"Quando vi o que aconteceu, o meu coração apertou-se. Não só por ele, mas também pelos pais, por tudo o que fizeram para trabalhar arduamente para chegar a este ponto, e é como se nos fosse arrancado. Senti-me péssimo por ele. Por isso pensei ’sabes que mais, tenho de ir dizer a este miúdo para manter a cabeça erguida, andar de cabeça erguida, vais voltar’. Acho que ele é um piloto fenomenal. Penso que Isack tem mais para dar do que provavelmente vimos este fim de semana.", Anthony Hamilton, Sky Sports, Melbourne, 16 de março de 2025.
Trago aqui duas reações diferentes à mesma situação: na volta de aquecimento, o francês Isack Hadjar, da Racing Bulls, exagerou no acelerador e bateu com o carro na parede, danificando a asa traseira. Envergonhado, foi para as boxes, com a cara escondida dentro do seu capacete, porque estava a chorar. E tudo isso na sua corrida de estreia, caindo no erro habitual de um "rookie", que ansioso por não fazer asneira no dia que tanto sonhou desde a sua infância... acabou por fazer.
Mas ao menos até tem desculpa: o seu compatriota Alain Prost fez a mesma coisa na volta de aquecimento do GP de San Marino de 1991, quando corria na Ferrari e tinha três títulos mundiais no bolso.
A atitude de Hamilton pai é isso mesmo: um pai que protege o filho dos erros que cometeu. Foi uma figura paternal. Sabendo do que sofreu para fazer do seu filho aquilo que é hoje, e aproveitando que queria assistir à estreia do seu filho pela Ferrari, viu o sucedido e fez um gesto humano. E se calhar, Hadjar, que não deveria ter ali os seus pais, deve ter visto ali algo que deverá ter valido a pena, naquele momento infernal que viu. Afinal, o pai de um piloto sete vezes campeão do mundo, de forma desinteressada? É de louvar.
Quanto ao velho Marko... não estou admirado. É um velho austríaco (tem 82 anos) que aposto que nunca foi mimado na infância.
Quem o conhece há mais de 20 anos da sua carreira, sabe o que fez a todos aqueles pilotos que viram nele o seu caminho para o sonho. Conhecemos os seus nomes. Alguém até me lembrou dos traumas que o Jaime Alguersuari passou por causa do Marko: terapia mental porque, aparentemente, tinha pesadelos por causa dele. Não admira que tenha perdido a sua alegria no automobilismo e o tenha abandonado pouco tempo depois de ter saído da Red Bull.
É por isso que quando vejo os pilotos que andam ali na Junior Team, penso sempre na estória de Fausto, de Goethe: pela glória, assinaram um pacto com o Demónio. As consequências são terríveis. Moídos mentalmente, são usados, cuspidos e deitados fora, como não se fossem ninguém. Do mar de "cadáveres" automobilísticos, só dois venceram: Sebastian Vettel e Max Verstappen. E agora, sem Adrian Newey, e a decadência que aí vêm, serão ainda mais pressionados, mais triturados, mais encurralados. E serão levados até ao limite, numa tortura psicológica do qual não haverá salvação.
Confesso a minha admiração como Vettel continuou a ser humano, depois de todos aqueles anos na Red Bull. O Max, já sabem.
Há uns dias, no meio do "shitshow" que está a tornar-se a América, ouvi uma frase vinda de Elon Musk, onde falou que a empatia se tornou num defeito. Mas que falar de desumanização, em tempos que desejam ser perigosos - o que é verdade - mostra outra coisa. Mais que educação ou carater, há gente que deverá ter, à vista de todos nós, uma espécie de psicopatia. Não somos autómatos, porque se fossemos, não nasceríamos, viveríamos ou morreríamos, como acontece a nós, humanos.
Conclusão: agora estamos a consciencializar-nos que a empatia é um direito humano. Do qual está em perigo, e do qual temos de nos defender com unhas e dentes. Sem empatia, os psicopatas abrem as portas do inferno. E dar gestos de empatia, mais que humanidade, começa a ser um ato de resistência.
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