quinta-feira, 9 de novembro de 2023

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A Time Magazine faz agora o seu século de vida, e ao longo dos seus números, esta revista semanal dedicou algumas capas - muito poucas - ao automobilismo. Aliás, à Formula 1. Estes são alguns exemplos que consegui captar.

A razão para tudo isto? A capa desta semana é dedicada a Max Verstappen, o tricampeão do mundo pela Red Bull. E também, se formos ver a data, calha na semana do GP de Las Vegas, que regressa ao calendário 41 anos depois de ter andado na "pista" do parque de estacionamento do Ceasar's Palace. Mas ao longo do século que passou, Max deverá ser dos raros pilotos que passou pela revista norte-americana. 

A primeira aparição de um piloto nas capas foi o escocês Jim Clark, em 1965. Mas a razão era mais "caseira": o escocês tinha ganho as 500 Milhas de Indianápolis, a bordo do seu Lotus 38, o primeiro carro de motor traseiro a triunfar naquela pista. Aliado ao seu domínio na Formula 1 naquele ano, a caminho do seu segundo título mundial, e a revista achou por bem fazer uma matéria sobre ele e o seu domínio na competição máxima do automobilismo. E o título "o piloto mais rápido sobre rodas", não era dito de forma leviana. Ele era mesmo o mais rápido até então. Contudo, depois dele, passaram-se quase década e meia até a revista se importar com o automobilismo. Até Jackie Stewart não foi referido, apesar de ter estado na capa da Sports Ilustrated, a revista desportiva mais prestigiada nos Estados Unidos. 

E foram títulos dados a outros pilotos à medida que o tempo passava. Michael Schumacher ficou com ele nas duas vezes em que foi capa, em 1994 e 2001, a par de outros como "o melhor", embora nesta caso falasse do seu encontro com a história, algo que aconteceu três anos depois, com o seu sétimo título mundial, quinto pela Ferrari.

Hamilton apareceu 16 anos depois de Schumacher. Acho interessante porque ele e não gente como Sebastian Vettel, quatro títulos seguidos pela Red Bull, que foi ignorado - pelo menos, não encontrei nada dele nas pesquisas por capas da mesma revista. Em 2017, ele já tinha três títulos mundiais e tinha sido derrotado por Nico Rosberg. Se calhar na altura, eles já previam aquilo que aconteceu no futuro: sem adversários de monta, Hamilton iria dominar nas temporadas seguintes, até chegar ao sétimo título, em 2020, igualando Schumacher. 

Quero acreditar que a revista, sendo americana, normalmente se auto-centra, esquecendo o resto do mundo, mesmo se Hamilton seja britânico, por exemplo. E como durante anos ignoraram a Formula 1, raramente apareciam no seu radar. Claro, existiram excepções. Como a capa de 1981. O Ferrari de Gilles Villeneuve está lá, mas a matéria é mais abrangente: falam sobre a Formula 1, a competição. Não este ou aquele piloto. Mas colocar na capa o piloto mais excitante do pelotão, da equipa mais representativa, não é por acaso: é para facilitar a identificação dos leitores para a matéria que aí vem. 

E claro, há um lado triste nestas coisas. É a velha máxima do jornalismo: "good news is no news". O jornalismo positivo não se vende. Quando 200 a 300 milhões de pessoas assistem a uma morte em direto, nem mesmo a revista mais conhecida do mundo pode ficar indiferente. Colocar Ayrton Senna na capa da sua revista não foi por causa dos seus títulos mundiais, das suas polémicas com Alain Prost, ou as suas vitórias no Mónaco, que lhe deram um recorde que ainda se mantêm, 30 anos depois. Foi por causa do seu acidente mortal. E o impacto foi tal que deixou um genocídio de fora. Já imaginaram isso?  

Portanto, se querem saber porque a Time meteu o quinto - ou sexto piloto - na sua capa em um século, agradeçam a coisas como a Liberty Media ou o Drive to Survive. E claro, a grande máquina que é a Red Bull RB19.          

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