quinta-feira, 1 de agosto de 2024

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Há 25 anos, em Hockenheim, a Ferrari fez uma dobradinha, com Eddie Irvine como vencedor. Mas na realidade, quem deveria ter ganho era outro. E ele não subiu ao lugar mais alto do pódio porque... era um substituto. E porque não era Michael Schumacher

Mika Salo não queria acreditar na sua sorte quando via em casa o GP da Grã-Bretanha, em Silverstone. Na primeira volta da corrida, as bandeiras vermelhas foram mostradas por causa dos carros parados na grelha, nomeadamente o Williams de Alex Zanardi e o BAR de Jacques Villeneuve, e os carros a abrandarem na Hangar Straight... menos um. O Ferrari de Michael Schumacher. Quando tentou sair do carro e descobriu que não podia, por ter fraturado a perna direita, sabia que poderia ser chamado. Era uma questão de tempo.

E para Mika, o outro Mika, poderia ser a chance da sua carreira. Que quase 10 anos antes, parecia ter ido para o torto.

Em 1990, a Formula 3 britânica era um duelo de finlandeses. Ainda por cima, partilhavam o mesmo nome: Mika Salo contra Mika Hakkinen. Salo era o mais velho, nascera em 1966, e corrida pela Alan Docking Racing contra Hakkinen, dois anos mais novo e a correr pela West Surrey Racing. No final, ganhou Hakkinen, que tinha o apoio da Marlboro, e duelou contra Schumacher em Macau, acabando com ambos a colidirem na penúltima volta da corrida, favorecendo o alemão. 

Contudo, Salo até ia lançado para uma chance na Formula 1. Falava-se que Ken Tyrrell queria dar-lhe um teste num Formula 1, mas uma noite, em Londres, a policia parou-o numa operação "stop" e ele tinha bebido para além da conta. Levou uma multa, uma suspensão por algum tempo, inibindo-o de conduzir, mas isso fechou-lhe as portas da categoria máxima do automobilismo. Decidiu "exilar-se" para o Japão, onde andou com um grupo de estrangeiros que abrilhantavam a Formula 3000 local, com gente como Mauro Martini, Eddie Irvine, Heinz-Harald Frentzen, Jeff Krosnoff, Ross Cheever e Roland Ratzenberger, entre outros. 

Então, um dia de outubro de 1994, recebeu um telefonema. Faltavam seis dias para o GP do Japão de Formula 1 e do outro lado da linha, um homem ansioso perguntava: "É capaz de guiar um Formula 1 sem testar?" Era a Lotus, que precisava desesperadamente de um piloto para o seu carro. A mítica Lotus, no seu estertor final, pedia um piloto para o GP do Japão. A troco de meio milhão de dólares, Salo aceitou e afirmou que "nas noites seguintes, estava deitado na cama, a sorrir, feliz da vida.

No final, acabou na décima posição, suficiente para correr na Austrália. No ano seguinte, foi para a Tyrrell, onde ficou por três temporadas e conseguiu 12 pontos, dois deles no Mónaco, à chuva e... sem reabastecer! Foi a última vez que isso aconteceu na competição, até ao final dos reabastecimentos, em 2010. Depois de uma temporada na Arrows, em 1998, ficou de fora em 1999, sendo piloto de testes da BAR.

Ali, teve uma chance de correr em três Grandes Prémios, depois do acidente de Ricardo Zonta, no Brasil, onde ele fraturou uma das pernas. O sétimo lugar no GP de San Marino, em Imola foi... ironicamente, o melhor classificação que a equipa teve nessa temporada. E estava assim em julho, à espera de uma oportunidade quando... ela aconteceu. E não ficaria admirado se não teve a mão de Irvine, seu amigo no Japão.

A estreia foi na Áustria e foi... atribulada. Apesar do sétimo lugar na grelha, um incidente no inicio da corrida o atirou para o nono posto, fora dos pontos. Na segunda corrida, em Hockenheim, as coisas saíram melhor. Beeeem melhor. Ali, Salo foi o quarto da grelha, na frente de Irvine, mas atrás dos McLaren e do Jordan de Frentzen, um dos que correu no Japão. O poleman era Hakkinen. E a chance de repetir os duelos de 1990, nos circuitos britânicos, era bem real.

Hakkinen partiu na frente, mas Salo pulou para segundo, e partiu para o ataque. As coisas foram assim até que na volta 24, um furo a alta velocidade na reta oposta, ao pé do Stadium, fez despistar o McLaren, sem tocar nos ralis de proteção. Um acidente espetacular que fez cair a liderança no colo de Salo, pela primeira vez na sua carreira. 

Mas a ilusão durou pouco. A Ferrari queria que Irvine ganhasse, e apesar de ter ido para as boxes reabastecer, na parte final, estava a ir mais rápido que o irlandês, e tiveram de ordenar para que abrandasse o ritmo e ficasse atrás dele. Acabaram com um segundo de diferença entre os dois, e no final, como gesto de gratidão, Irvine deu o troféu de vencedor a Salo. Mesmo ele sabia que deveria ter ido ao lugar mais alto do pódio naquela tarde.          

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