terça-feira, 28 de novembro de 2023

As imagens do dia



Escrevi isto na tarde desta segunda-feira na minha conta no Twitter/X:

"2023 acabou, aí vêm 2024. E quando olhamos para o calendário e vemos que a temporada começa a 2 de março e acaba na segunda semana de dezembro, com 24 corridas pelo meio, perguntamos... valerá a pena, com a chance de termos Max e o seu RB20 a ganhar (quase) tudo?

E se Max voltar a dominar, e contarmos as corridas até conseguir o tetra, com este enorme calendário, o maior da história... que faremos ao resto? Sei que estas coisas dos domínios vão e vem, mas enquanto estamos a meio, só queremos que a viagem acabe."

Eu posso afirmar com autoridade que conheço muito bem a história da Formula 1. Sigo Grandes Prémios há quase 40 anos. E ao contrário de muitos mitos, sempre foi caracterizado por domínios. Ferrari, Mercedes, Cooper, Lotus, Tyrrell, McLaren, Williams... esse "unfair advantage". Campeonatos competitivos, até à última corrida do ano - até à última curva do ano, literalmente! - são muito raros, contamos pelos dedos de uma mão. Mas muitas vezes, quando isso acontece, em vez de celebrar a competitividade, fala-se mais das falhas de um e outro, que não permitiram que o campeonato se resolvesse na primeira oportunidade.  

Mas agora é diferente. Antes tínhamos campeonatos de 12 ou 16 corridas, como era norma na década de 80 do século XX. Em 2024 teremos o campeonato mais longo de sempre, serão 24. Começaremos logo no inicio de março, no Bahrein, e acabaremos na segunda semana de dezembro, em Abu Dhabi. Começamos e acabamos na península arábica, começamos e acabamos com corridas noturnas. E com três corridas americanas, mais o regresso da China, pela primeira ocasião desde 2019. 

E isto começa a ser duro. Os pilotos começaram a queixar-se das viagens constantes, dos milhares de quilómetros dentro e fora de aviões, das poucas horas de sono, do facto da logistica andar sempre no limite, de praticamente não pararem por nada, a não ser que caia o dilúvio universal sobre eles - como aconteceu em Imola, quando as fortes chuvas na região inundaram a pista e impediram a corrida - e a Liberty Media decidir que o espetáculo tem de continuar sempre, em qualquer hora e em qualquer parte. 

E perguntamos: é a todo e qualquer custo? Para quê todo este espectáculo? Provavelmente porque na pista, há sempre o domínio de um. Mas aí, eles não são os culpados: todas as eras da Formula 1 tiveram os seus dominadores. Alberto Ascari, Juan Manuel Fangio, Jack Brabham, Jim Clark, Jackie Stewart, Mário Andretti, Ayrton Senna, Alain Prost, Michael Schumacher, Sebastian Vettel, Lewis Hamilton e agora, Max Verstappen, monopolizaram as vitórias a seu favor. E muitos afirmaram que a competitividade, como conhecíamos, estava morta. Para quê falar de algo que nunca foi a norma? Na realidade, uma temporada competitiva... é a exceção.

Só que o meu problema em relação ao passado é este: as temporadas estão a ficar enormes. São mais oito corridas do que em 1986, por exemplo. E tudo porque querem ir a mais lugares, ter mais espectadores, e no final, conseguirem mais receitas. E se meterem mais, melhor. Mas um dia, o mundo dirá que já chega, que será demais. Que ficarão saturados. E essa altura está a chegar. Mais depressa que julgam.   

E o "ninguém é perfeito"? Nem é original. Há 40 anos, a Porsche dominava a Endurance com o seu 956, e todos andavam com ele, para serem alguém. Hoje em dia, é um dos carros memoráveis da história do automobilismo. Os carros da Red Bull serão memoráveis, é certo, mas temos de dar distância para poder apreciar. E claro, esperar pelo momento em que os carros voltem a ficar competitivos. Estão próximos, mas ainda não estão lá. 

Até lá, temo que 2024 seja uma temporada de domínio. Com recordes que podem ficar bem nos livros, mas do qual os fãs, se calhar, não querem saber.    

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