar, uma delas a famigerada Rich Energy, do qual o seu fundador gaba-se de ter um parceiro milionário que irá comprar - ou construir - uma equipa nova e eles seriam os patrocinadores principais.

Mas temos de pensar a seguinte coisa: Formula 1 é um desporto de centenas de milhões de dólares. Não só para gastar, mas para ganhar, dada a exposição publicitaria de um desporto que atrai dezenas de milhões de espectadores a cada quinze dias, e a ir a cada fez mais lugares. no mundo. E mesmo que haja cortes nos custos, ainda é um desporto caro. Se em 2014, a Caterham gastava 60 milhões de dólares e penava no fundo do pelotão, é para ver que isso não era para qualquer um. E há alternativas mais baratas, como a Formula E e a Endurance, que por estes dias estão a assistir a uma espécie de "corrida aos armamentos" pela quantidade de equipas e construtores que alinharam nessas competições.

E ainda temos de ver outras coisas nesse campo. Sabem que de vez em quando se ouve rumores sobre vendas de esta e aquela equipa, e é mais fácil mudar de mãos do que construir algo de raiz - vide Williams e Racing Point nos últimos tempos - mas para a Liberty Media, é melhor, mais fácil, pegar nas doze vagas e fazer delas "franchisings", como se faz no futebol americano, hóquei no gelo, basebol ou basketball, por exemplo, e dando um determinado valor às equipas vindas das recitas da FOM, e os interessados, sejam construtores ou os ultramilionários, darem o resto, seria algo mais interessante. Claro, desde que haja o tal teto orçamental.

Enfim, as ideias flutuam no ar, mas nos tempos que correm, e com os novos regulamentos, tem de se ver qual será a altura ideal para uma coisa dessas. Esperar para ver, mas não acredito muito em coisas novas. Outras competições poderão ver isso mais rapidamente que na categoria máxima do automobilismo. Pelo menos é essa a minha convicção.   

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