quarta-feira, 24 de novembro de 2010

As hordas barbaras

"Na minha página do Facebook muita gente me acusa de ter bloqueado [Fernando] Alonso. Não é verdade, não fiz nada de mau, foi a Ferrari que cometeu um erro tático. Mantive Alonso à distância durante 39 voltas, e ninguém me disse pelo rádio que eu estava dando o título a Sebastian. [Vettel]"

"Ele estava completamente abatido, mas isso não justifica a sua atitude. Simplesmente fui mais rápido do que ele."

Vitaliy Petrov, hoje, numa entrevista ao jornal alemão Bild.

A queixa que o russo Vitaly Petrov faz hoje na imprensa não é nova para mim, pessoalmente. Quando o "rookie" russo diz que ele foi ameaçado nas redes sociais pelos fanáticos alonsistas, para mim, mais do que uma surpresa, é mais um capitulo de uma novela escrita desde que o piloto das Asturias se tornou em piloto vencedor e campeão do mundo.

Aliás, quem acompanha a Formula 1 desde o inicio da sua carreira, sabe que isto não é novo e não ira acabar tão cedo. Recordo-vos os episódios com Lewis Hamilton que roçaram o racista, em 2007 e 2008, ou então no inicio do ano, quando estes invadiram os fóruns italianos, pedindo a cabeça de Stefano Domenicalli e de Felipe Massa, só porque este não pediu ao brasileiro que o deixasse passar em Melbourne, a segunda prova do campeonato de 2010, ou seja, antes da polémica manobra na Alemanha. Coisa que, como todos sabem, não foi criticada pelos fãs do piloto das Astúrias...

A Formula 1 é um desporto elitista e marginal, é certo. Em poucos países é considerado como um rival do futebol. Brasil, Grã-Bretanha, Alemanha, Itália e Espanha e pouco mais, confesso. Mas num país como a Espanha, vizinha de Portugal, a coisa está a ser levada ao extremo, como se fosse um clube de futebol e "sus peñas". E os que se dão ao trabalho de criticar Fernando Alonso, ou seja, os que sabem ter cabeça fria e decifrar os seus defeitos - que os tem, como toda a gente - são pesadamente criticados por uma "horda de bárbaros" que não sabem dizer outra coisa que ele é o maior do mundo, um semideus ou pior.

Quando esses bárbaros ganharem um cérebro na Noite de Reis (ao contrário de nós, recebem os presentes de Natal a 6 de Janeiro), verão que se quiserem culpar alguém, deveriam apontar o dedo a Stefano Domenicalli, por ter feito a estratégia errada de colocar o carro de Alonso demasiado cedo nas boxes. E também deveriam saber que nem toda a gente é como Felipe Massa, que deixou passar. A Formula 1 não é - e nunca será - uma passadeira vermelha para que o seu piloto passeie a sua classe, e ali é "passe se puder". Como Alonso nunca esteve em posição de conseguir ultrapassar Petrov, o gesto que teve no final da corrida é típico de um mau perdedor.

Aliás, se passasse Petrov, ainda teria pela frente um obstáculo chamado Nico Rosberg. Se não o passasse, teria feito o mesmo gesto feio? É que ele não o deixaria passar de jeito nenhum...

Eu escrevo regularmente uma coluna no sitio espanhol Zeptem, e sei que sou o único estrangeiro a escrever por lá (o único que não tem o espanhol como língua materna, entenda-se), e por vezes tenho a "ousadia" de "falar mal" do "Principe das Asturias", devidamente fundamentado, diga-se. O normal é ser atacado por anónimos sem rosto (e sem cérebro) que só sabem gritar, apontando que não sei escrever em espanhol, o que é curioso: sei escrever espanhol e até me dou o trabalho de corrigir o que o Google Translator consegue fazer, pois sei que ele tem muitos limites.

Onde quero chegar? Estes fanáticos não fazem outra coisa senão envenenar a discussão. De uma certa maneira, não gramo destes tipos, pois fazem muito barulho para nada, mas o pior é que esse barulho atraem muitos jornalistas de plantão que numa era sem muito com que falar senão das especulações de "x vai para a equipa y", coloca isto como o "destaque do dia". E colocar esta horda de bárbaros na primeira página, para mim, é como dar ainda mais gasolina para fogueira.

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